O amor secreto de Doris Day

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Quando o movimento LGBTQ+ ganhou uma forma consistente na década de 90 foi-se atrás de ícones e representatividade na cultura popular. Não sem gerar polêmica, muito se debateu o suposto teor lésbico de Ardida Como Pimenta (Calamity Jane, 1953 de David Butler).

O doce musical da Warner estrelado pela dulcíssima Doris Day era vagamente inspirado na lenda do velho oeste Martha Jane Canary-Burke, a Jane Calamidade. Uma mulher durona que sobreviveu naqueles tempos pouco afáveis para pessoas doces.
 Na tela é explorado o possível romance de Jane com o também lendário Wild Bill Hickok interpretado por Howard Keel. Mas cada um assiste como quer e o roteiro deixa uma brecha para o interesse (mesmo que vago) dela com a beldade Kate, a dançarina interpretada por Allyn Ann McLerie.

 Faz sentido? Talvez não, mas cada um tem sua forma de assistir ao filme. A biografia da real Jane Calamidade é bastante obscura com muitos pontos sem registros oficiais, como seu rápido casamento com Wild Bill Hickok.

Ardida Como Pimenta ainda trazia a canção Secret Love, um mega hit de 1953. Lançada em compacto antes do filme, ficou semanas no topo da Bilboard e renderia ao filme seu único Oscar.

Quando foi apresentada a Secret Love pelo coautor Sammy Fain, Doris Day teria ficado extremamente emotiva com a letra do amor que precisou ser secreto. No dia da gravação da música ela foi até o estúdio de bicicleta, já tendo feito aquecimento vocal e pediu para gravar com a orquestra sem ensaiar juntos antes.

Ao final, não havia dúvidas de que ela jamais poderia fazer melhor do que naquela primeira vez. Por muitos anos Doris Day relembrava com orgulho disso, que aquela vez foi a única em que gravou Secret Love.
Manteve tanto carinho e respeito pela música que se recusou a cantá-la na cerimônia do Oscar de 1954, cabendo a Ann Blyth. "Quando eles me pediram para cantar 'Secret Love' na noite do Oscar, eu disse a eles que não podia - não na frente dessas pessoas" simples assim, conforme explicou depois.

Graças a isso, o Clube de Imprensa das Mulheres de Hollywood (entidade criada pela fofoqueira Louella Parsons) a elegeu a celebridade menos colaborativa do ano. “Honraria” que deixou a atriz semanas trancada em casa com depressão.

Tanto Doris Day quanto a canção sobreviveram a tudo isso. Ela teria outra música que interpretou indicada ao Oscar (Que Sera, Sera (Whatever Will Be, Will Be em 1957) e Secret Love recebeu incontáveis covers incluindo uma versão de Sinéad O'Connor em 1992.

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