A super estrela Gloria Swanson contava com orgulho das
perigosas filmagens de Macho e Fêmea (Male and Female, 1919 de Cecil B. DeMille).
No filme ela deixa um leão de verdade colocar as patas sobre suas costas nuas: "Foi a coisa mais impressionante, perigosa, fascinante... Suponho que o perigo seja sempre assim, eu não sei, mas foi algo que eu nunca vou esquecer".
Demille havia cancelado a cena por achar muito risco para a
estrela (uma das maiores do cinema mudo). Segundo entrevista que Swanson concedeu em
1981 (aos oitenta anos) ela foi até o diretor e implorou para fazê-la.
Sabia que era um momento importante para o diretor, então lhe
lembrou que quando ela era criança sua avó tinha a reprodução de quadro onde se via um
grande leão com as patas em uma treinadora morta. Então, ela estava disposta a
representar a imagem que tanto lhe fascinava e não, mesmo sabendo do perigo.
Ao chegar para trabalhar naquele dia sentiu o peso do que
faria ao perceber que Mr. DeMille estava segurando um pedaço de pau como
arma, assim como a presença de dois treinadores igualmente armados. Para piorar,
diziam que a fera havia matado alguém semanas antes.
Mas o show não podia parar e podemos imagina Swanson dizendo
“Estou pronta para o ato de bravura, Mr. DeMille”. Um dos treinadores foi até
ela e perguntou, se desculpando pela indiscrição, mas era para sua segurança se
estava menstruada, não estava, para ela o maior risco era seu figurino pesado
com quilos e quilos de pérolas e contas.
Na hora de rodar, por um instante abriu uma fresta de seus
olhos. Sem levantar a cabeça, viu as pessoas da equipe técnica imóveis,
absolutamente silenciosas. “Entre eles, alguém vestindo uniforme, com seus
olhos parecendo quase fora de sua cabeça, era papai. Sua boca estava aberta de
horror com a visão de sua filha única ao lado de um leão que ruge sobre ela. Foi o
nosso primeiro vislumbre de um ao outro em cinco anos.”
Aí pensamos nas maravilhas que chroma-key e computação
gráfica permitem hoje em filmes recentes que misturam humanos e animais ferozes
como Mogli: O Menino Lobo (The Jungle Book, 2016 de Jon Favreau). Menos risco, mas menos histórias pitorescas no
futuro.
Que bela história, que belo texto Miguel.
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