Tanto que nunca foi reprisada no canal, reexibido apenas recentemente no Viva. O que faz, a priori, a existência deste DVD algo impensável.
Assistindo hoje, distante da saraivada de críticas, distante da imagem cômica que tínhamos da atriz graças ao TV Pirata, não é um programa ruim. É simples, desenvolvimento da história tímido, mas tem lá seu encantamento.
Antes da rinoplastia, Bloch é uma corista judia que em 1939 vai de São Paulo ao Rio atrás do pai, um preso político do governo getulista. Lá consegue se apaixonar por um crupiê (Carlos Alberto Riccelli) do cassino da Urca e ser perseguida por espião nazista (Raul Cortez).
Com reconstituição de época bem acima da média, inclusive com a restauração do próprio cassino célebre estre as décadas 30 e 40, merecia ter sido fotografada em película para maiores cuidados de fotografia. Mas como a emissora sempre teve um escorpião no bolso em se tratando do assunto...
O texto assinado por Doc Comparato a partir de uma ideia de Carlos Manga diverte com as referências exageradas ao período. Época em que pacatas donas de casa cristãs tinham na parede retrato de Jesus Cristo ao lado do presidente Getúlio Vargas.
Peca ao ser extremamente burocrático, careta como qualquer telenovela. É uma história de amor proibido que tanto poderia se passar nos anos 1930 como em 2015, cheirando a desculpa pra mostrar o casino.
Até por envolver nazistas numa época kitsch, poderia ter algo de literatura pulp. Esperei por isso, tendo em mente inclusive o rocambole de espionagem Interlúdio (Notorious, 1946 de Alfred Hitchcock), que se passa quase que na mesma época e no mesmo cenário carioca.
Mas nada... Mesmo em sentido dramático, carece-lhe cenas fortes, grandes momentos, até pra aproveitar o ótimo elenco subaproveitado onde nomes como de Renata Sorrah saem de cena sem ter relevância.
Andei lendo algumas das críticas publicadas em 1990 e me pareceram injustas. Na Folha o cara escreveu não sobre o que estava indo ao ar, mas comparava o que era exibido com o projeto que tinha visto antes das gravações.
Ainda avacalha os números musicais os chamando de dignos do Chiquinho Recarey. São na verdade números cuidadosos, com réplicas muito parecidas aos grandes astros internacionais que pisaram naquele palco e coro de baile distinto daquele que normalmente a Globo usa, em que as coreografias não passam de esticar as pernas pra cá e pra lá.
Senti falta de uma trilha sonora só com essas músicas, embora apenas a da minissérie, selecionadas por Gilberto Braga são um deleite especialíssimo! Saiu da obviedade incluindo nomes como Elvira Rios e Jean Sablon e outros que me fizeram correr pra internet pra conhecer mais.
Qualquer pessoa que goste do período vai passar boas horinhas assistindo. Digo mais, pela falta de ganchos fortes, A,E,I,O Urca funciona bem mais em DVD, de supetão, do que quando exibida em capítulos.
Talvez pela falta de empolgação que gerou nos anos 90, a Globo Marcas economizou em luvinha de papelão, item que geralmente coloca em seus produtos do tipo. Não faço questão, aliás.
São três discos, totalizando 8h21 muito bem editados, preservando a narração de Mario Lago no começo de cada um deles. Os menus podem ser feios, mas são ao estilo da abertura do programa.
Ainda não tem os sonhados extras com material jornalístico sobre a produção (que a Globo sempre faz aos montes assim que vai estrear algo), mas não está careca de bônus. Gravaram especialmente para o DVD entrevistas com Mauricio Sherman e Carlos Manga.
Triste que Manga está numa idade avançada, fala com dificuldade e se emociona bastante. Sherman firme e forte relembra muitos detalhes de 1990, inclusive de como foi convencer a emissora a abraçar o custoso projeto.
Veja também:
Boca do Lixo em DVD
Irmãos Coragem em DVD
Danci'n Days em DVD
[Ouvindo: You'll Never Know – D Haymes]
Ótima sua resenha sobre a minissérie A,E,I,O..Urca e especialmente quanto ao DVD lançado pela Globomarcas.
ResponderExcluirEsta minissérie era um de meus sonhos de consumo teledramatúrgicos, mas me decepcionei quando da sua reprise no Canal Viva: enfadonha, confusa, roteiro pouco atraente que se perde ao tentar retratar simultaneamente assuntos pouco ou nada a ver com o universo do Antonio Calmon - nazismo, antisemitisimo, espionagem, Era Vargas... Mas acho super válido o resgate de tais trabalhos pouco ou menos lembrados.
Emerson, meu sonho de consumo também. Fui gostar da época depois que ela foi exibida e nunca mais consegui assistir.
ResponderExcluirNão achei confusa. Achei pouco! Muito rala, pouco ousada mesmo.
Mas como eu disse no texto, em DVD, com os episódios grudados, ficou melhor. Não devia haver muito interesse em assistir ao capítulo do dia seguinte na TV.
Ótima resenha. Tenho esta minissérie gravada do VIVA, sem cortes (ao contrário do box lançado pela som livre). Realmente a minissérie é pobre no quesito "conflito" e por isso não tem aquela coisa de "não consigo parar de ver".... assistindo tudo de uma vez, sem intervalos, é bem melhor.
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