Começou logo com o pé direito, na excelente ficção científica com toques existencialistas Westworld – Onde Ninguém Tem Alma (Westworld , 1973 de Michael Crichton). CG no cinema é uma história de debates defasados sobre o homem versus máquina e de algumas ironias.
Só ficaríamos boquiabertos com as possibilidades tecnológicas no cinema em O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final (Terminator 2, 1991 de James Cameron) que, com o perdão do trocadilho, possui muito da alma de Westworld. Michael Crichton, o diretor de Westworld, escreveria o livro que geraria Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros (1993 de Steven Spielberg), quando ninguém mais teve dúvidas do realismo alcançado.
Antes disso, são muito lembrados os filmes da década de 80 que flertaram com os pixels digitais, como O Enigma da Pirâmide (Young Sherlock Holmes, 1985 de Barry Levinson) e Jornada nas Estrelas II - A Ira de Khan (Star Trek: The Wrath of Khan , 1982 de Nicholas Meyer). Este último ostenta o título de primeiro a possuir uma sequencia totalmente gerada em computador, façanha da Industrial Light & Magic.
Voltando a 1973, o pioneiro efeito digital em Westworld pode parecer precário, mas é imaginativo. Para quem ainda não assistiu, as imagens foram manipuladas para simular o ponto de vista do androide interpretado por Yul Brynner.
Cinco anos antes, Stanley Kubrick fez a visão de Hall 9000 em 2001 - Uma Odisséia no Espaço (2001: A Space Odyssey, 1968) utilizando apenas truques óticos. Westworld também é admirável porque foi pioneiro tendo um orçamento baixo até para a época, 1.250 mil dólares.
O The New Yorker trouxe uma matéria contendo entrevista com o produtor Paul Lazarus, que, pra deixar as dificuldades claras, naquela época não bastava ir até a ILM e voltar depois pra pegar o trabalho pronto. Não haviam empresas voltadas a isso.
Um laboratório disse-lhe que cobraria duzentos mil dólares os dois minutos de imagens manipuladas, e que demorariam nove meses para terminar! Tanto o dinheiro quanto o tempo eram proibitivos em Hollywood.
Até que encontraram John Whitney, um cara apaixonado por informática que fazia pequenos filmes experimentais que topou por 20 mil dólares em quatro meses. Menos que o cachê do astro Brynner, que, num momento difícil da carreira, aceitou vestir novamente seu figurino de Sete Homens e Um Destino (The Magnificent Seven, 1960 de John Sturges) por 75 mil dólares.
Whitney propôs o efeito simples que finalmente apareceu no filme, dividindo cada imagem em quadrados pequenos e calculando a cor média em cada área. Em essência, o efeito transformava uma imagem de alta-resolução numa de baixa resolução.
O artista conta hoje, aos 67 anos de idade, que aceitou a empreitada e fez sugestões sem saber ao certo como proceder. Eram raras as máquinas de digitalizar filmes ou gravar imagens em um computador.
Após firmar parceira com uma empresa, descobriu que não era possível escanear imagens coloridas, o que exigiu ainda recolorir cada bloco que compunha o quadro. E assim foi por tentativa e erro, num processo, que claro, consumiu mais tempo do que os quatro meses planejados.
Lançado nos cinemas e elogiado, outros filmes demoraram a aderir à computação gráfica nos anos 70. Coube à sequência de Westworld, Ano 2003 - Operação Terra (Futureworld , 1976 de Richard T. Heffron), dar um passo além ao apresentar pela primeira vez um rosto em computação gráfica 3D, também obra de John Whitney e parceiros.
Peter Fonda torna-se então o primeiro astro a ser digitalizado. No ano seguinte, Guerra nas Estrelas (Star Wars, 1977 de George Lucas) traria breves sequencias de CG, mas vitais ao desenvolvimento da técnica.
O The New Yorker destaca a diferença das intenções de hoje para os primórdios, nos anos 70. "Ao contrário dos efeitos digitais atuais, que rotineiramente usam efeitos para tentar reproduzir a realidade, ou fantasiar a realidade, as intenções da era "Westworld" eram muito mais modestas no fim."
As intenções artísticas e as possibilidades tecnológicas permitiam a criação de monitores de aspecto futurista. “Nisso reside a contradição existencial dos efeitos digitais da década de setenta: eles deveriam se parecer com os gráficos de computador de uma sociedade avançada, mas uma sociedade avançada não teria os computadores primitivos da década de setenta.”.
Após o desbunde na segunda metade dos anos 90, período em que qualquer história podia ser filmado para expor efeitos digitais de forma vulgar, a computação gráfica passou a ser uma ferramenta técnica, como qualquer efeito ótico criado por Méliès nos anos 20 do século passado. Ou melhor, roteiros estúpidos ainda são filmados pelos efeitos, mas eles também são empregados em obras relevantes rotineiramente.
A próxima fronteira talvez seja reempregar de forma realista astros mortos como Bruce Lee e Marilyn Monroe em novas produções. Não que isso seja realmente necessário, mas desde o princípio em que o cinema cruzou com a informática noticiam as tentativas.
Veja também:
4 vezes Carlo Rambaldi
Agora ser high-tec é sopa de minhoca
O que já era possível nos anos 90?
Westworld foi o filme que mais me impressionou na infância, quando passava na sessão da tarde e tive a oportunidade de assisti-lo.
ResponderExcluirCaio, só assisti adulto e gostei MUITO. Não sei como ele não é mais conhecido do que merecia.
ResponderExcluir