Filha de Drácula quase renega paternidade

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Certamente A Filha de Drácula (Dracula's Daughter, 1936 de Lambert Hillyer) entrará para alguma lista de continuação superior ao filme original. Ele aparece bastante, pelas sutis referências a lesbianismo, entre os mais ousados da era de ouro de Hollywood.

Fazia cinco anos que Bela Lugosi assombrou o planeta na pele de Drácula, dirigido por Tod Browning. Entre Frankenstein e a Noiva de Frankenstein, (ambos de James Whale) a diferença foi de quatro anos.

Os dois primeiros Frankenstein conseguiram manter não apenas seu diretor, mas seus astros Boris Karloff e Colin Clive (o monstro e o personagem título em si). Já a Filha de Drácula começou por cavocar um roteiro satisfatório jamais alcançado e perder logo o super astro Bela Lugosi, uma lenda a justamente após interpretar Drácula.


Na época foi o filme mais caro da Universal e dos outros estúdios. A primeira tentativa era de produzir uma adaptação de O Convidado de Drácula, espécie de apêndice do romance original de Bram Stoker escrito pelo mesmo e publicado muito depois do seu mais famoso livro.

Problemas de copyrights acabaram por torna-lo uma mistura de O Convidado com suaves pinceladas de Carmilla, romance de Sheridan Le Fanu. Como toda geleia do tipo, os furos no roteiro são quase inevitáveis.

Um acerto: escalar a naturalmente misteriosa Gloria Holden para o papel título, a condessa Marya Zaleska. A primeira arte promocional, de 1934, ainda trazia a imagem de Bela Lugosi, Drácula original e a direção do mesmo gênio por trás dos filmes de Frankenstein.

Notinha do New York Evening Post de 30 de dezembro de 1935, resgatada pelo site de Lugosi, garantia a presença do ator na sequencia. Ao invés de Holden, eles citam a jovem Jane Wyatt:

“Jane Wyatt será a Filha do Drácula com Bela Lugosi em seu papel original como o cavalheiro vampiro, Conde Drácula. Eddie Sutherland foi designado para dirigir. Miss Wyatt fará “Reno in the Fall” para a Universal também, e provavelmente “Strangers at the Feast”.”

Então dá pra apostar que Holden entrou depois no projeto. Na arte de 1934 a moça ali é uma mistura de Wyatt (atriz de programas de TV como Papai Sabe Tudo) com Geraldine Dvorak, uma das noivas do filme de 1931. 

Geraldine Dvorak,uma das "noivas" de 31 e Jane Wyatt  

Sabe-se que Whale foi dispensado após apresentar ao estúdio um projeto “Ultrajante”. Seja lá o que os executivos da época possam ter considerado “Ultrajante”, deveria ser maravilhosos.

Existem fotos de Bela Lugosi junto a Gloria Holden já nos cenários do filme. Ele esteve envolvido ao projeto por bastante tempo.

Em outras fotos os atores aparecem jantando no restaurante da Universal ao lado do produtor David Diamond. Nos primeiros tratamentos do roteiro ele entraria para explicar as origens do conde e consecutivamente de sua filha.

O filtro da censura do Estúdio descartou o script por considera-lo muito forte. Ainda segundo o site dedicado ao astro, historiadores especulam que Bela Lugosi recebeu cerca de US $ 4.000 pela tempo em que esteve envolvido.

Não há registros por escrito deste acordo. O que existe é uma carta manuscrita em que Lugosi concorda em ceder sua imagem gratuitamente para a feitura de um boneco de cera a ser usado na produção.

Por ironia, o boneco que aparece logo no começo, em muito pouco se parece ao Drácula de Bela Lugosi. Algumas cenas depois já está sendo queimado numa fogueira.

A Filha de Drácula é mais um filme que, embora não tenha se tornado um clássico, ficado distante do que poderia ter sido, ainda guarda algum interesse. Muito por fazer parte da mitologia dos Monstros da Universal.

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