Este voluptuoso ser minúsculo

Muito antes de ser vulgar no pior sentido possível, ilustrando com suas sinuosas curvas qualquer tranqueira nos dias de hoje, Betty Boop foi considerada vulgar no sentido sexual mesmo ao ponto de ser banida. 

É de se ficar horas imaginando o que será tido correto pela moral e bons costumes daqui a 50 anos se levarmos em consideração que os cartoons de Betty estão atualmente nas prateleiras das locadoras como infantis.

A sexy criação de Max Fleischer (Popeye, Gato Félix, etc.) foi inspirada nas formas de Helen Kane, cantora de fama meteórica nos anos 20 graças ao hit “I Wanna Be Loved By You”, regravado em 58 por Marilyn Monroe para o filme Quanto Mais Quente Melhor.

Betty Boop recebeu a voz da Mae Questel em toda sua existência, inclusive na rápida aparição em Uma Cilada para Roger Rabbit. A mesma atriz também foi responsável por outra personagem de Fleischer, Olivia Palito. Falecida em 1998, a interprete da resistente mãe judia de Woody Allen em Contos de Nova York e a tia chata que morre no meio da viagem em Férias Frustradas de Natal, disse que o segredo de sua longevidade era não fazer escarcéu por qualquer coisinha.

O desenho causou tanto alvoroço na década de 30 que chegou a ser proibido pelos puritanos. Leia que primor a sentença do Juiz Supremo da Corte de Cassação de Nova York, John M. Woolsey:

“Visto que a principal característica do corpo da interessada é de ser provocante e de um apelo constante por seus decotes e trejeitos; visto que neste ser minúsculo se reúnem todos os lugares-comuns da provocação dos sentidos, e que isto constitui por toda parte onde o filme é mostrado um ultraje permanente e reiterado ao pudor, nós, juízes do Estado de Nova York, ordenamos a proibição dos filmes onde aparece a referida pessoa”.