Dalva de Oliveira, a nossa Branca de Neve

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Estrelas que Nunca se Apagam
 Ao ser lançado no Brasil em 1938, o longa Branca de Neve (Snow White and the Seven Dwarfs, 1937) trazia não apenas (para muitos) o ineditismo de um longa em desenho animado, mas as vozes em português. No elenco muitos astros radiofônicos, incluindo a protagonista, Dalva de Oliveira pouco antes de se tornar A Rainha do Rádio.

O incrível é que a grande Dalva dividiu a personagem. Ela fez apenas as falas, quando Branca de Neve canta ouvia-se a voz da Maria Clara Tati Jacome, soprano que tinha acabado de ficar famosa, mas que se aposentaria logo depois, para cuidar da família.
Essa histórica dublagem contou com direção do lendário músico Carlos Alberto Ferreira de Braga, conhecido como João de Barro ou Braguinha, nos estúdios Sonofilms do Rio de Janeiro. Como forma de agradecimento pelo desempenho, Disney ofereceu a Braguinha um relógio de ouro e repetiram a pareceria.   
"Jamais sera creada outra obra egual a esta!"                                  Filmic Light
O filme, como se sabe, foi um estrondoso sucesso, com cópias que ficaram sendo exibidas por anos no país e Portugal (que ainda exibiu versões com áudio original e legendas em português). Tanto Dalva de Oliveira quanto Maria Clara Tati Jacome viajaram até Lisboa, para a pomposa noite de estreia no final de 1938.

Era tecnicamente distante da qualidade que teríamos em dublagem. Para termos uma ideia, segundo o historiador Leo Forli, pouco antes de morrer Braguinha teria dito que para fazer o efeito do eco, na cena do poço, eles foram gravar no banheiro.
De tanto serem exibidas, além dos problemas técnicos e de sincronia do áudio, as cópias foram ficando de difícil compreensão. Ainda algumas salas, problema brasileiro crônico, tinham um sistema ruim de autofalantes, porque em sua maioria exibiam filmes estrangeiros legendados.

E foi assim que com o passar do tempo essa dublagem se perdeu. Em 1965 a Disney mandou redublar com um elenco totalmente novo e é essa versão que existe no VHS, DVD e foi exibida na TV Globo nesta década.

Como, com tantas cópias algo assim desapareceu é de se estranhar. Mas, nem tudo está perdido, literalmente.

Em 1945, apenas sete anos após a estreia no Brasil, a gravadora Continental convidou o Braguinha para produzir uma série de discos com historinhas infantis, começando justamente por Branca de Neve e Os Sete Anões.

Praticamente todo o elenco da dublagem, além da trilha de efeitos e musicas do longa foi reaproveitado. É possível ouvir os long-plays 75 rpms no player abaixo, gentilmente digitalizados por Charles dos Santos e depois reupado por outros.

Com sua grande maioria esquecida hoje, o elenco era composto por celebridades da época, que se tornaram ainda mais populares com o sucesso do filme. Acho que vale identificar os principais (com algumas informações de Leo Forli).

 Branca de Neve: Diálogos de Dalva de Oliveira, atriz e uma das cantoras mais conhecidas do Brasil entre as décadas de 40 e 50. Estava com 21 anos na época da dublagem.

Musicas foram cantadas por Maria Clara Tati Jacome, soprano que havia ficado conhecida em 1937, numa carreira que logo se encerraria em 1940, quando se casou, preferindo cuidar da família. Estava com 33 anos quando dublou o que seria seu único trabalho relevante.

 Príncipe: Carlos Galhardo emprestou sua voz ao príncipe falando e cantado. Vivia seu auge em plena Era do Radio aos 25 anos de idade.  Teve uma longa trajetória profissional, até falecer em 1985. Chegou a gravar incríveis 580 discos 78 rpm.
 Rainha Má: Atriz, cantora e personalidade do rádio, Cordelia Ferreira estava com 39 anos de idade. Considerada uma pioneira na profissão de radioatriz, se especializou em interpretar vozes fortes em adaptações radiofônicas de sucessos de Hollywood entre os anos 30 e 50. Antes disso, no princípio do século 20, apareceu nas primeiras experiências cinematográficas do Brasil .
Bruxa: Estephania Louro estava com 61 anos quando fez a sala de cinema tremer de medo com sua gargalhada malvada. Faleceu em 1942, portanto, não é sua voz no disco da Continental. Teve quatro filhas atrizes, incluindo Margot Louro, esposa de Oscarito. Muito popular no Brasil entre os anos 20 e 30,  seu nome batiza uma rua na cidade de São Paulo (grafado como Estefânia).

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