Godzilla caboclo
E assim aquele pedacinho de terra, que nem é tão pequeno assim, já que em território é o segundo maior município do estado, ficou relegado à certa preguiça generalizada pelo coletivo. Todos são de famílias ex-quase-importantes. Perguntar “Família de quem?” é quase um mantra.
Tanto descaso com a vida além de suas janelinhas (de algum interesse grupal concreto, diga-se de passagem) faz com que Itapeva (Ita = pedra, peva = chata) se torne um lugar bem árido. Ali, quem tem olho cai fora!
Eduardo Silveira Gomes tinha! Dois grandes olhos que tudo viam e sentiam como poucos. Espetacular artista plástico, infelizmente falecido, nos 70 dirigiu lendários curtas em Super 8 tendo algumas figurinhas carimbadas no elenco. Uma querida me contou ter sido filmada correndo pela rua Dr. Pinheiro vestida de noiva!
Gomes também ilustrou com seu traço peculiar a fascinante e mitológica serpente gigante adormecida no subsolo itapevense. A imagem deste post é uma reprodução do fanzine Lay-Out, edição de Edson Panis e Renato Dutt que colecionei (e guardei!) em 1988 ainda de calças curtas.
O ninho da serpente
Como qualquer narrativa popular, muitas versões tentam dar sentido. O consenso é de que a serpente dorme com a cabeça exatamente embaixo da catedral de Santana, e a calda na região de um antigo espaço turístico (abandonado como tantos outros) chamado Pilão D’água.
Assim que ela acordar toda a cidade será soterrada! Dizem ter sido um qüiproquó quando as saúvas atacaram na década de 40, quase derrubando as torres da matriz, a maior construção em taipa do mundo! Para muitos era sinal do despertar fatal. Há até hoje dois cabos de aço as sustentando.
Sempre ouvi falar tratar-se de uma velha lenda indígena, mas hoje, dando uma busca na net cheguei ao texto do próprio Eduardo Gomes que me fez recordar uma versão mais saborosa. Uma mistura de Xica da Silva com trash japonês!
Há muito tempo atrás o romance entre um padre e uma moça causou logicamente escândalo na sociedade. Ao ser expulso da paróquia, o vigário em seu último dia na cidade, do alto da escadaria proferiu verdadeira praga diante da população atônita.
“ele teria dito em altos brados que a maldade e a intolerância, contidas no subterrâneo da alma das pessoas poderia destruir tudo o que de bom elas teriam construído.”
[Ouvindo: Stuck in the Middle With You – Stealers Wheel]
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