Marta Kauffman, que criou Friends junto a David Crane, concorda
com todo mundo que fica chocado com algumas piadas da série hoje. Esta semana
fez 15 anos que o programa chegou ao final, mas continua sendo muito assistido
e debatido graças à Netflix.
Em entrevista ao USA Today, Kauffman confessou que
particularmente lhe incomoda as cenas com o pai do Chandler. Interpretado pelo
super estrela Kathleen Turner, pai e filho se reencontram num show em Las
Vegas, onde agora o progenitor é uma mulher.
Ela se justifica dizendo acreditar que não tinham
conhecimento sobre transgêneros naquela época. “então não tenho certeza se
usamos os termos apropriados. Não sei se teria conhecido esses termos naquela
época. Acho que a maioria deles.", explica a autora.
Ao todo foram três episódios da sétima temporada, exibidos em
2001. Muito antes disso o “pai” do Chandler era tema constante do programa, quando
o personagem relembrava momentos constrangedores de sua infância.
Particularmente sobre sexualidade, pelas memórias de quem já
era adulto, com vida sexual ativa e assistiu à série desde 1995, quase não
havia nada de errado mesmo. Muito pelo contrário! Friends era um show avançado, que
tratava homossexualidade, na maioria das vezes, dentro do contexto natural do
cotidiano.
Ross tinha uma ex-esposa lésbica que se casa com outra
mulher!!! Uau! O máximo que víamos de LGBTQ+ na televisão eram a Vera Verão na
Praça é Nossa ou personagens meio barro, meio tijolo como a trans (?) Sarita na
novela Explode Coração (1995 de Gloria Perez).
Como assim duas pessoas do mesmo sexo falando abertamente que são um casal e ainda formando uma família? Havia também a solteirona protagonista do seriado Ellen desde 1994, mas ela só assumiria ser lésbica na quarta temporada, em 1998, quando Friends já estava estabelecido!
No mesmo embalo surgiria Will & Grace também em 1998 e lembro da sensação estranha
de me ver retratado em um programa de TV de forma ainda mais ampla. Will &
Grace era na maioria das vezes um programa ruim, com atores teatrais repetindo infinitamente
gags, mas era quase uma obrigação assistir por ser reconfortante.
Voltando a Friends, quando vinham piadas com a ex do Ross
ser lésbica, sabíamos que era uma tolice pelo Ross ser um tolo! Lá na frente
ele acaba por recusar um homem para ser babá da Emma e sabemos que não foi uma atitude louvável, mas por Ross era um
idiota.
Chandler e suas lembranças paternas incomodavam, mas o reencontro com o pai foi emocionante, principalmente com a
Monica insistindo na reaproximação deles. É claro que os termos não estavam
corretos, a escalação de uma mulher cis para o papel também não, mas estava dentro de um contexto e fez parte da trajetória de todos nós.
Simplesmente sou fascinado por I Love Lucy, acho muitos
momentos não menos do que brilhantes, mas não esqueço que aquilo foi produzido
em 1953 quando a protagonista apronta e demonstrar ter medo de apanhar do
marido. Não é renegando erros passados que se caminha.
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