Lá vem Álex de la Iglesia tacar na nossa cara uma overdose de referências cinematográficas enquanto discute peculiaridades sociais. No recente Las brujas de Zugarramurdi (2013) ele pode não entregar um filme redondinho, mas ainda é um espetáculo surpreendente.
O roteiro une um monte de gags sob a espinha narrativa, o que justifica o resultado nem sempre bom, mas quando acerta chega ao brilhantismo. Tanta informação que uma segunda assistida é necessária.
Começa freneticamente com um assalto a mão armada que tem entre os meliantes o Bob Esponja (!), Minnie Mouse estilo 25 de Março(!!) , Jesus Cristo (!!!) e um menino de onze anos (!!!) que não deve ser facilmente esquecido. Pouca coisa da filmografia mundial recente ousou tanta irreverência nos totens da nossa civilização.
Na fuga alguns sequestram um táxi e partem pra Paris (uma citação ao sucesso popular de Besson?). Acabam parando em Zugarramurdi, um município espanhol que realmente existe na fronteira com a França e que em sua história consta a condenação pela Santa Inquisição de 40 vizinhas em 1610.
E a partir do encontro de fatos históricos com ficção o filme se enriquece de uma força peculiar de cartão postal para interessados em ocultismo. Uma das atrações turísticas do pequeno povoado, a Caverna do Sabbat ou Zugarramurdi, repleta de lendas do século XVI, acaba virando um personagem importante no apoteótico desfecho.
Quanto às bruxas em si, encabeçadas pela eterna almodovariana Carmen Maura (a cara de Christopher Lee em O Homem de Palha!), pode-se dizer que embora sigam conceitualmente a cartilha equivocada da Santa Sé, escapam do maniqueísmo. Podem assar uma criancinha com maçã na boca, mas tudo em nome da natureza medieval que cultivam.
Com o desenrolar o discurso se firma na perpetuação de antigos e bolorentos preceitos, sendo a evidente guerra entre machistas e feministas apenas um deles. Sem assumir lados, se atém a mostrar com doses corretas entre terror e comédia, como La Iglesia já se mostrou ser o principal mestre vivo.
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