Quando torciam o nariz pra Scarface

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A definição  cult (de culto) está drasticamente pervertida nos dias atuais. Basta ser um filme esquisitão, para um nicho que já aporta nos cinemas como cult.

As coisas eram cultuadas após anos de apreciação, de grupos de admiradores formados a partir da admiração pela obra além da crítica. Scarface dirigido por Brian De Palma em 1983 é um caso clássico.

Muita expectativa gerou opiniões contraditórias ali no começo dos anos 80. O Guia de Vídeo Nova Cultural 1991 tascou apenas três estrelinhas (de zero a cinco) e reclamou que é violento e muito longo.
O jornal Folha de São Paulo também lembrou que era muito longo quando ele foi ser lançado  no Brasil em maio de 1984. Mas quem o cultua se importa com os 170 minutos (DUAS horas e CINQUENTA minutos)?

Eles estavam demasiadamente presos ao original de 1932 dirigido pelo Howard Hawks. Essa moçada está indo longe demais, ousando refazer clássico de forma autoral dentro da indústria Hollywoodiana - o que não era o caso de Scarface já que De Palma trabalhou sob encomenda do estúdio Universal.

 Aí chegamos à era do DVD e a Universal lança edição contendo o de 83 e o de 32 juntinhos pra gente conferir Al Pacino Vs. Paul Muni. Muito violento? A edição em Blu-Ray existe a graciosa função de contagem de balas enquanto o filme rola.
Anúncio publicado em jornal na época do lançamento: "Ele queria ser um poderoso chefão!"
Outra coisa que não devia de ter lá muita graça e hoje é motivo de glorificação: sua estética vaporwave, tão simbolicamente registrada a partir da segunda década do século XXI como pertencente aos anos 80.  Antes disso poderíamos simplesmente referencia-la como new wave.

O Tony Montana enfrentou um outro inimigo no Brasil que ali em 1983 já era moribundo, mas ainda fazia os seus estragos. A Censura Federal!

Em abril de 1984 a Folha noticiou que o Conselho Superior de Censura decidiu liberal, contanto que os distribuidores fizessem nove cortes após ouvir o ouviu Conselho Federal de Entorpecentes. As sequencias de consumo explícito de drogas fez com que fossem retirados um minuto e quinze segundos.

Na época havia esperanças que a Universal recorresse. A Folha mais uma vez comparou os filmes, lembrando que na década de 30 Hawks também teve que lutar para que seu Scarface fosse exibido na íntegra.

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