Assassinato por asfixia de monóxido de carbono pode não ser coisa só de cinema

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É uma das formas de matar ou morrer mais comuns da ficção: intoxicação por monóxido de carbono. Principalmente nos filmes de detetive e mistério sempre tem alguém desmaiado na garagem e o vilão ligando o carro.

A lista de produções é imensa! Até Bette Davis apelou ao expediente para se livrar do marido inconveniente em A Barreira (Bordertown, 1935 de Archie Mayo).
Deixou o véio bêbado no banco de trás e saiu lívida e viúva para os braços do amante
Só Hitchcock explorou esse tipo de crime pelo menos em dois de seus filmes. Na prática em À Sombra de Uma Dúvida (Shadow of a Doubt, 1943) e citando como método em Pacto Sinistro (Strangers on a Train, 1951).

No Brasil, o recurso foi usado em telenovelas. O misterioso assassino do Zodíaco Chinês enviou para o além o passivo Eliseo na garagem da Família Ferreto de A Próxima Vítma (1995 de Silvio de Abreu).
E na vida real? Já houve casos de morte por intoxicação de monóxido de carbono? Sim, é uma morte bem comum, com uma lista extensa de famosos que inclui a escritora Sylvia Plath.

Nenhuma se compara a da atriz Thelma Todd que em 1935 abalou Hollywood. Sua morte com apenas 29 anos e uma carreira em ascensão (após inúmeros filmes, inclusive comédias de O Gordo e o Magro/ Laurel e Hardy) parece ser roteiro de um filme policial daquela época.
Todd foi encontrada morta dentro do seu carro no dia 16 de dezembro, dois dias depois de ter sido vista pela última vez. A garagem pertencia aos pais de Jewel Carmen, ex-atriz de cinema mudo e esposa de Roland West, amante da falecida e atual sócio (com quem tinha um restaurante e bar), que ficava ao lado da casa do casal.

A investigação policial apurou que ele havia estado no seu restaurante durante o jantar dado pela amiga Ida Lupino e seu pai no último sábado (14). No evento discutiu publicamente com o ex-marido, mas se manteve de bom humor, o que ajudou a desconsiderar a hipóteses de suicídio.
Thelma Todd e Pat DiCicco, seu então marido  em 1934, durante jantar de gala       nutty nut news network
Nas primeiras horas de domingo seu motorista a levou para sua casa. A partir daí tudo se tornou um mistério, não havia marcas de violência em seu corpo, além de um leve ferimento no lábio, segundo a autópsia.  

Investigadores deram como morte acidental, ela teria ido até a casa dos West e se refugiado na garagem para fugir do frio. O júri apoiou decidindo que era acidente, “mas que uma investigação maior deveria ser feita”.

A imprensa, inclusive a do Brasil, apontou imediatamente para assassinato. A investigação durou quatro meses e não chegou a nenhum indicio de crime ou conspiração.

O caso acabou sendo encerrado como "acidental com possíveis tendências suicidas", mesmos sem nenhum bilhete suicida e os amigos e pessoas próximas garantindo a impossibilidade disso. Carmen Jewel, a esposa do amante, ganhou suspeita notoriedade, mas logo foi inocentada.
Roland West na garagem durante a manhã em que encontraram o corpo                               getty
Algumas pessoas apontaram a possibilidade da morte ter sido arquitetada pela máfia, porque Todd não permitia encontros de criminosos ou a prática de jogos de azar em seu restaurante. Em seu leito de morte em 1952, Roland West teria confessado a um amigo que ele foi o único assassino da amante, mas isso nunca foi comprovado.

Ida Lupino (que dava o jantar na noite que a atriz não foi mais vista) jamais se esqueceu da amiga constantemente fazendo referências a sua memória. Coincidência ou não, ela aparece cometendo um assassinato com monóxido de carbono no filme Dentro da Noite (They Drive by Night, 1946 de Raoul Walsh).

Thelma Todd ganhou uma estrela na Hollywood Boulevard na década de 60. Seu corpo foi cremado e após a morte de sua mãe em 1969 suas cinzas foram colocadas dentro do caixão e enterradas no cemitério de sua cidade natal, a pequena Lawrence, Massachusetts.

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