Eram os anos 70 e a indústria do cinema pornográfico explodiu
após o sucesso de Garganta Profunda (Depp Throat, 1972 de Gerard Damiano). Como
muitos aspirantes ao estrelato, o caché por pequenos papeis não sexuais nestas
produções eram alguma fonte de renda extra.
Aquela época é conhecida como os anos dourados do cinema
adulto, havia a pretensão de transformar aqueles filmes como outro gênero qualquer.
Participar de um trabalho desses não significava o mesmo que hoje, claro.
Pós revolução sexual dos anos 60, atuar nestas produções
significava que você era uma pessoa pra frente, liberta. Porém, sempre existiu
o preconceito e o estigma com sexo,
tanto que Robert Kerman só foi realmente atuar pra valer aos 28 anos em Anyone But My Husband de
1975, quando sua mãe já havia morrido.
Estreando com C.J. Laing em Anyone But My Husband
|
Ele pegou logo o papel do protagonista, o marido do título,
um libertino que negligencia a esposa num dos poucos filmes do tipo dirigidos por uma mulher, Roberta Findlay. Teve apenas duas sequências de sexo e
apareceu sob o infeliz pseudônimo Robert Kerr, quase o nome real dele.
Logo mais ouviria de um produtor a importância de ter outro
nome para esse tipo de filme se ele pretendia ser ator fora dali, então, vendo
uma caixa e vinho Bolla passou a assinar R. Bolla nas quase duas centenas de
filmes que participou.
Robert Kerman ou R. Bolla, era charmoso, mas não era bonito
ou tinha o físico avantajado em nenhum sentido. Mas ele era um ator de verdade,
com vasta experiência no teatro e topava, então, como havia tentativa de se
fazer cinema de verdade, embora adulto, diretores e produtores escalavam R.
Bolla para papéis importantes.
Com a lendária Bambi Woods em Debby Topa Tudo |
Papeis importantes como o patrão insistente de Bambi Woods em
Debbie Topa Tudo (Debbie Does Dallas, 1978 de Jim Buckley). Ele é muito
lembrado por este filme que se tornou um cult bastante discutido na internet.
E nunca desistiu de atuar em produções convencionais, se
dizia muito orgulhoso do talento dramático. Esteve ao lado de Richard Dreyfuss
em participação pequena no oscarizado A Garota do Adeus (The Goodbye Girl,
1977 de Herbert Ross).
Sua grande chance aconteceu ao conhecer o produtor
italiano Giovanni Masini. Ele acabou escalado para o papel principal do
polêmico Holocausto Canibal (Cannibal Holocaust, 1980 de Ruggero Deodato), uma
experiência única que lhe abriu as portas ao cinema italiano.
Em Canibal Holocausto de 1980, seu filme mais importante |
A seguir conquistaria outro personagem de destaque em outro
filme forte: Vivos Serão Devorados (Mangiati vivi!, 1980 de Umberto Lenzi). Cansado
do pornô, Kerman entendeu que o caminho seria
trabalhar na Europa, mas a Itália não concedeu visto para trabalhar lá.
Em 1981 esteve em Os Vivos Serão Devorados, outra produção de horror italiana |
Isso fez com que sua participação no hoje cult Canibal Ferox
(Cannibal ferox, 1981, também de Umberto Lenzi) ficasse restrita a algumas
sequências filmadas em Nova York, e claro, minou sua carreira internacional no
cinema “convencional”. Nesse período ele apareceu em algumas séries de TV e
continuou atuando como R. Bolla em fitas proibidas para menores.
R. Bolla sobreviveu à transição da película para o videotape
da indústria pornô, época em que o VHS inundou as videolocadoras e sem dúvidas,
ajudaram a consolidar a mania de alugar filmes. O videotape barateou a
produção, mas também banalizou o subgênero exigindo que fossem produzidos um
atrás do outro.
Continuaria até 1985 quando rodou Sexo & Cia.(Corporate
Assets, 1985 de Thomas Paine). O ator garantiu que esta sátira dramática ao
mundo corporativo foi seu ultimo trabalho adulto.
Aos 38 anos em Sexo & Companhia, seu último trabalho adulto |
Porém, como era comum na indústria pornô na época do vídeo cassete,
continuaram saindo fitas com seu nome em coletâneas, remontagens e coisas do
tipo. Assim, você podia assistir Kerman ao lado de Kevin Costner em Sem Saída (No
Way Out, 1987 de Roger Donaldson) e alugar um lançamento picante em VHS onde, agora
sob pseudônimo R. Bolla,o mesmo ator atuava ao lado de Amber Lynn.
As coisas só desandaram quando o agente cancelou o contrato
desistindo de representar o ator pelo passado no cinema adulto. Robert Kerman,
que dizia nunca ter se envergonhado desse passado, mas se arrependido de não
ter focado apenas na carreira de “ator convencional” entrou em depressão se
afastando até boa parte dos anos 90.
Seu nome seria lembrado em 2001, no relançamento nos
cinemas dos EUA de uma cópia restaurada de Canibal Holocausto. Ele aceitou sair
da aposentadoria para promover o filme em Los Angeles.
Foi neste evento onde conheceu Sam Raimi. O diretor o
convidou para participar de O Homem-Aranha (Spiderman, 2002) numa pequena
aparição, mas importante, visto que ele estava fora do show buzines por mais
de uma década.
Na cena da grande luta na ponte de O Homem-Aranha |
Acabou sendo sua despedida num longa metragem. Nos últimos anos, graças ao DVD e a internet, seus filmes, principalmente os italianos, voltaram a ser populares e ele frequentou algumas vezes convenções de fãs de horror.
Robert Kerman
nunca casou, nem teve filhos e vivia numa casa de repouso na companhia do gato
Socrates. Ele estava com 71 anos de idade quando faleceu de complicações derivadas do
diabete em dezembro de 2018.
Veja também:
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