Eliana Macedo e Adelaide Chiozzo: do beijinho doce ao buraquinho do sabiá

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Das duplas que o cinema consagrou, a feita por Eliana Macedo e Adelaide Chiozzo é a mais brejeira e também a menos lembrada, mesmo tendo sido multimídia bem antes dessa palavra ser inventada. Elas se juntaram em Carnaval de Fogo (1949), mas a química explodiria em Aviso Aos Navegantes (1950, ambos de Watson Macedo).

Nesta produção da Atlântida o filme dividiram a tela com outra dupla memorável do cinema brasileiro: Oscarito e Grande Otelo. Ainda assim, ficou evidente que a parceria delas funcionou como poucas.

Eliana era sobrinha do diretor Watson Macedo e se firmava como atriz. Cantar e dançar nos números musicais em produções da Atlântida era um caminho inevitável e talvez sem o apoio de Chiozzo, a nossa Jane Russell não tivesse sido feliz logo de cara.
Entre os números de Aviso Aos Navegantes estava Beijinho Doce, canção que havia ficado muito popular cinco anos antes, na voz das Irmãs Castro. Segundo o pesquisador Hernani Heffner, o público do cinema ia a loucura, até pedindo pro projecionista voltar a fita e passar de novo.

Voltariam a trabalhar juntas logo no ano seguinte em Aí Vem O Barão (1951, também de Walter Macedo). Mas a fama se estenderia para os palcos de norte a sul do país, quando saíram excursionando após Adelaide dar algumas dicas para Eliana fazer a primeira voz.

Foi exatamente aí que Eliana conheceu seu marido, o radialista Renato Murci, da Radio Nacional. Murci entrou em contato com Adelaide (contratada da importante rádio) para ela fazer parte da caravana dele e pediu para estender o convite à moça que fez dupla em Aviso Aos Navegantes.

Os pais de Eliana só a deixaram viajar se a mãe ou algum familiar da Adelaide fosse junto e assim foi! O violonista da caravana foi Carlos Mattos, um novato que havia se apresentado no programa de Murci.

A caravana deve ter sido bem boa! Eliana causou buchicho ao se casar com Renato Murci, 27 anos mais velho e Adelaide com Carlos Mattos, uniões que foram até que a morte os separasse!

Não há história de rivalidade entre elas. “A Eliana pra mim foi uma irmã de coração, até hoje a mais bela estrela que apareceu no cinema nacional”, disse Chiozzo décadas depois relembrando que tralhavam juntas e voltavam pra casa fazendo companhia uma a outra no transporte público.

Estranhamente, poucos discos da dupla sobreviveu a estes tempos de internet. Existem alguns 78rpm à venda no Mercado Livre daquela época mesmo, parece que não houveram relançamentos ou digitalização para o CD.

Todo o estilo de fazer cinema popular que a Atlântida fazia, chamado de Chanchada rui com a chegada do Cinema Novo nos anos 60. Seu star system aos moldes hollywoodiano ruiu junto levando nomes como Eliana Macedo e Adelaide Chirozzo e tantos outros ao ostracismo.

A dupla retornaria a se encontrar em grande estilo em novela Feijão Maravilha, novela escrita por Bráulio Pedroso produzida pela TV Globo em 1979. Com direito a número musical, mas agora em ritmo de discoteque.

Feijão Maravilha resgatou muitos atores e plots típicos da Atlântida. Foi através de uma reprise no Vale A Pena Ver de Novo que tive o primeiro contato com o cinema brasileiro dos anos 50 e claro, nas novelas do Silvio de Abreu.

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