Estrela máxima das chanchadas da Atlântida, Eliana ditava moda entre as mocinhas dos anos 50. Silvio de Abreu conta sobre ela em sua biografia “Um Homem de Sorte”, de Vilmar Ledesma, uma das passagens mais tristes do livro.
Quando Abreu escreveu a antologia Assim Era A Atlântida é claro que ela não poderia ficar de fora. Além de Eliana ser seu ídolo de infância, como bom chanchadeiro que todos nós o conhecemos.
Ao ir conhecê-la para marcar a filmagem da entrevista, foi recebido no modesto apartamento em Copacabana, dividido pela atriz e o marido Renato Murce já idoso e com dificuldade para respirar.
Ficou empolgadíssima por ser lembrada, cantou e dançou ali na sala mesmo velhas marchinhas que tinha gravado. Só que o autor reparou que ela falava com a mão na frente da boca, acanhada por estar sem os dentes!
Quando finalmente foram filmar sua participação nos Arcos da Lapa, referência em tantos filmes que ela estrelou, viram logo que não daria para aproveitar o depoimento. Em comum acordo com o diretor Carlos Manga, decidiram que não era possível expor uma querida atriz daquele jeito.
Junto ao produtor conseguiram tratamento dentário, depois clínica para emagrecimento e alugaram por algumas horas uma linda casa com piscina para servir de locação. Tudo para que Eliana aparecesse como a grande estrela que era.
Como a indústria cultural brasileira ainda engatinha, vivendo apenas do que é feito no momento, ou de material do estrangeiro, histórias assim ainda devem acontecer aos montes. Todo o respeito e gratidão do mundo às pessoas que em algum momento nos divertiram com seu trabalho.
[Ouvindo: Love is Just Around the Corner – Frank Sinatra]
Ops! Bela abordagem, Miguel.
ResponderExcluirA gente come, mastiga e joga fora.
letícia, pois é. Depois ainda saímos tirando sarro...
ResponderExcluirSomos símios.
ResponderExcluirletícia, nem falo muito pra não me xingarem de desesperançoso. mas tá difícil botar fé nesse país.
ResponderExcluirtadinha da Eliana,eu vi esse filme,e achava que a casa dela era aquela mesmo,ela sempre teve cara de rica,patricinha...no final das contas vai ver que a Zeze Macedo levou a melhor...Feiura as vezes até ajuda
ResponderExcluirDavi, também achava. O Silvio de Abreu fala no livro que ela sempre fazia papel de suburbana.
ResponderExcluirE quando ela casou causou maior tititi pela diferença de idade. pelo jeito ficaram juntos até a morte dele..
Miguel, discordo do Silvio, os papéis dela não eram exatamente de suburbanas, na verdade, eram até ecléticos, mas sempre a mocinha da história. Em Maria 38 ela até fez uma vigarista da Lapa que ajuda sequestrar uma criança, mas no final, se arrepende por que no fundo tinha um bom coração.
ResponderExcluirTriste mesmo essa história que você apresentou no seu post, ela foi estrela máxima da Atlântida, era bonita e talentosa, mas não acompanhou a transição para o Cinema Novo (realmente não tinha esse perfil) e nem para a TV.
Glauco, não posso nem argumentar! Só conheço mais o trabalho dela na Vera Cruz.
ResponderExcluirNa TV ela meio que foi resgatada em Feijão Maravilha. Mas não passou disso...
Sim, Feijão resgatou a galera das chanchadas e ela, como estrela maior, não podia faltar. O Retiro dos Artistas aqui no Rio é cheio de histórias parecidas, acho que hoje é mais fácil ganhar e juntar dinheiro, por muito menos, tem gente que vive numa boa.
ResponderExcluirGlauco, mas o problema nosso é que não há cultivo de estrelas. Americanos são espertos em ganhar dinheiro até com material antigo.
ResponderExcluirPreservam a cultura do clássico, da coleção. Aqui é nada vezes nada. Passou tá passado.
Gretchen, por exemplo, poderia viver como ícone cult das coisas que fez. precisa continuar matando um leão por dia de qualquer forma.
Só uma correção: ela nunca trabalhou na Vera Cruz... seu território sempre foram os estúdios cariocas, em especial a Atlântida.
