Se me causou impressão? Acredito que nenhuma novata no período de sua iniciação em Hollywood tenha ficado tão cheia de complexos como eu durante as minhas primeiras quarenta e oito horas atuando na comédia de Hâl Wallis "I Walk Alone". Percorri toda a escala dos sentimentos desde o amor ao ódio, fisicamente expressados nos mais compridos beijos logo no primeiro dia.
Interpretei a "outra mulher" naquêle filme citado que tem Lizabeth Scott, Burt Lancaster e Kirk Douglas entre os principais personagens. Minha primeira cena foi com Kirk e foi um tal de beijar que nunca mais acabava, foi um verdadeiro teste de beijos. Passei praticamente todo o dia em seus braços tendo sido filmado onze ângulos da citada cena na qual fui beijada 44 vêzes por dever de oficio. Eu estava meio tonta quando tudo acabou e não é para menos. Beijar, naturalmente que é uma coisa boa, mas já tentou isso nas películas? É preciso colocar os lábios de jeito que o nariz não atrapalhe. É preciso fechar os olhos no momento exato e enquanto isso deve-se estar beijando com o pensamento concentrado nas linhas do diálogo que vem a seguir, um pouco complicado, não?
Meu segundo dia foi ainda mais difícil porque em vez de beijar Kirk Douglas, meu trabalho era esbofetear Burt Lancaster e me disseram que devia fazê-Io com bastante fôrça. Parece fácil, mas é preciso estar com a mão aberta bem visível a fim de atingir a face de maneira convincente, sem esquecer de que o som é tudo nos filmes sonoros. Ao fim do dia eu tinha o braço tão dolorido de tanto exercício feito para tornar bem verídica a cena que tive de ir ao hospital do próprio estúdio para os devidos tratamentos.”
E assim, a argentina Kristine Miller começou sua carreira em Hollywood. Quer dizer, segundo ela descreveu ao Jornal das Moças em 1948.
Em sua filmografia no IMDB constam 5 filmes antes do que ela descreve como seu primeiro dia de trabalho. Evidente que é bem mais interessante contar que começou beijando 44 vezes Kirk Douglas e esbofeteando Burt Lancaster.
Cria do produtor Hal Wallis (que ela cita na resposta acima), assim como Shirley Maclaine, Lizabeth Scott e Charlton Heston, acabou ficando restrita a papeis de coadjuvante. Só com Scott ela fez quatro filmes em personagens pequenos.
Lembrando que Lizabeth Scott é aquela que as bocas de Matilde de Hollywood apontavam como a verdadeira Eve da vida de Tallulah Bankhead. Boatos davam conta que a história de A Malvada (All Aboutt Eve, 1950 de Joseph L. Mankiewicz) era inspirada nelas, conforme você já leu a respeito aqui.
Aposentada das telas desde 1961, Kristine Miller hoje é quase uma ilustre desconhecida. Na biografia sobre Wallis, conhecido agora como criador de estrelas, disse que ele "não soube o que fazer" com ela.
Teve em Uma Vida Por Um Fio (Sorry, Wrong Number, 1948 de Anatole Litvak) como melhor filme a participar. Não foi creditada, mas esteve num sucesso estrelado por Barbara Stanwyck.
A foto maior é um oferecimento All Star Pics
[Ouvindo: Make It Easy On Yourself - Burt Bacharach]
Beijar 44 vezes Kirk Douglas e ficar de mimimi? Não quer deixa que eu faço!
ResponderExcluirLetícia, hehehe, se fazendo de trabalhadora sofriiiida!
ResponderExcluirAh, para...
ResponderExcluirBem, o contrário tb. não pegava bem, né?
Letícia, ela queria que as moças sonhadoras com o estrelato se mordesse de inveja!
ResponderExcluirSim, se fazendo de blasé.
ResponderExcluirLetícia, o mundo dá voltas, e a Lusitana...
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