Escrito por alunos de escola pública, especial de A Feiticeira usou "Blackface" contra o racismo

0
Hoje refutamos veemente o recurso blackface, quando atores brancos se pintam de negro para fins principalmente cômicos, mas A Feiticeira teve um episódio histórico onde “brincou” com as diferenças raciais e foi bem elogiada. Como o episódio em si foi produzido é digno de virar filme!

"Sisters at Heart" é o 13º da sétima temporada e foi ao ar no natal de 1970. Com principal apoio de Elizabeth Montgomery, a protagonista Samantah, seu roteiro foi escrito por cerca de 26 afro adolescentes do equivalente à 8ª série de uma escola pública da Califórnia.

Marcella Saunders era uma professora de 23 anos que ao começar a lecionar na Jefferson High School em 1969 se espantou como aqueles estudantes, em sua maioria negros, não sabiam ainda ler, escrever e muito menos compreender para desenvolver raciocínios. Ela teve a ideia de usar a TV como ferramenta pedagógica já que eles pareciam gostar bastante de séries.
Sanders visitando os estúdios de A Feiticeira
Enviou cartas a produção de três programas dando a ideia de os ajudar a desenvolver um roteiro: A Feiticeira, Room 222 e Julia, sendo que os dois últimos possuíam protagonistas negros. Apenas a equipe de A Feiticeira respondeu!

Elizabeth Montgomery e o marido William Asher (que dirigiu o episódio) entram em contato com a professora e ficaram comovidos com a situação daqueles alunos, onde apenas 1% podia ler. O próprio casal financiou a ida da turma aos estúdios para assistir a uma filmagem e assim os incentivar a roteirizar a principio sem compromisso de que aquilo iria parar na TV.
Bastidores de A Feitceira
Meses depois quando enviaram o roteiro de "Sisters at Heart" (embrulhado como um presente para Montgomery) todos gostaram bastante da qualidade. Montgomery apontou de que precisava de ajustes, mas estava bem acima de muitos que havia lido naqueles sete anos de programa.

As crianças gostavam de A Feiticeira mesmo tento um elenco todo branco (ao contrário de Room 222 e Julia) por mostrar um casal miscigenado, um mortal e uma bruxa. Eles receberam a visita de uma roteirista profissional que a principio se assustou com as condições precárias da escola, mas se apaixonou pelo texto deles e os prometeu que seria filmado exatamente como queriam e que qualquer mudança seriam consultados.  
Alunos da escola pública participando das filmagens de "Sister at Heart"
Desse ponto em diante até a produtora Screen Gems e o Governo da Califórnia ajudou no transporte e permanência dos alunos durante leituras de roteiro, ensaios e filmagens do episódio.

"Sisters at Heart"  virou um especial de natal que é aberto com um depoimento de  Elizabeth Montgomery explicando o quanto o que os telespectadores estavam prestes a assistir era especial. "Foi criado no verdadeiro espírito do Natal... concebido à imagem da inocência e cheio de verdade" diz a atriz com os olhos marejados.
A trama bem simples fala sobre uma amiguinha afro americana de Tabitha que vai na casa dos Stephens  passar um tempo quando seus pais precisam viajar a negócios. Enquanto isso  Darrin, que é publicitário, precisa fechar uma campanha com o dono de uma fábrica de brinquedos que é racista.
Numa visita a casa dos Stephens ele encontra a amiga de Tabitha e fica ultrajado achando que Darrin tem um casamento inter-racial. Decide não prosseguir com o negócio milionário.

 Tanto Tabitha quanto a amiga ainda ouvem de crianças no parque que não podem ser irmãs porque têm cores diferentes o que faz com que a pequena bruxa tente deixar a amiga branca e depois ela mesma em negra.  
Ficam felizes com pintas coloridas nos rostos referentes à pele uma da outra. Samantha percebe o que está acontecendo entre as meninas e explica que não é a cor de pele que as vai impedir de serem irmãs.

Na festa de natal o tal empresário descobre que cometeu um engano, se desculpa e oferece novamente a conta de sua empresa a Darrin, que, sabendo dos motivos da recusa anterior, não aceita mais trabalhar para ele. E aí Samantha usa feitiçaria para que o milionário veja todos como negros inclusive a si mesmo.
Nesse ponto todo o elenco aparece de blackface por alguns minutos. Evidente que nos dias de hoje isso jamais seria aceito, foi ao ar dentro do contexto acima explicado, seguindo a visão infantil dos alunos.

Acaba com a reconciliação de todos e a protagonista dizendo a frase "Estamos integrando o peru: carne branca e escura" que Spike Lee utilizaria no filme Ela Quer Tudo (She's Gotta Have It, 1986). O episódio ganhou um Emmy especial naquele ano.

"Sisters at Heart" era o episódio favorito de Elizabeth Montgomery. É evidente que há muito a ser debatido sobre ele agora no século XXI. Críticos observam como problemática a solução mágica de resolver o racismo e os brancos “muito bonzinhos” como os únicos com autoridade para julgar o racismo como algo errado.
Todos os alunos tiveram seus nomes nos créditos do episódio
E os alunos? Segundo Montgomery em entrevista na época, Foi criado um fundo em nome deles para o recebimento de copyrignts do texto e “já conseguiram comprar novos equipamentos para as salas de aula e adquirir novos materiais didáticos" .

Um dos menino declarou: “Nós, estudantes da Jefferson High, nunca temos a chance de provar o que somos capazes de fazer, porque alguns acham que estamos longe demais para tentar ajudar. Mas há pessoas que nos darão o chance de provar o que podemos fazer ".

Veja também:
Samantha Stephens fumante apenas uma vez
Ousadias e inovações de Samantha

Postar um comentário

0Comentários

Antes de comentar, por favor, tenha consciência de que este espaço é disponibilizado para a sua livre opinião sobre o post que você deve ter lido antes.

Opiniões de terceiros não representam necessariamente a do proprietário do blog. Reserva-se o direito de excluir comentários ofensivos, preconceituosos, caluniosos ou publicitários.

Postar um comentário (0)