Não sou afeito a posts redundantes, escrever sobre o óbvio, mas algumas linhas sobre a versão 2014 de O Bebê de Rosemary (Rosemary's Baby) são irresistíveis. Até por ser uma refilmagem anunciada faz tanto tempo, sendo que escrevi sobre ela pela primeira vez em 2008.
O desastre era eminente, mas nem o tinhoso imaginaria a montanha de lixo que a TV produziria. Lembrando que não sou purista, entendo que refilmagens serão sempre refilmagens, sem macular o original.
Sem falar que um filme não faz sucesso apenas por si só. Muito da sua aura pertence ao momento em que foi lançado nos cinemas, portanto, jamais conseguirá ser refeito em sua totalidade.
Para quem se pergunta por que então tantos remakes, reimaginações e similares abundam hoje em dia, entenda que há altos custos em divulgação. Lidar com um material já conhecido e celebrado, é por tanto, meio caminho andando para estimular interesse do público.
O Bebê de Rosemary em 2014 começa errando porque reconta um livro que já havia sido adaptado com boa fidelidade em 1968 por Roman Polanski. A minesérie em dois episódios poderia ser salva com a justificativa de fidelidade ao livro, mas vai ao caminho contrário.
Ao invés de Nova York da contracultura 60’s, transportaram a ação para Paris! Ao invés do casal de velhinhos vizinhos cheirando a naftalina (iguais aos que existem aos montes), entra um casal burguês parisiense com dinheiro infinito, e aí é ladeira abaixo.
Trocaram o assombroso edifício Dakota por um prédio dominado por bruxos ricos o que logo nos remete a malfadada série 666 Park Avenue (2012) que já bebia da fonte de O Bebê de Rosemary. Toda a dúvida (que impinge assustador realismo) sobre a existência da magia negra é dissipada por bruxos poderosos bem sucedidos financeiramente.
Mas tudo isso vá lá, se o roteiro em si não fosse terrivelmente improvável, mesmo se ignorássemos o filme já feito. Rosemary (Zoe Saldana) encontra no apartamento uma foto do antigo casal que morava ali e corre para uma delegacia denunciar porque eles têm “Algo diferente no olhar”. Oi?
Aí já sabe que a moça se matou pulando do prédio. Mostra a foto para uma amiga leiga que imediatamente reconhece o símbolo de uma igreja tatuada no braço de um deles.
Indo a essa igreja contam-lhe tudo sobre o passado do edifício e os sacrifícios que eram feitos ali. Assim, tudo claro e de mão beijada, sem espaço algum a qualquer tipo de suspeita ou investigação!
Ao invés de mouse com gosto estranho (de giz) ela toma uma sopa da fertilidade preparada pela vizinha, mais na cara do que gilete que é bruxa? Numa bela tarde Rosemary está passando creminhos pós-banho e vê pela janela os vizinhos fazendo uma espécie de ritual, todos de negro.
Pra finalizar, são tantos desacertos, mas tantos desacertos que eles usam um gato preto como aliado dos malvados. Como se os bichanos dessa cor já não sofressem estigmas suficientes nos últimos séculos.
E se é necessário apontar algo positivo, ou curioso, pode-se dizer que a mudança de cenário para a França indiretamente englobou outro filme de Polanski, O Inquilino (Le locataire, 1976), a terceira parte da chamada Trilogia do Apartamento. Mas não espere nem uma gota do suspense causado pelo isolamento linguístico, claro.
Veja também:
Veja o que aconteceu ao Bebê de Rosemary...
Joan Crawford eliminada de O Bebê de Rosemary!!!
Vizinha de Rosemary condenada por tentativa de homicídio
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Haha, mais um remake que nunca verei...o original é uma obra-prima, me impressiona até hoje, e olha que assisto desde criança. Comprei a edição (pelada) em Blu-ray ano passado e, mais uma vez, senti medo. Que filme de terror hoje causa isso nas pessoas?
ResponderExcluirHaha, mais um remake que nunca verei...o original é uma obra-prima, me impressiona até hoje, e olha que assisto desde criança. Comprei a edição (pelada) em Blu-ray ano passado e, mais uma vez, senti medo. Que filme de terror hoje causa isso nas pessoas?
ResponderExcluirMarcelo,dá medo pq é possível. Nos faz pensar, descobrimos a verdade junto à Rosemary... Tudo o que esse novo não faz.
ResponderExcluirMas o BR tem menos extras que o DVD? O DVD tem um doc bem legal da época.
Concordo plenamente, Miguel! Quanto ao Blu-ray, não tem NADA de extras, nope, niente, nadica de nada...uma vergonha né? Esse documentário do dvd é bem legal mesmo, mas nem ele foi mantido...pelo menos no quesito áudio e vídeo vale muito a pena, torna totalmente nova a experiência de rever essa obra-prima.
ResponderExcluirQue lástima. Então eu não o priorizaria na hora da compra.
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