Essa edição do
concurso foi no Hotel Quitandinha quase que a portas fechadas. Não teria até então empolgado o grande público brasileiro até a perdedora ir parar nos jornais, revistas
e rádios acusando o resultado de falcatrua.
O país eternamente dividido entre Emilinha e Marlene assumiu
a contenda Martha e Patrícia. Havia apenas seis competidoras, mas Patrícia (ou
Pat, como gostava de ser chamada) nem chegou as finalistas e se considerava
favorita!
A página Miss Memorabilia conta que assim que saiu o
resultado do júri (que entre outros incluía o poeta Manoel Bandeira, o pintor
Santa Rosa e os escritores Fernando Sabino e Paulo Mendes Campos) Patrícia
alardeou a marmelada. Ela justificou a má vontade do júri – que denominou de
boçalíssimo - por ser neta do poeta Coelho Neto (o júri era modernista)!
Disse também que o vestido de gala usado por Martha Rocha
era horroroso e parecia traje de anjinho de procissão. Para Patrícia Lacerda
não havia ninguém menos preparado a ostentar a faixa de miss Brasil do que a baiana
de olhos claros: “não tem classe, não sabe usar um vestido, não sabe falar, não
sabe andar, não sabia nem onde fica Long Beach, tem pernas finas e tortas, tem
muito ventre e é deselegante”.
Logo mais, em agosto daquele mesmo, ano o Brasil se depararia com o
suicídio do Presidente da República Getúlio Vargas. É obvio que o assunto do
país mudou de foco, porém, em janeiro de 1955, durante a retrospectiva,
a revista Manchete relembrando as personalidades de destaque no ano anterior (Nelson Rodrigues entre elas) deu uma boa notinha sobre Pat Lacerda e nada sobre a
vencedora.
PATRICIA LACERDA - Já era artista de cinema. E resolveu ser Miss Universo. Não Chegou ao Miss Brasil - por causa de Marta Rocha e mais duas polegadas. Pôs a boca no mundo. Tornou-se a mais feroz inimiga da baiana. E varou o ano com o cartaz.
“Já era artista de cinema”. O concurso de miss era um
trampolim para as beldades alçarem o estrelato. Tanto que um dos patrocinadores
dessa edição de 1954 era a Universal Studios que ofertava à vencedora um
contrato para ir trabalhar em Hollywood. Prêmio que Marta Rocha recusou.
A brasileira voltou de LosAngeles desencantada. Achou o ambiente hollywoodiano muito artificial e que não
se acostumaria aquilo, ainda desmitificou o caché alegando que com os contratos
que lhe ofereceram “mal poderia se sustentar na Califórnia”.
Já Pat Lacerda, “que já era artista de cinema”, havia
aparecido aos 15 anos na comédia Com o Diabo no Corpo (1952 de Mario del Rio) e
naquele mesmo ano em que tentou ser miss esteve nas telas em Rua Sem Sol (de Alex Viany) ao lado de Glauce Rocha, Doris Monteiro
e Angela Maria. Faleceu em 1973, aos 37 anos, pouco depois de se afastar do show
business.
Veja também:
Miss Universo 1954: Duas polegadas a mais
A baiana que recusou Hollywood
Oportunidade de fama e fortuna
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