ResponderExcluirE por falar em Vera Cruz, e no desprezo com que o Brasil trata as suas estrelas, quando a Globo promoveu um concurso (no fim dos anos 90) para eleger a "Mais bela brasileira do século (XX)", a eleita foi a belezinha do momento Maria Fernanda Cândido, em detrimento de mulheres como Tônia Carrero e Maria Della Costa...
Emendes, lembro desta tristeza de concurso.
ResponderExcluirAh, morro de confundir ela com a Eliane Lage. Sorry! rs
Amo os filmes com Eliana Macedo,apesar de não acha-la uma boa atriz, ganhava pelo carisma!!!O Brasil infelizmente não dá valor ao antigo, só ao agora. As pesssoas são descartadas, até mesmo Carmem Miranda, não há nada digno dela, nem seu museu, abandonado. Sonia Braga tb, se não fosse Pintaguy dá uma recalchutada nela,ela estaria em estado deplorável, ela mesmo disse que não vem ao Brasil fazer novelas pq não a chamam, então tem que se contentar em fazer pontas em Hollywood. Bem fez Florinda Bolkan que foi pra Itália e nem disse até logo!!
ResponderExcluirP.S. : Bem lembrado o nome Eliane Lage,adorável!
Lila, verdade, bem fez a Bolkan e a Bengell de certa forma tentou. Outro caso triste!
ResponderExcluiradoro esse filme! tenho cd da eliana e tudo!!! eu no meu ex-blog tentava fazer isso preservar essas pessoas. bjs
ResponderExcluirAi que tristeza. :/
ResponderExcluirDepois tem fã reclamando que algumas atrizes clássicas não foram devidamente homenageadas, tipo a Rita Hayworth. Isso sim é ser esquecida. É vergonhoso, eu sei, mas conheço pouquíssimo sobre chanchadas. Você sabe onde tem alguns downloads, Miguel? Ficarei muito agradecida.
Pink, eu sei! Eu sei!
ResponderExcluirCI., são raras. E os DVDs pra comprar também. Custando uma pequena fortuna.
Hayworth também teve seu inferno, mas por problemas de saúde. É diferente.
Miguel, to dizendo que se miss hayworth não foi devidamente homenageada, ainda é lembrada e querida por muitos fãs. Já Eliana e outras atrizes nacionais não são muito lembradas por fãs de cinema clássico, quem dirá homenagiadas né.
ResponderExcluirSobre as chanchadas, pra minha felicidade encontrei Aviso aos navegantes! Vou tentar encontrar o documentário sobre a Atlântida também, ten uns trechos dos filmes né? Acho que vai ser bom pra eu conhecer mais. Obrigada de todo modo :)
CI., verdade! Boa parte nem deve saber quem é ou tem interesse em conhecer.
ResponderExcluirEsse documentário é legal. Com depoimentos e trechos. Direção e apresentação do Carlos Manga.
Pode ser um pouco totlitário da minha parte mas eu acho que o governo devia comprar todos esses acervos particulares que ficam na mão de leigo por motivos como "eu sou a bisneta dela" ou porque tem "valor sentimental", imagine você que esses filmes faziam rios de dinheiro! e ninguém se deu ao trabalho de cuidar disso.
ResponderExcluirDiogo, mas a situação hoje é diferente a quando a biografia do Silvio de Abreu foi escrita. Foram lançados em DVD, preservados digitalmente.
ResponderExcluirEle comenta bastante do descaso que estes negativos estavam quando foi fazer a pesquisa para Assim Era A Atlântica.
O que precisavam existir no Brasil era educação, sentido história e principalmente a formação de cidadãos de verdade. Não esses tolinhos que andam por aí ao sabor do vento de terceiros.
Assim, não seria preciso inclusive nos preocuparmos com conservação de cultura já que ela ainda teria valor comercial razoável. Como é lá fora...
Diogo, concordo plenamete com você. Guarda de família = ganância, mofo e destruição.
ResponderExcluirVide Ruth Escobar, que está com Alzheimer e à mercê dos que a rodeiam, especialmente um curador que está deixando apodrecer tudo dela numa casa (tb. dela) na Bela Vista.
