Mulher criou monstros em Hollywood e sucumbiu a eles

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De tantos nomes que resistiram à Era de Ouro de Hollywood, podemos afirmar que a maioria dos femininos são de deusas da tela enquanto os masculinos são diretores, técnicos em geral, produtores, etc. Isso não significa que não haviam mulheres trabalhando além de atuar e mostrar sua beleza física, mas que muitas foram simplesmente escondidas perante os nomes masculinos que lideravam os departamentos.

A pioneira Milicent Patrick, por exemplo, trabalhou como atriz, mas teve uma incrível trajetória como animadora da Disney, designer e maquiadora de efeitos especiais e ainda assim é pouquíssima reverenciada. Isso, claro, até o advento da internet e material extra em DVDs e Blu-Rays que despertaram o interesse de legiões de fãs das novas gerações aos detalhes de seus antigos filmes favoritos.

Recentemente saiu a biografia “The Lady From Black Lagoon - Hollywood Monsters and the Legacy of Milicent Patrick “ que, como o título sugere, concentra-se em seu trabalho mais importante, a criação do rosto do Monstro da Lagoa Negra do retumbante sucesso de 1954 dirigido por Jack Arnold para a Universal Studios. Feito que até lhe rendeu louros na época, mas também, por incrível que pareça, a sua demissão do estúdio.
A Entertainment Weekly pinçou do livro essa história absurda que começou quando a Universal teve a ideia de fazer uma turnê nacional com a moça. Muito bonita, ela era desenvolta o suficiente para representar e divulgar a produção na TV, rádio e apresentações em teatros e lobbys de cinemas.

O título da turnê foi “A Bela Que Criou A Fera” e poderia ter sido um incrível apoio do estúdio ao movimento feminista que engatinhava na primeira metade dos anos 50, mas a intenção não era de jeito algum mostra-la como brilhante pioneira e única mulher em sua função. Tanto que, mais uma vez, como o título da turnê deixa claro, o foco era em sua beleza física, não seu talento artístico e profissional que a colocavam num raro lugar.

A equipe de publicidade da Universal desenvolveu todas as possibilidades para explorar sua contratada onde quer que ela fosse exibindo esculturas e desenhos de todos os monstros que havia criado.  Conforme o livro destaca: “Essa tour teria sido revolucionária. Uma mulher, não sendo ameaçada por um monstro, mas sendo mostrada como a criadora dele, como uma talentosa artista. Sim, o título com "Beleza" é um pouco torto, mas foi nos anos 50. Ainda estamos ligados a esse tipo de marketing e é 2018. Teria sido uma jogada estranhamente feminista para a Universal. Eles estavam usando Milicent como um truque. Ha! Que novidade e loucura! Uma senhora tão linda cria coisas que parecem assustadoras! Quem teria imaginado isso? Agora compre um ingresso para ver o filme!”
Imagine quantas mulheres e meninas veriam as coisas de outra forma a partir dali. “Uma mulher capaz sendo elogiada por sua criatividade e capacidade, em vez de ser perseguida por alienígenas ou monstros, ufa.”, afinal havia rumos diferentes a todas, não apenas sendo donas de casa, mas donas de suas vidas.

Tudo lindo, porém a turnê chegou aos ouvidos de Bud Westmore, chefe do departamento de maquiagem e efeitos especiais da Universal, e ele não viu a menor graça. Pra ser especifico, quando o pessoal da publicidade lhe telefonou para disponibilizar Milicent Patrick por algumas semanas ele ficou muito ofendido a começar pelo título da tour.
Bud Westmore e algumas das criaturas de sua oficina          Reprodução
“A Bela que Criou a Fera” ia diretamente contra a ideia de que qualquer coisa que fosse projetada ou criada em sua oficina pertencia a ele e apenas ele poderia levar o crédito. O pensamento de Milicent viajando pelo país, dizendo a todos que ela projetou a criatura o enfureceu. Mesmo que fosse verdade.

Haviam fotos de Milicent debruçada na prancheta durante a pré-produção do filme, mas Bud alegou que várias pessoas estiveram envolvidas no trabalho por meses e que apenas ele era merecedor do crédito por ter finalizado. Bud estava tentando preservar sua reputação como grande maquiador de Hollywood e também percebeu que O Monstro da Lagoa Negra seria um filme muito maior do que ele estava acostumado a lidar.

Assim foi! O Monstro da Lagoa Negra foi um marco histórico da ficção científica e Milicent Patrick que promoveu o filme logo depois que voltou foi dispensada da Universal, onde nunca mais trabalhou em qualquer função que seja.
Em 1955, ano seguinte, saiu Guerra Entre Planetas (This Island Earth de Joseph M. Newman) que teria sido produzido enquanto o Monstro da Lagoa Negra era lançado. Foi seu último trabalho no departamento de maquiagem de qualquer estúdio, não apenas da Universal!

 Ainda assim, seguiu como atriz em pequenos papeis no cinema e produções televisivas até 1968. faleceu em 1998 aos 82 anos de idade.

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