É sem dúvida um dos momentos mais polêmicos e comentados entre
as quase 90 noites de Oscar. Indicado ao prêmio de melhor ator em 1973, Marlon Brando
mandou uma suposta índia em seu lugar, para discursar contra a exploração dos
nativos norte-americanos por Hollywood.
A saia justa ficou estampada nos rostos de Roger Moore e Liv
Ullmann. Assista ao momento no player abaixo ou clicando aqui.
Brando escreveu um discurso de 15 páginas para ela ler na hora, mas quando um produtor a viu com tudo isso a ameaçou fisicamente. Ou duraria 60 segundos ou ela sairia do palco presa pela polícia, portanto, tudo o que a moça discursa é de improviso.
"(...) Estou representando Marlon Brando esta noite. E ele me pediu para fazer um discurso muito longo, que não posso compartilhar, devido ao tempo, mas que compartilharei com a imprensa depois, que ele infelizmente, não pode aceitar este prêmio tão generoso. E o motivo é o tratamento dos índios americanos hoje na indústria cinematográfica... Perdão... E também pelos recentes acontecimentos em Wounded Knee. Espero não ter atrapalhado esta noite, e que nós iremos, no futuro, nossos corações e nossos entendimentos, se encontrarão com amor e generosidade. Obrigado a todos em nome de Marlon Brando."
Dalí por diante a vida dela nunca mais seria a mesma, devastada
pela mídia no mundo todo. Seu nome é Sacheen Littlefeather, mas nasceu em 1946
como Marie Louise Cruz e sua descendência paterna é Apache, Yaqui e Pueblo .
Aos 63 anos, a militante aparece no documentário Reel Injun
(2009 de Neil Diamond e Catherine Bainbridge) dando sua versão de toda essa
história que ficou para sempre no imaginário pop do século XX. Presente no cataloga
da Netflix, Reel Injun, aliás, tenta mostrar do ponto de vista dos nativos como
os índios são retratados por Hollywood desde seu início.
Na década de 60 índios estavam na moda literalmente no
visual dos hippies. Criada como nativa, Sacheen entrou em choque ao se mudar
para a Califórnia e ser comparada com eles, garantindo que nem sabia o que era
hippie.
Com sua beleza “exótica”, acabou trabalhando como modelo por
um curto período, usando muitas vezes as roupas que os brancos julgavam típicas
de seu povo. As pessoas emulavam o nativo norte-americano como criaturas livres,
então, se vestir pretensamente como eles era uma forma de celebrá-los.
Broadly |
Em casa, num dia qualquer, Sacheen, que faziam alguns trabalhos como atriz e radialista, recebeu uma ligação de ninguém menos do que Marlon
Brando. O lendário ator lhe disse que receberia o Oscar de melhor ator por O
Poderoso Chefão (The Godfather, 1972 de Francis Ford Coppola), e perguntou se ela aceitaria representa-lo naquela noite.
“Me disse que seria uma oportunidade de explicar às pessoas os estereótipos dos nativos nos filmes e também da ocupação indígena em Wounded Knee na Dakota do sul”, relembrou a ativista. A cidade de Wounded Knee estava ocupada por indígenas em protesto contra o governo federal que não honrava seus tratados com nações americanas nativas, sendo que até agente do FBI fortemente armado foi tenatar expulsá-los, num conflito sangrento que durou meses.
“Me disse que seria uma oportunidade de explicar às pessoas os estereótipos dos nativos nos filmes e também da ocupação indígena em Wounded Knee na Dakota do sul”, relembrou a ativista. A cidade de Wounded Knee estava ocupada por indígenas em protesto contra o governo federal que não honrava seus tratados com nações americanas nativas, sendo que até agente do FBI fortemente armado foi tenatar expulsá-los, num conflito sangrento que durou meses.
Brando e algumas outras celebridades como Jane Fonda e Johnny Cash foram até a cidade, numa tentativa de chamar a atenção dos EUA à causa desigual. Mesmo assim, nada disso era noticiado, ou recebia o devido foco.
O tapete vermelho foi estendido às 18 horas e só aí ela começou a se vestir nos bastidores com a roupa típica Apache enquanto tentava memorizar o texto, até ser surpreendida pelo tal produtor que a impediu de ler. E assim, foi lá recusar um sonhado Oscar e discursar para uma plateia embasbacada (que chegou a ensaiar uma vaia).
O tapete vermelho foi estendido às 18 horas e só aí ela começou a se vestir nos bastidores com a roupa típica Apache enquanto tentava memorizar o texto, até ser surpreendida pelo tal produtor que a impediu de ler. E assim, foi lá recusar um sonhado Oscar e discursar para uma plateia embasbacada (que chegou a ensaiar uma vaia).
E conforme prometido, ela leu as 15 para a imprensa depois, naquele momento em que jornalistas recebem os recém agraciados pela Academia.
Depois disso Sacheen sofreu todo tipo de ataque na imprensa, numa tentativa de destruir suas intenções. Pelos registros de muitas enciclopédias e publicações especializadas em cinema ela nem é de origem indígena, mas apenas uma modelo que aceitou participar de uma farsa.
Chegaram a dizer que a roupa típica Apache que usou era uma fantasia alugada e, claro, desenterraram as fotos que ela havia feito como modelo anos
antes, inclusive umas sem roupa. Mas
nada se compara às ameaças de morte que recebeu, além de portas fechadas para trabalhar.
São muitas destas informações de origem racista que sobreviveram ao tempo como mera curiosidade da história da Academia. O capricho de um grande astro tentando rir de todos, deslegitimando a manifestação.
São muitas destas informações de origem racista que sobreviveram ao tempo como mera curiosidade da história da Academia. O capricho de um grande astro tentando rir de todos, deslegitimando a manifestação.
Na verdade, os índios que achavam que não sairiam
vivos da ocupação em Wounded Knee se sentiram animados graças aquelas poucas palavras de 60 segundos. Mesmo com o conflito armado (dois morreram e pelo menos outros 13
ficaram feridos) a atenção dos jornais dos EUA não estava lá, num vergonhoso boicote aos pedidos de uma minoria. Até aquela
noite do Oscar.
Fascinante essa historia, eu também achava que ela era uma farsa, pois a grande maioria da mídia apontava e afirmava isso, não sabia desse documentário vou tentar ver!!!
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