O amor requintado

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O que fazer se você tem um monte de cenas de sexo, mas não quer que seu filme aparente sujo? Transforma num semi-documentário disfarçado de educação sexual!

Refinements in Love de 1971 é exatamente isso. A frase promocional “A "Penetrating" Look at the 1970s Sexual Culture!”, traduzindo mais ou menos para “Um Olhar "Penetrante" Sobre A Cultura Sexual dos anos 1970!” diz pretensamente quase tudo.

Apresentado pela autora, atriz, stripper e ex-presidiária Liz Renay, com toda a seriedade imaginável, entre uma cena e outra de sexo explícito discute-se o interesse da pornografia à sociedade moderna. O próprio diretor Carlos Tobalina aparece sendo entrevistado.

E naquela altura ninguém melhor que ele para falar sobre o tema. Com quatro filmes do gênero no currículo, viria a dirigir, editar, roteirizar, produzir e compor a trilha sonora de mais de três dezenas de hardcore ou puro sexplotation até 1986.

Esse de 1971 deve fazer mais sentido hoje, como reflexo da época, do que quando foi lançado. A indústria de pornografia como conhecemos agora apenas engatinhava.

Foi feito um ano antes do estrondoso sucesso de Garganta Profunda (Deep Throat, 1972), filme que levou X-Rated a algumas salas de cinema convencionais. Até então, o sexo mostrado na tela era tão envergonha que não dava espaço ao erotismo.

É aquilo naquilo lá, e ripa na chulipa! Por isso, além de ser bem humorado, deve agradar aos apreciadores de sexplotation, softcore e pornochanchadas em geral.

Alguns detalhes técnicos chamam a atenção. Há logo no começo um agradecimento à Associação Neurológica da América Latina do Rio de Janeiro (Brasil), os créditos aparecem depois de 45 minutos e são repletos de “Made in Hollywood”, hábito comum aos independentes que queriam ostentar qualidade.

Existe um documentário de 2005, chamado Inside Deep Throat, que é obrigatória para tentar compreender os meandros que esse gênero tão mal visto (até hoje!) passou em seu início. Aparece uma atriz daquele tempo dizendo que o que valia era a transgressão, muito mais que o profissionalismo no ato sexual em si.

Outra coisa interessante é que os grandes estúdios de Hollywood começaram a aderir, apavorados com a queda nas bilheterias e principalmente com o fim do código de moral e conduta Hayes, que engessou o cinema de 1934 a 1967. O fim dele “coincidiu” com a revolução cultural 60’s.

A 20th Century Fox contratou Russ Meyer (que tinha dirigido de modo independente Faster, Pussycat! Kill! Kill! E Mondo Topless) para comandar o ousado De Volta Ao Vale das Bonecas (Beyond the Valley of the Dolls, 1970). A Paramount estaria abrindo um segmento apenas para cuidar de filmes picantes.

A pá de cal sobre o oba-oba seria um senador disposto a colocar fim à indecência em forma de película que estava assolando a América. Mais tarde soube-se que o tal político puritano estava envolvido até o pescoço nas maracutaias do governo Nixon, e portanto, tinha apenas encontrado um jeito de distrair a opinião pública.

Veja também:
Russ Meyer - Quando o cinema tinha mais peito
Detetive Johnny Wadd em ação. CORRÃO!
Garganta Profunda, sinos e jorrões
A incrível história do pornô mais caro


[Ouvindo: Meu Neguinho – Mário Zan e Irmãs Castro]

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