Todo mundo precisava assistir! Alguns diziam que passaram
mal, vomitaram, não dormiram à noite o que fazia a vontade de assistir só
aumentar.
Como nem todas as mães deixavam assistir filmes de terror
entrou em cena uma maravilhosa máquina que poucos tinham na época:
videocassete! Aí valia até vaquinha pra
alugar e assistir todo mundo junto depois da aula.
Assistindo novamente, agora adulto, o filme para ir além de
mero entretenimento barato. Cronenberg era relativamente novo nos EUA e ainda
assim, compreendeu a essência do melodrama hollywoodiano como poucos.
Na década de 80 o caminhar do mundo parecia assustador e
isso se refletiu em tantos filmes apocalípticos e outros que tentavam dar novo
frescor a estilos que remetiam ao cinema dos anos trinta e quarenta. A Mosca
conseguiu flertar muito bem com seu tempo conversando com velhos estilos de
Hollywood.
Seu ponto de partida foi o filme homônimo de enorme sucesso em
1958, intitulado no Brasil como A Mosca da Cabeça Branca (de Kurt Neumann), que
por sua vez veio de um conto curto. Alguns filmes de monstros de trinta anos
atrás foram refeitos na época, mas Cronenberg absorveu apenas o ponto de
partida.
Cientista testando uma máquina de teletransporte acaba por,
acidentalmente, ter seu DNA misturado ao de uma mosca e assim, vai se transformando
num inseto deixando pra trás sua humanidade. Ok! As semelhanças param aí, o que, portanto, não
é muito justo compará-los.
No filme de 1986 o cientista Seth Brundle (Jeff Goldblum)
compartilha não só suas descobertas com a jornalista Veronica Quaife (Geena
Davis), mas seu afeto. E o que poderia se tornar um ponto fraco, o romance, dá
um verniz fabuloso em meio a vísceras, fraturas expostas e desmembramentos.
O filme torna-se bizarramente o equivalente a uma comédia romântica,
mas sem a parte da comédia, claro. Poderia ser uma das histórias tolas das
décadas de 30 e 40 (conforme já citado), com a intrépida repórter às voltas com
seu trabalho e uma relação amorosa que se opõe a ele.
Mas aqui vemos de forma explicita esse amor se
desintegrando, apodrecendo até chegar na carne viva. E assim, Cronenberg abraça
o melodrama hollywoodiano para esfregar na nossa cara que o mais forte de seus alicerces, o amor eterno e sempre belo, é uma grande mentira.
O amor não só acaba como apodrece em vida. A Mosca nos
permite vislumbrar a decrepitude de um relacionamento como nunca.
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