Atualmente no ar no Canal Viva, a novela Dancin’ Days trouxe uma bizarra sequência no capítulo 06 ( segunda-feira, 07). Joana Fomm sai pra levar a sobrinha ao balé e na próxima cena, dentro do carro percebe-se, inclusive pela voz, que em seu lugar está a atriz Norma Bengell.
Isso porque, Bengell que seria a vilã Yolanda Pratini, já tinha gravado conteúdo para semanas quando se desentendeu com o diretor Daniel Filho e pulou fora da novela, pouquíssimo tempo antes da estreia. Entre as hipóteses, a mais amena é que ela, já uma estrela internacional de cinema, não se acostumou ao ritmo televisivo, mas o próprio elenco falava outra coisa naquela época, conforme veremos logo mais.
O "erro" foi comentado nas redes sociais quando foi ao ar agora, mas era de conhecimento que ele existia muito antes. Meu amigo David já havia comentado que Norma Bengell ainda aparecia "acidentalmente" em alguns momentos quando este folhetim saiu em DVD (de forma bem resumida), mas isso não consta na edição da GloboMarcas.
Joana Fomm originalmente seria Neide, a ambiciosa empregada da casa de Celina (Beatriz Segall), papel muito menor, mas que ganha destaque na segunda metade da trama. Com a mudança, tiveram obviamente que regravar todas as sequências com a vilã num curto espaço de tempo, além das com a empregada.
Na biografia “Minha História é Viver” escrita por Vilmar Ledesma, Fomm recorda que foram refeitas cenas de dezesseis capítulos em uma semana. Ao assumir o desafio teve que tratar os cabelos (antes propositalmente mal cuidados) e pinta-los com tons acobreados, muito provavelmente para o reaproveitamento de externas como a do capítulo 6.
No livro diz também que a colega Sonia Braga (a rival irmã Julia) foi um anjo. Eram tantas cenas e diálogos tão grandes que na metade às vezes ela não sabia nem em que país estava, cabendo a Braga dar a volta no texto até lhe reentregar suas deixas.
É provável que em 1978, quando a novela foi exibida pela primeira vez, a troca repentina entre uma tomada e outra nem tenha sido muito notada. Lembrando que a qualidade da transmissão, assim como os aparelhos televisores daquela época eram diferentes dos atuais.
Revi no mesmo canal Viva a novela Rainha da Sucata (1991) e agora eram visíveis pregos nas paredes de pseudo mármore na mansão de Laurinha Figueroa. É claro que a diferença de tamanho das madeixas das atrizes é algo muito mais gritante, até pra quem assistia TV com Bombril enrolado na antena.
A Folha de São Paulo citou a troca das atrizes apenas na matéria (11 de julho de 1978) sobre o encontro dos atores com jornalistas para o lançamento da novela, mas nada sobre o “erro” que foi ao ao ar. José Lewgoy comentou à jornalista Helena Silveira sobre a postura “pouco profissional e de extremado estrelismo de Norma Bengell que teria causado um massacre no elenco, uma vez que dezoito capítulos tiveram que ser regravados em ritmo de ‘é pra amanhã’”.
Por isso, os atores que regravavam (incluindo a adolescente Gloria Pires) não puderam comparecer ao evento. Indagada porque Bengell saiu, Beatriz Segall disse que não sabia e que ela era “uma força da natureza”, enfatizando: "O elenco todo com os ausentes é sensacional. Trabalhar com a gentileza, cordialidade, ensinamentos contínuos de Daniel Filho, é um privilégio. Sônia Braga no convívio é a anti-estrela. Todos os colegas são unidos, discute-se o enredo e a personagem de cada um. Ao contrário do que se pensado "monstro Globo, Daniel cria um ótimo relacionamento entre a equipe.".
Há casos semelhantes no cinema, quando uma atriz substituiu a outra e sobraram pedaços com a primeira na edição. Um dos mais famosos é No caminho dos Elefantes (Elephant Walk , 1954 de William Dieterle) quando Elizabeth Taylor assumiu o papel que Viven Leigh desistiu durante as filmagens.
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Lembro bem da novela.
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