Acho que qualquer um que tenha assistido Marnie, Confissões
de Uma Ladra (Marnie, 1964 de Alfred Hitchcock) comenta sobre o navio ao fundo
da rua em que a protagonista cresceu. Talvez por ser no filme de um diretor tão perfeccionista.
Incomoda, mas não tanto quanto aquele
dedão de plástico em Disque M Para Matar (Dial M for Murder, 1957). Mas, né? Vamos focar agora no navio mal feito de Marnie.
No livro “Hitchcock and the Making of Marnie”, o autor Tommy
Lee Moral aposta que o navio foi proposital ao conversar com o pintor Albert
Whitlock e outros. Mesmo com proporção, luz e perspectivas errados, Hitchcock “quis
esta imagem ameaçadora porque era uma memória muito importante de sua infância".
Outro livro que discute o navio estranho de Marnie é "The Wrong House: The Architecture of Alfred Hitchcock" de Steven Jacobs. Nele o designer Robert Boyle também aposta na
intencionalidade: "Hitchcock estava tentando chegar a algo que você não pode
ver. Ele estava tentando contar uma história de coisas que não são totalmente evidentes...
Ele estava tentando realmente cavar a psique de uma mulher ".
Hitchcock se recusou a ir até Baltimore filmar um navio de
verdade atracado, ele detestava locações. A solução foi trabalhar com backdrop,
uma pintura gigantesca de fundo, técnica muito comum no cinema, no caso, trabalho
do artista Whitlock.
Não pense que por ser um filme de 1964 eles acharam que
estava natural. No documentário The Trouble with Marnie (2000 de Laurent
Bouzereau) consta que a equipe reclamou assim que assistiu as provas do que
havia sido filmado naquele dia, mas o diretor disse que tinha que ser assim,
estava bem do jeito que estava.
Apenas muito mais tarde Hitchcock reconheceu que não estava
bom, segundo o produtor Hilton A. Green em entrevista. Ainda conforme as memórias
dele as pessoas ridicularizaram aquilo, considerando um recurso ultrapassado,
mas pessoalmente ele acha que o diretor estava preocupado com outras coisas no
filme.
Veja também:
Genial adeus de Hitchcock ao cinema mudo
A casa mais cool de um vilão
O que há na música favorita de Norman Bates?
Periguete indiscreta da janela aberta
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