“O filme de terror da Sandy”

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...Ou Quando Eu Era Vivo (2014 de Marco Dutra) causou euforia assim que saiu o trailer. Não só pelo elenco inusitado que misturava a filha do Xororó com Antonio Fagundes, mas pela temática sobrenatural, pouco explorada pelo cinema brasileiro.

Baseado num livro de Lourenço Mutarelli o filme tem uma premissa interessante. Filho esquisitão volta a morar com o pai no mesmo apartamento do centro de São Paulo em que cresceu após terminar seu casamento.

Aos poucos ele vai entrando numa paranoia de volta ao tempo juntando cacos (literalmente) de seu irmão que não está mais presente, assim como sua mãe. Há um uso interessante de fitas VHS que se intercalam com a memória tanto do personagem quanto, inevitavelmente, com a nossa.

A produção toda se dá maravilhosamente bem nisso. Cada caixa de velhos objetos que vão sendo expostos vamos juntos encontrando um pouquinho do nosso passado, seja nos cacarecos kitsch de decoração aos medos pueris de discos de vinil em rotação contrária e brinquedos populares da década de 80.

Como cenário principal, o antigo apartamento identificável como sendo do Centrão de São Paulo, logo assume também ser um personagem importante. Nele ainda habita a jovem Sandy Leah, uma moça que aluga quarto desde que veio do interior para estudar... Música na capital.

Tecnicamente sofisticado, exceto alguns efeitos sonoros, como a sensação de que os personagens andam de salto altos o tempo todo num assoalho de madeira, demora, mas constrói bem a atmosfera de terror. Lembra muito a recente safra de filmes de fantasmas “baseados em fatos reais” de Hollywood, que por sua vez, bebem na fonte das histórias de casas mal assombradas produzidos na década de 70.
E aí, quando todos os personagens são apresentados, vem o principal problema de Quando Eu Era Vivo: na junção de terror com drama familiar, jamais toma um lado. Como resultado, o sabor de promessas não cumpridas, de que faltou meia hora de metragem para que o filme realmente acontecesse.

Não há sustos, não há sangue, não há possessões, não há um terço da violência que poderia e deveria ter, mas também não há lágrimas, nem emoções mais desenvolvidas. Tímido, com uma profusão de pistas e pontas mal amarradas (ou desnecessárias?) apenas frustra expectativas para todos os lados.

Tem um grande momento de exorcismo ou benzimento que se desenrola na quebra de uma imagem de Nossa Senhora Aparecida. Muito em parte pela boa atriz que desempenha o papel de Miranda, a manicure e mediúnica, chega a lembrar o horror do mestre italiano Mario Bava, mas não passa disso.

Sandy, a eterna virgem (que até já é mamãe!), chega a falar um palavrão, dar uns malhos num carro e dizer que “É moça séria, sim senhor!”,mas seu ponto alto aqui é ouvi-la cantar para Satã, ou coisa que o valha. Talvez algum hater vá dizer que ouvi-la cantar é a parte legítima de terror da fita... 

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