Não apenas pela trilha com hits como De repente, Califórnia,
mas porque Calmon foi trabalhar na Globo. Então, a cada lançamento de coisas
como a série Armação Ilimitada (1985) ou novelas como Top Model (1989) e Vamp
(1991) a imprensa não se furtava de relembrar suas origens no “cinema para
jovens”.
Bem, assistir Menino do Rio hoje é uma experiência
dolorosamente longa, mas com muito humor involuntário também. Não dá pra dizer
que o filme envelheceu mal, porque acho que aquilo ali sempre foi “o jovem
idealizado por gente velha”.
Começa por um logo animado todo neon ao som de rápidos
sintetizadores. “Oba, o melhor estilo Xanadu”. Bobagem! Seguem-se longos
minutos de silêncio.
Aí vem outro engano: “Olha, A Malu Mader bem mocinha!”. Na verdade é o músico e ator Ricardo Graça Mello (filho da Marília Pêra) fazendo papel de menor abandonado.
Ele passará as próximas horas (sim, o filme parece que dura umas 8 horas!!!) com um violãozinho te fazendo querer realmente fugir pra Califórnia!
Os pais de Patrícia são riquíssimos sim
senhor! Tomam Balantines 12 anos, discutem a vida amorosa da filha enquanto
olham pro baralho diante de dois figurantes estáticos.
Rico de cinema nacional dos anos 80 você conhece, né? Casa de campo com samambaia na varanda, piscina de azulejo e decoração estilo colonial.
A mãe, aliás, é a sempre maravilhosa Jacqueline Laurence emprestando a costumeira classe a tudo isso. A presença de Laurence nunca é pouca coisa. parabéns já ao filme.
Voltando às duas garotas, depois de um passeio onde conhecem o galã chegam em casa onde os pais olham pro baralho. Eles não jogam, ficam olhando apenas pras cartas nas mãos.
Patricia/Claudia Magno ordena (sim, ordena!) que Nina sirva-lhe um whisky e prontamente é atendida. Nada do Balantines 12 anos, mas J&B, aquele da garrafa verde e rotulo amarelo.
Patricia/Claudia Magno ordena (sim, ordena!) que Nina sirva-lhe um whisky e prontamente é atendida. Nada do Balantines 12 anos, mas J&B, aquele da garrafa verde e rotulo amarelo.
Acabou o filme e não entendi direito quem é a Nina de Pádua
na fila do pão. Ela não tem absolutamente função nenhuma além de adular Patrícia.
É tipo uma mucama?
Mas é um filme para jovens e há alguns outros no elenco. Evandro Mesquita da Gaita Infinita e Cissa Guimarães (tão linda, linda) são um casal e, mesmo se eu quisesse, não há mais muito a falar sobre eles.
Perceba que o menino é do Rio, mas o elenco todo é branco e
alguns loiros. Poderiam ser de qualquer lugar do mundo, até porque, os
conflitos deles não vão além de quem fica com quem.
Lembra do menino que parecia a Malu Mader mocinha? Ele está “a
perigo” (expressão do roteiro) e fica horas trancado no banheiro com a Playboy, edição da Monique Lafond na capa.
Logo seus problemas acabam. Conhece a Claudia Ohana na
praia, que lhe pede fogo pra acender o baseado e ponto!
Patrícia, a protagonista, tem um namorado rico boboca, o Adolfinho,
mas ela gosta, a princípio, de um coroa magnata que depois descobre ser o pai
do André de Biasi. Tudo bem, isso vem à baila com relevância só nos momentos finais.
Menino do Rio, pela época, antes do surgimento e propagação da
“linguagem MTV”, é ainda cinematograficamente bem careta, poderia dar um desconto ao ritmo arrastado. Ainda
assim, é terrivelmente sem graça.
O único lampejo que ele alcança é quando Adolfinho assiste a
um filme antigo na TV e imagina os personagens falando do seu relacionamento fadado
ao fracasso. Essa participação afetiva de Pedro Paulo Rangel é um sopro de
modernidade legítima ali.
Falando em modernidade, Patrícia é modelo. Aí pára tudo para
Claudia Magno desfilar os últimos lançamentos da grife Fiorucci e se segure
na cadeira porque os modelitos são uma viagem no tempo.
Tão 80’s... Mas infelizmente isso é bem pouco pro filme todo divertir por ser "Tão 80's".Demora a aparecer maconha, quase não há nudez e sexo (Biasi tem um nu frontal rapidão e com a mocinha encena um Adão e Eva meiguinho que poderia estar numa aula de catequese). "Os jovens" são muito comportados, reacionários, mesmo o Mallandro não passa dos habituais “glu glus”.
Existe uma sequencia de luta, quando o Adolfinho vai tirar
satisfação por ter perdido a amada, que parece saída de filme de Didi Mocó. Ele
dá socos, o mocinho revida com um único golpe de karatê (!!!) e ponto! Na próxima
vez que vemos Adolfinho ele está com a clavícula engessada.
Didi Mocó? Espere pra assistir o final do filme! Sabe quando
o roteiro chega a um ponto e entrega pra Deus?
E o Evandro Mesquita da Gaita Infinita? A Ohana? A Cissa? A
Malu Mader fake? Não faça perguntas difíceis, eles já enfeitaram a tela, tá bom
né?
Tô exagerando, acontece uma tragédia pouco antes do final
Didi Mocó, mas é só. O filme é só isso mesmo e aposto que foi o sucesso
que foi porque não haviam jovens (de qualquer maneira que fosse) na tela na época.
E o sabor final é bem estranho! Calmon, o diretor, trabalhou com Glauber, tinha trajetória
no cinema (inclusive no Cinema Marginal!), fez na TV coisas inovadoras como Armação Ilimitada, assim como a trajetória do produtores Lucy e Luiz Carlos Barreto é de conhecimento geral, mas temos a sensação de que foi feito por quem nunca assistiu
cinema na vida.
Poderia ser divertido como comédias sexualizadas tipo Porky’s ou suspense e terror tipo Sexta-feira 13, pra citar dois exemplos de filmes famosos “para jovens” da época, mas é só gente branca, bem criada cujo único problema na vida é namorar. Não tem eco de nada e isso, no caso, está longe de ser bom!
Poderia ser divertido como comédias sexualizadas tipo Porky’s ou suspense e terror tipo Sexta-feira 13, pra citar dois exemplos de filmes famosos “para jovens” da época, mas é só gente branca, bem criada cujo único problema na vida é namorar. Não tem eco de nada e isso, no caso, está longe de ser bom!
O filme é para jovens do começo de 1980, mas poderia ser para os jovens de 1880 (lembre-se que há até um tipo de mucama!). Era só trocar o surf e voos de asa delta por passeios de charrete.
Achou ruim? Assista a sequencia, Garota Dourada de 1984 também do Calmon! Mesmos personagens, mesmos probleminhas, mas agora com UFOs...
Veja também:
Rapaz! Nem lembrava mais desse filme, fiquei com vontade de assistir de novo.....kkkkkk!
ResponderExcluirMuito boa e divertida essa sua análise de um filme tão 80's e tão ruim...mas ri bastante e na atual conjuntura isso já é bom.
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