Letícia, há uma confusão entre guarda de família e direitos de exibição. Acho que familiares têm mesmo que lucrar com o trabalho dos entes finados.
ResponderExcluirConservação é outra coisa. Devia mesmo, embora pode acontecer como aqueles filmes restaurados com grana pública (NOSSA) e revendidos a preço de ouro em DVD. Lembra?
Miguel, direitos são indiscutíveis até certo ponto.
ResponderExcluirOs descendentes têm de receber, sim. Daí a prender a coisa pra tentar lucrar mais, não dá.
Por exemplo, devia haver uma tabela por uso.
Não autorização ou veto absoluto na mão dos familiares. Daí devia ir pro juiz. Estando a obra em conformidade e preservando a memória da pessoa, por que não?
Cê vê, daí, nomes importantíssimos que ninguém mais sabe, ninguém mais viu. Porque os familiares não deixam, por causa de acertos não feitos. Querem enriquecer à custa do morto.
Letícia, entendo, mas também temo pela pilantragem aos montes.
ResponderExcluirE o problema prático do jeito que é hoje bate na grana. O material tinha que dar lucro comercial para que houvessem interesse até da iniciativa privada em conservar.
Há aqueles incentivos ficais coisa e tal, mas cultura é pra circular. Só não pode circular por fórceps entre um povo cada vez mais medíocre que não tá nem aí pra ela.
Também tem esse lado. Mas aí ficaria como as contas de saúde: a fundo perdido.
ResponderExcluirLetícia, verdade!
ResponderExcluirPenso que tudo dos EUA em termos de cultura é conservadão pq eles comercializam ainda. Restauram e vendem no planeta todo.
Sim, tem o lance do valor cultural. Se tem valor cultural, se mantém.
ResponderExcluirAqui nada tem valor cultural, a não ser que o cara consiga resolver sua vidinha com aquilo. Aqui ninguém pensa refinado, só no grosso.
na tv justiça ( é, eu assisto) passa um programa às sextas e aos domingos, cinemateca brasileira, onde só dá filme da Atlântida e muito do trio Oscarito-Grande Otelo-Eliana ( Cyll Farney e Anselmo Duarte onipresentes como galãs)e dá pra ver pq são tão pouco valorizados. São tentativas patéticas de recriar a Hollywood dourada com pouco dinheiro e raros talentos ( Grande Otelo subaproveitado em favor de um Oscarito over pro meu gosto).Constrange Eliana canastrona, desafinada e sem ritmo, já trintona e acima do peso fazendo "musicais". Triste ver. Roteiros sem pé nem cabeça, cantores populares aparecendo do nada rodeados de bailarinos sem sincronia. Tosco, pra dizer o mínimo. Os tres patetas ficam parecendo cult perto daquilo.Só sobreviveu quem teve uma dessas 3 coisas (ou as 3 juntas): sorte, talento e amigos influentes. A eliana não tinha nenhum dos tres, a não ser no início qdo o marido era um radialista mais bem relacionado.
ResponderExcluirLetícia, valor cultural que consecutivamente gera o comercial. Aqui não se educa ninguém para olhar além do óbvio.
ResponderExcluirO óbvio é o que dialoga diretamente com o hoje. E assim se faz a coisa do jeitão que está.
Favi, discordo. Cinema popular do mundo todo segue um padrão, não por acaso o hollywoodiano até como forma competitiva.
Podem ser datados, mas eram sucesso de público. Povão como este que hoje paga pra ver produtos televisivos nas salas do cinema com muito menos qualidade engenho artísticos, mas mais técnico.
Olha só! Antes a Atlântida (e até Vera Cruz ou Maristela) tentavam trilhar o caminho de Hollywood, hoje tentam imitar as surradas novelas.
Os que querem ser artísticos teimam AINDA na enfadonha sina do Cinema Novo. Preguiça de após o anos 2000 muitos acharem fresco câmera tremida, pessoas feias e desconhecidas tentando falar texto com naturalidade numa paisagem agreste ou em favela carioca.
É claro que se a gente assistir com os olhos de hoje apontaremos muitas falhas. E aí está a graça de ver um produto diferente, de uma outra época e tentar sintonia com aquele momento.
Isso faz parte da magia do cinema. Tosco ou não, nos mostra o espírito de quando foi produzido.
