Produzido em 1953, O Bígamo (The Bigamist) está longe de ser
um grande filme. Dirigido por Ida Lupino, guarda pontos que o fazem
especial acima de alguns melodramas considerados clássicos.
A história é sobre casal classe alta que ao dar entrada nos
papeis para adotar uma criança aceita ter sua vida investigada. Nisso
descobre-se que o marido, um vendedor bem sucedido, tem uma segunda família, já com um filho em outra cidade.
Contando assim, poderíamos esperar um delicioso sensacionalismo
suburbano. Mas o roteiro não toma lados fáceis embora flerte com o cinema noir,
o que nos faz esperar a vilania de algum personagem, coisa que nunca chega.
Muito pelo contrário! Personagens carismáticos às voltas com as idas
e vindas da vida mostradas bem longe de qualquer maniqueísmo e pieguismo.
Num tempo em que bigamia era crime, O Bígamo é um filme adulto no sentido maduro da palavra. Corajoso em mostrar a vida como nenhum grande estúdio se atreveria.
Além de dirigir Ida Lupino interpreta a outra, a garçonete solteira que se dá por feliz em ser ouvida por um homem desconhecido. Lupino assim
entrou para o então seletíssimo grupo de estrelas que também se dirigiram.
Se não eram comuns mulheres dirigindo filmes, imagina ainda
estrelarem ao mesmo tempo?! E ser dona da própria produtora, a Filmakers?!
O Bígamo guarda uma boa ironia. Foi escrito por Collier
Young que foi marido de Lupino até 1951 e em 1952 se casou com Joan Fontaine, a
co-estrela do filme.
Outro momento em família ali é a presença de Lillian
Fontaine, mamãe de Olivia de Havilland e Joan Fontaine. No cinema, Lillian e
Joan haviam trabalhado juntas apenas uma única vez, em em Ivy, a História de
uma Mulher (Ivy, 1947 de Sam Wood), mas nunca com Olivia.
Tanto Olivia quanto
Joan são naturais de Tóquio, Japão. O apartamento da personagem de Joan
Fontaine em O Bígamo é todo em estilo nipônico, mas por pura coincidência.
A Filmakers costumava reaproveitar estúdios de outras
empresas como forma de baratear as produções, o que talvez explique isso.
Aliás, a produtora de Lupino enfrentou maus momentos durante essas filmagens.
Seria uma co-produção com a antes poderosa RKO que estava
comprometida a distribuir o filme. Com o fim da RKO tudo sobrou pra pequena
Filmakers , o que prejudicou bastante o lançamento da obra.
Tanto que O Bígamo merecia ser bem mais conhecido do que é até
hoje. Não que sua ambiguidade tenha deixado de colecionar elogios da crítica nesses anos todos.
Em domínio público, o filme é facilmente encontrado na web e saiu algumas vezes em DVD no Brasil. Tem até legendado em português no Youtube.
Em domínio público, o filme é facilmente encontrado na web e saiu algumas vezes em DVD no Brasil. Tem até legendado em português no Youtube.
Antes de comentar, por favor, tenha consciência de que este espaço é disponibilizado para a sua livre opinião sobre o post que você deve ter lido antes.
Opiniões de terceiros não representam necessariamente a do proprietário do blog. Reserva-se o direito de excluir comentários ofensivos, preconceituosos, caluniosos ou publicitários.