No Brasil consideramos tantos ídolos reis e rainhas que
parece que a antiga definição “Rainha do Rádio“ era mera força de expressão.
Realmente houve um concurso da Associação Brasileira de Rádio que elegia por
voto popular as queridinhas do público.
Os votos eram comprados nos jornaleiros a um Cruzeiro. O dinheiro arrecadado seria em beneficio do Hospital dos Radialistas em Botafogo.
Tem como isso dar treta?
A primeira eleita foi Linda Batista em 1937 e como a disputa
só voltaria em 1948 (quando sua irmã Dircinha foi eleita), pode-se considerar o
reinado mais longo. A última foi Julie Joy em 1958.
Marlene segurou o título por dois anos seguidos (1949 e 1950,
quando não houve edição do concurso), feito que só seria repetido por Doris
Monteiro, eleita em 1956 . E foi em 49 que começou uma das maiores rivalidades envolvendo
fã clubes do país.
Emilinha Borba: A favorita |
O patrocínio consistiu em dar-lhe um cheque em branco, para
ela comprar a quantidade de votos necessários para a vitória. 529.982 votos! A favorita
Emilinha amargou terceiro lugar, tendo ficado atrás até de Ademilde Fonseca,
estrela da Radio Tupi, com apoio de toda máquina milionária de Assis
Chateaubriand e seus Diários Associados.
Tudo cotada! A rixa teria começado aí. E não tinha jeito, ou
você era Emilista ou Marlenista, contenda que foi das mesas dos bares às Forças
Armadas Nacionais: Emilinha era a favorita da Marinha, Marlene da Aeronáutica.
Bem, esse lance de mega corporações entrarem no jogo e
definirem vitoriosas pra mim já seria o bastante para apoiar Emilinha. E mais!
Olhar de soslaio para todo o concurso em si.
Mesmo sendo muito importante ser Rainha do Rádio, Emilinha
levaria quatro anos para se candidatar novamente. Em 1951 foi a coroação de
Dalva de Oliveira e em 1952 da santista Mary Gonçalves (que derrotou a favorita
Adelaide Chiozzo) .
Os ventos mudaram em 1953, quando Emilinha resolveu finalmente se candidatar de novo. Em janeiro daquele
ano publicou a seguinte notinha no Diário da Emilinha, coluna que mantinha na
Revista do Rádio:
“E o nosso concurso da "Rainha do Rádio", hein? Estou confiante nos meus fans, na marujada, em todos vocês. Aliás, a esse respeito, devo esclarecer que fiquei profundamente emocionada com o gesto da Hébe Camargo, estrêla da Rádio Nacional de São Paulo. Ela seria a candidata natural da sua emissora. Entretanto, resolveu que não se candidataria, para fortalecer minha votação. E está, mesmo, trabalhando ativamente para que eu consiga a vitória final. Hébe é um amor, não acham?”
Hebe era Emilista, cabo eleitoral e tudo mais. O compositor Ary Barroso foi enfático: ""Se o Brasil prefere Emilinha, pra quê discutir?". E batata! Em 1953
finalmente Emilinha se sagrou Rainha do Rádio com 691.515 votos.
A diferença dela para a segunda colocada, Ângela Maria, segundo
a revista Manchete em fevereiro daquele ano, foi de 450. 000 votos, a maior distância já alcançada no
concurso! A Sapoti seria coroada em 1954.
Com sabor de um antigo sonho realizado, uma injustiça reparada, os fãs foram à loucura! Tomados de emoção foram às ruas celebrar a nova Rainha do Rádio.
Com sabor de um antigo sonho realizado, uma injustiça reparada, os fãs foram à loucura! Tomados de emoção foram às ruas celebrar a nova Rainha do Rádio.
Além do honroso título, as candidatas , que ficaram por
cerca de um ano em campanha, também levaram pra casa prêmios. Emilinha ganhou
um carro “Rover”, Ângela Maria um
aparelho televisor, a terceira colocada uma geladeira , a quarta uma eletrola,
a quinta um faqueiro e a sexta uma máquina de costura.
Emilinha relembrou ao Globo em 1997 que a rivalidade delas “Era
uma guerra. Ficamos muitas vezes sem nos falar. Mas uma nunca desejou mal à
outra”. Não eram inimigas, eram rivais.
Quando Emilinha faleceu em 2005 todas as matérias se
referiam a ela como Rainha do Rádio, assim como quando Marlene partiu em 2014.
Não houve perdedoras nessa disputa.
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