Mesmo de época, a minissérie Shogun é acusada, entre outras
coisas, pela popularização de hábitos no ocidente. Com a internet estreitando o
mundo, será muito mais difícil que ocorram fenômenos
culturais como a produção estrelada por Richard Chamberlain e Toshiro Mifune
em 1980.
Consta no documentário The Creation of Shogun (presente como
extra no DVD) que até aquele ano a população dos EUA não tinha o hábito de frequentar
restaurantes japoneses ou de comer sushi. Foi com o enorme sucesso da adaptação
do livro de James Clavel para a TV que as coisas teriam mudado.
Um bom registro do estranhamento que a comida causava está no filme Clube dos Cinco ( The Breakfast Club de John Hughes) de 1985. Causa repulsa a todos quando a jovem descolada Claire (Molly Ringwald) diz que vai almoçar sushi e explica o que é: arroz, peixe cru e algas marinhas.
Se hoje é banal e em qualquer parte tropeçamos em uma
temakeria ou coisa que o valha, é provável que seja culpa de Shogun. Claro que
foi a mania nos EUA a partir de 1980 que puxou todo o planeta ao consumo, não o programa em
si, afinal, em outros países a minissérie não teve o mesmo impacto.
O Brasil é um caso sintomático e mostra ainda como as coisas
demoravam a chegar até nós. Uma pesquisa no acervo do jornal Folha de São Paulo, por mera curiosidade, mostra que antes de 1980 o termo “Sushi” era quase ausente das publicações do
jornal.
Sendo que a maior comunidade japonesa fora do Japão fica em
São Paulo. Há registros bem anteriores de consumo de culinária japonesa no
bairro da Liberdade por ocidentais, como, por exemplo, no filme Noite Vazia
dirigido por Walter Hugo Khouri em 1964.Mas aí a poder chamar de “popularizado”, são outros quinhentos, né? Era uma elite que frequentava o “exótico” bairro paulistano, não um quiosque em shopping center ou uma bandeja de sushi de manga num quilão da vida.
Antes de ser exibido na televisão daqui, a minissérie Shogun
apareceu nos cinemas brasileiros em 1981! Para isso, as 12 horas originais
foram condensadas em duas, o que gerou reclamações da crítica, mas ainda assim,
conseguiu ficar meses em cartaz.
Francamente não sei
como sem uma dezena de horas ainda pode fez algum sentido. Esta versão diminuta
também foi distribuída pela Paramount nos cinemas da Europa e posteriormente utilizada
nos EUA quando saiu pela primeira vez em videocassete.
Na televisão, Shogun foi anunciado como pertencente ao
pacote que a Bandeirantes (atual Band) exibiria em 1982, mas só estreou
mesmo na TV Globo em 1984. Quatro anos após a estreia original e ainda
reeditada em 10 capítulos, dois a mais do que na americana NBC.
Testemunharíamos o sushi aparecer com naturalidade no horário nobre em 1988, na novela Vale Tudo. A cosmopolita jornalista Solange Duprat (Lídia Brondi) o serve em casa ao suburbano bonitão André (Marcello Novaes).
A ideia era seduzi-lo pra fazer um filho de forma independente e sushi parecia ser um bom caminho. Pois é, 1988, uma moça bem informada coisa e tal, ignorando a necessidade do sexo seguro, mas pelo menos todos já sabiam manusear o hashi com desenvoltura.
Update: O Jorge Wakabara lembrou da série brasileira Armação Ilimitada de 1985. Realmente no primeiro episódio (Um Triângulo de Bermudas) aparecem alguns sushis porque o Juba tem uma namorada japonesa bem estereotipada e apenas o casal os come, o resto, inclusive o menino Bacana (que diz não gostar dessas comidas de palitinho), comem cachorro quente.
Update: O Jorge Wakabara lembrou da série brasileira Armação Ilimitada de 1985. Realmente no primeiro episódio (Um Triângulo de Bermudas) aparecem alguns sushis porque o Juba tem uma namorada japonesa bem estereotipada e apenas o casal os come, o resto, inclusive o menino Bacana (que diz não gostar dessas comidas de palitinho), comem cachorro quente.
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