Ali atrás, as cores junto ao Cinemascope foi um recurso
urgente dos estúdios hollywoodianos para competir com a emergente TV, quadrada
e em preto e branco. Ainda assim, até os anos 60, a cor ou preto e branco eram
opções estéticas e comerciais.
No artigo da revista, assinado pelo jornalista Salvyano
Cavalcanti de Paiva, relembram quando o Technicolor aparecia em momentos
específicos dos filmes e ajudavam a contar a história, sendo que fora disso,
apenas dispersam a atenção. Essa discussão assemelha-se à que existia nos anos
90 quanto ao uso da computação gráfica.
Fay Wray no arcaico sistema de cor de Os Crimes do Museu |
Paiva cita como bom exemplo Museu de Cera (Os Crimes do Museu
de Michael Curtis) que levou cor ao cinema de horror em 1934, mas que, embora
tecnicamente avançado, de ...E O Vento Levou (1939) ao então recente David e
Betsabá (1951), o uso da cor não teve expressividade nenhuma.
A popularização das cores com Susan Hayward como Betsabá |
E mais! Disney alcançou grande feitos artísticos com as
cores em filmes como Branca de Neve (1938), Bambi (1941) e Dumbo (1942), mas ao
industrializar a técnica caiu de qualidade como atestariam “Você já Foi à Bahia?” (1944) e Cinderela (1950).
Segundo a matéria, nos EUA ele está (em 1952!) superado diante de Tex Avery e
Fred Quimby, “O notável autor de Bugs Bunny” (na verdade a criação do
Pernalonga é reconhecida a Tex Avery).
Aí ele pede a opinião não de cineastas ou críticos, mas dos principais
artistas plásticos do Brasil. Por exemplo, Ivan Serpa acha que o uso da cor é
de grande importância, mas não se deve abandonar o preto e branco e a pioneira Georgina
de Albuquerque acreditava na capacidade simbólica do uso da cor e aguardava que
no futuro o cinema colorido fosse mais natural.
Existe um olho na matéria com a opinião do cineasta e ator
austríaco Erich Von Stroheim que mata a obvia charada: "O cinema de amanhã não
poderá ser senão em cores e em relevo porque a vida é colorida e em relevo".
Quanto ao relevo, por enquanto, o 3D funcionou aqui no século XXI como ali na
metade do século XX em filmes como O Monstro da Lagoa Negra (1954).
Parecia ser a salvação da lavoura, mas logo foi perdendo o
interesse. Meu palpite é que não existem histórias o suficiente que precisem
ser contadas em 3D, ou o recurso fica banal e ainda atrapalha (tal e qual se
reclamava do colorido em 1952?).
3D funcionou lindamente para mim em Avatar (2009) numa tela
de Imax (a trama até acabava por atrapalhar o deslumbramento das imagens), mas vi
outros que o recurso simplesmente era desnecessário para o desenrolar. Não
havia a menor justificativa para usar aqueles óculos e se você já usar óculos
de grau, aumente o desconforto.
Página da matéria da revista Manchete de 1952 |
Voltando ao uso da cor, logo se tornaria comum para filmes
de apelo popular e o preto e branco ficaria para público restrito, como filmes
de arte e noir. Ou também para produções de orçamento mais baixo, como as
ficções científicas B.
O sistema de cor (Technicolor, De Luxe, etc) era dispendioso.
Causou estranhamento quando Alfred Hitchcock anunciou que seu Psicose (1960)
seria em preto e branco e justificou, como bom marqueteiro que era, que dessa
forma o sangue seria menos chocante.
Psicose: Uma experiência de orçamento e narrativa |
Mas Hitchcock tinha se dado a meta de rodar um filme de
sucesso tão barato quanto um episódio de sua série na televisão. E por tanto, não
tinha como ser colorido mesmo.
Em 1961 Marilyn Monroe enviou um memorando à Fox exigindo,
entre outras coisas, participar apenas de produções coloridas. Ela é sem dúvida
o nome mais famoso da década de 50, e após ficar bem conhecida participou
apenas de duas produções em preto e branco: Quanto Mais Quente Melhor (59),
dizem que por razões estéticas da maquiagem feminina nos atores, e Os
Desajustados (61), produção dramática autoral.
Marilyn Monroe em espetacular Technicolor (Torrentes de paixão/Niagara, 1953) |
Veja também:
Em glorioso preto e branco
Bela Lugosi como você nunca viu: COLORIDO!
Celeste Holm finalmente em cores
Sem computação gráfica, Marte Ataca teria até Norma Desmond marciana
A Lista de Marilyn
Antes de comentar, por favor, tenha consciência de que este espaço é disponibilizado para a sua livre opinião sobre o post que você deve ter lido antes.
Opiniões de terceiros não representam necessariamente a do proprietário do blog. Reserva-se o direito de excluir comentários ofensivos, preconceituosos, caluniosos ou publicitários.