Não dá pra saber se foi o fenômeno Star Wars, ou a idade dos diretores e produtores adultos entre as décadas de 70 e 80, mas o período foi rico de releituras pop do que havia sido feito 20 ou 30 anos atrás. De tantos exemplos, Os Aventureiros do Bairro Proibido (Big Trouble in Little China, 1986 de John Carpenters) é um dos que merecem atenção especial por registrar tão bem a época em que foi produzido.
De bilheteria modesta, foi apenas mais um primo pobre do milionário e oscarizado Indiana Jones, o herói mais famoso a beber da literatura pulp 40’s. Ao contrário do senhor Jones, a aventura retrô de Jack Burton se passa no presente, com todo o neon que os anos 80 tinham direito.
Não teve sequência por motivos óbvios, mas se tornou um cult saudosista graças aos VHS e suas incontáveis reprises na TV. Estreou na Globo na Tela Quente em 1989 e seguiu por anos a fio na Sessão da Tarde.
Ambas as edições digitais tiveram no Brasil uma tiragem bem limitada pela Fox, o que faz ser um filme bem difícil hoje. Ou melhor, custando bem caro em sites de comercio de usados.
O filme começa logo com o onipresente ator Victor Wong. No mesmo ano de 1986 ele esteve em outros ícones 80’s, como O Rapto do Menino Dourado (The Golden Child, de Michael Ritchie) e Surpresa em Shangai (Shanghai Surprise, Jim Goddard) – Madonna como fruto legítimo da época não ficaria de fora de filmes referentes aos anos 30, 40, mas isto será um outro post.
John Carpenter conta na faixa de comentários do DVD que o projeto começou como um western, e que ao invés de um cavalo Jack Burton usa um caminhão. Westerns espaguete já eram coisa do passado ali, mas muito do cinema popular hollywoodiano se aproveitou da estrutura celebrizada pelos longas italianos como Django.
O nome Rambo até soa como o do personagem de Franco Nero. E assim como “Os Aventureiros”, conta a história do herói solitário que resolve uma pendenga numa vila, no caso, um bairro asiático de Los Angeles.
Politicamente falando, mesmo tendo mais de 30 anos, o roteiro se preocupou em não mostrar um caucasiano resolvendo tretas de uma outra cultura. Por isso o personagem de Kurt Russel é atrapalhado e faz muita bobagem, enquanto o de Dennis Dun é bem centrado e competente.
Os incríveis efeitos especiais ópticos ou mecânicos envelheceram bem. Afinal, o filme transpira a anos 80, eles estão de acordo com a alma daquele universo.
A propósito, a última vez que havíamos visto esse capanga aqui no blog foi em 2014, quando sua persona inflável estava sendo leiloada no Ebay.
É, a posteridade às vezes não é fácil para antigos astros de Hollywood... Também empregaram soluções técnicas que remontam aos primórdios do cinema.
Além de compor a trilha sonora (toda de sintetizadores, tão geração Netflix...), o diretor John Carpenter literalmente assina o filme. Quando o vilão Lightning morre as últimas faíscas que ele solta formam caracteres chineses que significam “carpinteiro”.
Os capangas chamados de As Três Tempestades, lembram, inclusive pelos poderes, o personagem Raiden do jogo de enorme sucesso Mortal Kombat de 1992. O visual das Três Tempestades provavelmente veio da série japonesa Kozure ôkami, adaptação do Lobo Solitário de 1973.
A história retrata o submundo de um bairro chinês, mas tudo bem misturar com japoneses. Bem aventurada nossa senhora da cultura pop, que tudo absorve e reconta como bem entender. Amém?
Ainda sobre referências, o terrível David Lo Pan (James Hong, outro ator que encontramos em tantos outros lugares como nas séries Seinfield e Friends, mas sempre lembrado por Blade Runner) virou quase que sinônimo de vilão em fantasia com citações asiáticas. Um deles tirou o sono de muito gamer como chefão de fase de Comix Zone (1995) do Mega Drive.
Aqui no Brasil vimos algo parecido no gibi da Angélica número 3 de 1989. Raptada no Rio de Janeiro por um dragão vermelho, nossa heroína é levada aos subterrâneos do bairro paulistano da Liberdade, onde um feiticeiro chinês precisa de seus longos cabelos dourados para durar mais mil anos.
Hoje dá pra dizer que há muito mais subproduto de “Os Aventureiros”, do que houve em 1986, quando ele se mostrou ser um flop. Não faz muito tempo que lançaram lá fora um jogo de tabuleiro Big Trouble in Little China.
Se você quiser uma camiseta regata igual à de Jack Burton é fácil. Quem não quer essa linda confusão de símbolos chineses e japoneses?!
É possível encontrar em sites nacionais por cerca de 22 golpes! Basta googlar, minha gente.
E claro que algo que se tornou tão querido com o passar do tempo tenha demorado tanto a ganhar um remake, coisa que recentes noticia já dão como favas contadas. O ideal mesmo seria uma sequência com os mesmos personagens, ou outros, no mesmo universo.
Por mais fabuloso que o novo possa vir a ser, jamais chegará perto do original. Sem purismos, ele não foi feito na década de 80, e isso já o fará ser lançado com grande desvantagem.
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