Conselhos de Lourdes Mesquita para velórios

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Cerimonialista requisitada na alta roda carioca, Lourdes Mesquita tem opiniões para absolutamente todas as ocasiões. Todas mesmo! Da cor do mouse e do refresco num jantar informal a como se vestir e comportar num velório.

Quase todo o capítulo 140 da novela Água Viva, texto brilhante de Gilberto Braga escrito em 1980, é sobre o velório do grã fino Miguel Fragonard. Olha! Eu pagaria pra rever tudo num palco (se Beatriz Segall ainda estivesse conosco).
Especificamente a parte em que a Lourdes explica como se vestir ao namorado Alfredo (Fernando Eiras) e à amiga Selma (Tamara Taxman). E o principal, como ela faz para ir nesses lugares, ser vista e sair ilesa de qualquer chatice.

Começando pela roupa, terno só se for um daqueles velhinhos, você vai velar um defunto, não vai a um casamento. “Um homem bem vestido num velório é de uma deselegância total!”, tem que dar uma impressão de dor, sofrimento.
“Tem que parecer que chegou no armário, pegou a primeira roupa que encontrou se vestiu em três minutos e saiu. Mesmo se você tenha ficado uma hora se preparando”. E nada de fazer a barba! “Nessas horas um pouco de barba compõe tanto num homem...”.

E engana-se quem pensa que ninguém vai reparar. Lourdes lembra que num velório as pessoas ficam a noite toda sem nada pra fazer, é lógico que reparam, “Mais do que se estivessem numa festa!”.
Ela ainda se orgulha de ter desenvolvido certo comportamento padrão para essas ocasiões por detestar que fiquem puxando assunto. Ela entra e não cumprimenta ninguém usando um truque que inventou pra ser notada sem precisar ficar naquele horror a noite inteira.

E é bem simples: “Entro compungida, sofreeendo... Sabe aquela Lourdes Mesquita que não aguenta de dor? Vou direto no caixão, fico lá uns 10 minutos em contato com o defunto... Depois eu faço uma pequena oração... Sem cumprimentar ninguém naturalmente! Fico lá rezando e daí eu saio, desarvorada de dor... Vou lá fora, tomo um cafezinho tal e coisa, depois eu volto, fico mais uns 10 minutos ali e saio discretamente... As vezes não vou nem no enterro no dia seguinte! Sabe qual é?”
O importante, segundo ela, é passar a imagem de sofrimento e é essa imagem que tem que ficar. Mas não é de qualquer jeito, tem que se preparar, pensar em coisas tristes, pensar em seus mortos queridos “Se não, não convenço ninguém!..."
No velório do renomado cirurgião plástico (Quem matou Miguel Fragonard?) ela tem a oportunidade de demonstrar ao jovem namorado e a amiga como isso dá certo. Lá vem a Lourdes Mesquita sofredora sem cumprimentar ninguém,  que fica horas rezando no caixão.
Ela fica mesmo muito tempo ali, quietinha enquanto todo o  resto do capítulo se desenrola. Talvez só a viúva sofreu tanto quanto ela, que francamente, nem gozava de muita intimidade com o finado 

O capítulo inteiro é maravilho em roteiro e interpretação de todo o elenco, uma das melhores coisas que nossa TV já produziu e tem exatos 40 anos. Uma aula de leveza e bom humor numa parte da trama bem pesada, que envolve um misterioso assassinato.
Destaco aqui especificamente a parte da vilã por sempre voltar na minha memória. Sempre que tem velório de algum famoso paro pra observar as vestimentas invariavelmente ela ficaria estarrecida!

Gente que parece que tá indo pra algum editorial de moda, cabelo arrumado, oclão vintage... “É de uma deselegância total!” penso cá com os meus botões.

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