Quanto à Eliana, parece que ela já era famosa quando casou com o Renato Murce. Causou falatório pela diferença de idade, mas veja, ficaram longos anos juntos!
Pelo visto, o complexo de vira-lata pegou e está bem instalado por aqui.
ResponderExcluirAnônimo, além da frase Nelson Rodriguiana cliché, não consegui entender sobre o que você se referia.
ResponderExcluirMiguel, belo trabalho!
ResponderExcluirAchei que Eliana Macedo já havia morrido. Foi uma linda atriz, nossa musa dos anos 50/60.
Ao tomar conhecimento da história dessa artista, através de seu artigo, fica para mim, uma vez mais evidente, que a vida traz em si mesma três maldições das quais ninguém escapa: envelhecer, adoecer e morrer. A morte é a grande e última pá de cal lançada sobre os sonhos, projetos e aspirações acalentados, muitas vezes pela vida inteira...
Ver o abandono de uma atriz como esta evoca fortemente a preponderância ilusória da existência humana, o cerrar das cortinas após o último aplauso.
Apesar da inexorabilidade do sofrimento, todas as pessoas deveriam ter pelo menos um pouco mais de conforto físico e psíquico no final dos seus dias! Isto seria possível se houvesse mais solidariedade na maioria dos corações humanos!
Sinto uma tremenda sensação de impotência nesses casos, pela incapacidade de poder dar sustento a quem precisa, principalmente na velhice, que é uma fase da vida em que tudo é muito mais difícil!
Desculpe pelo alongamento do texto mas ele me evocou tanta miséria que poderia ser evitada, se ao menos os que de alguma forma têm poder para conduzir a seguridade social no Brasil fossem mais honestos ao desempenhar suas obrigações...
Obrigado.
Antônio Jaime.
Jaime, ela morreu em 1990!
ResponderExcluirOlha, e tendo em mente estas três maldições que você cita não dá pra entender porquê tanta gente leva a vida como se fosse eterno, superior...
Abraços!
Eu adoro os filmes brasileiros das dec. de 30 a ao princípio de 60 era de ouro quando tinhamos Estúdios cinematográficos como em Hollywood e de 90 para cá quando voltamos a ter bons diretores e atores resultando em ótimos filmes, tenho 43 anos e foi através de Eliana, Oscarito, Grande Otelo e outros que aprendi a apreciar os nossos filmes, principalmente os em preto e branco os quais a sociedade tem tanto preconceito; pois nesta época de consumismo tudo é efêmero, com muitos efeitos especiais e pouco conteúdo (enlatados brasileiros ou estrangeiros).
ResponderExcluirEspero que a nossa memória cultural melhore, especialmente com a internet, para que possamos nos lembrar e nos embasar no talento dos nossos atores, vivos ou mortos.
obrigada Mônica Pianta (monicapianta@ig.com.br)
Mônica, concordo com quase tudo!
ResponderExcluirSempre tivemos um cinema muito bom. Acho o mais fraco justamente este últimos, ou apelando ao estilo TV de ser, ou cheio de ranço de cinema novo pra parecer artístico.
Adorei seu comentário! Abraço.
Miguel,hoje assisti Carnaval Atlântida e chorei quando vi seu post sobre a Eliana. Brasil de merda esse,sem memória,sem gosto,sem graça. Um povo que dá valor ao lixo e esquece seus verdadeiros artistas. Uma pena. Mas o que vale é que Eliana e mais um monte de verdadeiros artistas brasileiros deixaram marcados suas histórias na cena nacional. Tanto que estamos aqui falando sobre um filme de quase sessenta anos atrás e uma estrela que filmou pela última vez em 1963. Tenho dó desses pseudo astros dos dias atuais. Nem para debaixo do tapete serão varridos.
ResponderExcluirGosto muito dos filmes com Eliana Macedo.Não sei se é apenas aqui no Brasil, que as grandes estrelas logo são esquecidas.Em Hollywood, acredito que seja quase igual.Talvez o cinema europeu seja um pouco mais conservador e relembre sempre seus grandes artistas.Histórias parecidas com a da Eliana, já aconteceram muitas e vivem acontecendo.Que pena.
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