
Desde 1900 e alguma coisinha que os Estúdios Disney pegam fábulas e contos conhecidos, transformam em desenho animado, e se necessário alteram muitos pontos para agradar a plateia. Mesmo se essas mudanças foram de encontro à mensagem original.
Silly Symphonys foi uma série de animações curtas, produzidas entre os anos 30 e final dos 40 como forma de aprimorar a técnica. De lá pra cá, a maioria desses filmetes teve infinitas reprises na televisão.
O Gafanhoto e As Formigas (The Grasshopper and the Ants, 1934) era o meu favorito. Só fui entender que algo está fora dos eixos revendo agora adulto.

Começa com o simpático gafanhoto cantando e tocando uma musiqueta sobre o quão feliz é, tendo tudo de que precisa disponível. A voz dele (tanto em inglês quanto em português) é a mesma do Pateta.

Em contrapartida, vemos um grupo de formiguinhas dando duro no trabalho. Recolhendo toda sorte de alimento.
Repare que os bichinhos são caricaturas raciais. Bastante semelhante à imagem de Al Johnson pintado de negro em O Cantor de Jazz (Jazz Singer, 1927).
De alguma forma, esse tipo de representação étnica deveria ter certa graça na época. Veríamos formigas novamente da mesma forma em futuras animações.

A rainha formiga flagrará o gafanhoto levando pro lado da fuzarca um dos seus soldadinhos. E claro, passará o maior sabão!
Ao ser contrariada pelo saltitante opositor, decretará que quando o inverno chegar, ele mudará de opinião.

E batata! Vem o inverno e o gafanhoto está ferrado. Azul de frio e fome acaba indo à porta das formigas.
O historiador Leonard Maltin comenta o ineditismo de representar o extremo de fome e frio com a cor azul. Hoje é comum se falar “Estou azul de fome!”.

Enquanto isso, as formiguinhas estão se esbaldando numa verdadeira orgia gastronômica!!!

Benza-Deus que há entre elas coraçõezinhos cristãos! Regatam o gafanhoto e lhes dão sopinha e escalda pés.

A rainha ao identificar o penetra fica PASSADA!!! Levanta seu bumbum real do trono só pra ir falar o clássico “Eu avisei!Eu avisei!”.

“Entre as formigas ninguém come sem trabalhar... Pegue seu violino e...” Não dá pra esperar um final trágico em desenho Disney! “Toque pra gente!”.

E ponto! O gafanhoto fica feliz da vida animando a galerinha dos comes e bebes. E fim!
Vamos lá! Desde quando alguém que se dedica à música é vagabundo? Porque a tal rainha não o contratou antes, para tocar enquanto seus súditos arrumavam comida?
E é evidente que vagabunda mesmo é sua majestade, que nem instrumento toca. Enquanto as coitadas ralam forte, ela anda carregada pra cá e pra lá sem fazer nada, na mais pura mamata.
Mais! Do jeito que foi mostrado, correto estava o gafanhoto. Levou o verão na maciota e sobreviveu ao inverno, do mesmo jeito que as formigas que se estreparam.