Ruth de Souza, uma das mais prestigiadas atriz da nossa cultura,
estava no auge em 1953 quando a imprensa nacional noticiou que Joan Crawford
viria ao Brasil para contracenar com ela. “Parece até impossível! Eu, ao lado de
Joan Crawford, a quem sempre admirei tanto!” disse a brasileira à revista Manchete
na época.
A atriz, que faleceu no último domingo (29) aos 93 anos de
idade, pedia cautela à imprensa sobre o assunto: “Por enquanto é tempo de
esperança, não de notícias”. Mas já havia saído no New York Times, inclusive
com depoimento de Joan Crawford se declarando empolgada com a possibilidade de
trabalhar “ao lado de uma grande atriz brasileira”.
O filme era Promised Land (Terra Prometida), adaptação da
autobiografia de Joan Lowell e seria rodado em Goiás. O livro narra as
aventuras de Lowell, ex-estrela hollywoodiana do cinema mudo, pelas selvas
brasileiras onde passou a viver.
Em 1953 Lowell confirmava a produção se dizendo
feliz com a estrela Ruth de Souza interpretando no filme. Quase 20 anos atrás a ex atriz e autora se apaixonou pelo Capitão durante um
cruzeiro de turismo e viveu no Brasil uma aventura selvagem digna de Hollywood.
Joan Lowell e Charles Chaplin em Em Busca do Ouro (The Gold Rush, 1925) |
Ao desembarcar no porto de Santos (SP) ela estava decidida a deixar tudo pra traz, aprender português, pescar e caçar para se alimentar e ir sozinha até o Cerrado esperar pelo amado que chegaria após suas última viagem. Acreditava que a região central do país era ideal para fugir dos holofotes e recomeçar a vida.
Só a publicação do livro Terra Prometida já havia atraído
muitos astros e estrelas a Anápolis (Goiás), como a ganhadora do Oscar Janet
Gaynor e o marido Adrian. O discreto interior de Goiás passou a ser alvo das celebridades como Cary Grant
e Claudette Colbert, que preferiam a tranquilidade ao invés da agitação da então
capital Rio de Janeiro.
Bem, Ruth de Souza estava certa! O filme jamais saiu do
papel e Joan Crawford nunca filmou nada aqui no Brasil nem trabalhou com Ruth de Souza.
Dois anos depois, 1955, Joan Lowell explicou a mesma Revista
Manchete o motivo do projeto ter fracassado. Estava tudo certo com estúdio
americano, Joan Crawford seria a estrela, mas, uma lei brasileira (que a
revista diz que ninguém ouviu falar), exige que um argumento para um filme
brasileiro tenha que ser de roteirista nato.
Acreditava que os problemas eram passageiros e que o filme
ainda sairia. Sua exigência era que se fosse ver sua história na tela que fosse
realista, sem índios ferozes, onças bravas ou cobras, coisas que os americanos insistem.
Joan Lowell no portão de sua fazendo em Goiás / Reprodução G1 |
“Eu gosto demais do Brasil para mentir e deturpar a verdade
brasileira” garantiu afirmando que o sucesso do seu livro havia sido exatamente
este, nada mais do que o que viu e sofreu ao cruzar sozinha a BR-010 (hoje Belém-Brasília)
na metade da década de 30. Joan Lowell (ou Dona Joana) faleceu no Distrito
Federal em 1967, aos 61 anos de idade.
Por mais apetitosa que a história de Terra Prometida pareça,
até hoje, 2019, ela jamais foi adaptada ao cinema. O livro caiu em esquecimento
e sua autora Joan Lowel é considerada pelo Los Angeles Times como a avó das
biografias fakes por seu primeiro livro (que narrava seus dramas familiares na infância,
lançado enquanto ainda era famosa como atriz, antes de vir ao Brasil), ter sido
desmascarado como pura fantasia após denuncias de vizinhos e investigações bem
básicas da imprensa.
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