Primeiro escândalo com maconha de Hollywood arruinou a carreira de um e ajudou a do outro

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 Escândalo daqueles que corriam o mundo envolvendo astro de Hollywood: Robert Mitchum preso por usar maconha! Ele foi o primeiro grande astro condenado por isso, mas essa notícia tem alguns desdobramentos curiosos.

Os julgamentos aconteceram em fevereiro de 1949. A principal revista de celebridades da época no Brasil, A Cena Muda, publicou a seguinte notinha na edição e março daquele mesmo ano:
Mitchum foi acusado com outras três pessoas: Robin Ford, provável traficante que já estava preso durante o julgamento do caso, a bailarina burlesca Vickie Evans de 25 anos e a atriz Lila Leeds de 20 anos (sobrenome grafado na revista brasileira como Leads).
A atriz em casa, local onde aconteceu o flagra em 1 de setembro de 1948  / LA Times
Vickie Evans conseguiu ser absolvida provando que ela não estava fazendo parte da festinha e foi empurrada pra lá por um policial. Lila Leeds era a dona da casa invadida pelos policias para o flagra e pegou 60 dias de cadeia assim como o ator.
Leeds e Mitchum com respectivos advogados no dia do julgamento
Leeds começou na carreira artística como corista em orquestra. Muito bonitinha, começou a chamar a atenção por sua semelhança com Lana Turner, chegando a ser contratada pela MGM onde conquistou pequenos papeis.


Em seu auge estampando capa de revista, quando parecia que o céu era o limite
Parecia estar trilhando o caminho de tantas outras estrelas da época, com a vantagem das portas abertas no mais importante estúdio da Era de Ouro de Hollywood. A maior produção onde esteve foi A Rua do Delfim Verde (Green Dolphin Stree, 1947 de  Victor Saville), indicado a 4 Oscares, protagonizado justamente por Lana Turner.

Na ocasião do escândalo estava noiva do ator Stephen Crane (ex marido e pai de Cheryl, filha de Lana!) que simplesmente se mandou para a Europa. Segundo Cheryl Crane em seu livro de memórias, Leeds começaria também a usar heroína na cadeia.


Os dois atores indo pra prisão após sair a sentença
Mas o que se sabe é que Robert Mitchum ao cumprir os 60 dias saiu da cadeia com ótima imagem de “bad boy”. Sua carreira seguiu sem um arranhão, muito pelo contrário, trabalhando em dois ou três filmes por ano.

Já Lila Leeds jamais conseguiria emprego novamente em Los Angeles! É claro que a essa altura ele já tinha uma indicação ao Oscar e a garota era apenas uma aspirante a estrela, mas todas as portas se fecharam mesmo pra ela!

Até que surgiu o convite de produtores de cinema independente para ela estrela um filme meio biográfico sobre sua desventura no mundo das drogas. “She Shoulda Said No!” (Ela deveria ter dito não!) também foi distribuído como Wild Weed e A Erva do Diabo é exatamente o que esses títulos aparentam ser.
Sensacionalismo bem barato ao estilo de Reefer Madness (1936 de Louis J. Gasnier) para explorar o medo que a classe média tinha da violência e o vício das drogas. Produzido a toque de caixa, ainda tinha a atriz que meses antes estava nas páginas dos jornais  envolvida exatamente com a polícia.

Na ocasião Leeds foi a imprensa dizer que aceitou o papel para alertar os jovens sobre seu erro e os perigos das drogas. Três anos depois disse a uma revista que teve apenas esta oferta de trabalho e foi “uma tentativa óbvia de capitalizar a notoriedade do caso Mitchum. Eu aceitei. Estava sem dinheiro".
Lila Leeds  em cena de A Erva do Diabo
Na ocasião ele não foi o sucesso esperado, mas muitas décadas depois, distribuído em VHS e DVD, ganhou status de cult como filme B junto a filmes do gênero, involuntariamente cômicos para as atuais gerações. Lila Leeds é bem lembrada por ele e, claro, pelo caso da prisão junto a Robert Mitchum como é o caso deste post aqui.
Outro momento da atriz em seu último filme: Revivendo o pesadelo
E que fim ela levou? Sem emprego no cinema ou em qualquer outro lugar do show business abandonou a Califórnia reaparecendo na imprensa de mexericos de tempos em tempos.

Em 1961, por exemplo, usou como evidencia antigos recortes de jornal, para tentar provar que seu filho era fruto do relacionamento com o filho de um político democrata. Ela queria uma pensão alimentícia.
Lila Leeds em 1961, 12 anos após a prisão, de novo na imprensa
Teve três filhos que estiveram algumas vezes em orfanatos enquanto a mãe tentava se estabelecer trabalhando em boates e lutando contra a dependência. Chegou a se casar com o pianista Irving Rochlin, que também frequentou as páginas policiais por assaltar um posto de gasolina para pagar pelo seu vício.

O Los Angeles Times revivendo o caso apontou que há registros dela de volta a Califórnia em 1974 como pastora de uma igreja chamada SMILE (pode ser traduzido como Sorria, mas é a abreviação de Spiritual Mission, Inc., Laymen's Evangelist). Dois anos depois ressurgiu promovendo um livro sobre antigas celebridades do tipo “Por onde anda?”.
No completo anonimato, ela morreu em 1999 aos 71 anos de idade sem que isso fosse noticiado por nenhum jornal ou revista. Segundo o livro Resting Places (que enumero o local onde 14,000 famosos e ex famosos estão enterrados), Lila Leeds lutava contra o câncer quando sofreu um ataque cardíaco.


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