Neyde Maia Lopes não cantava, dançava ou atuava, mas conseguiu muito mais destaque na imprensa do que várias artistas. Em 1960, com apenas 22 anos, ela chocou o Brasil ao confessar que, indignada por ser a outra, sequestrou, matou e queimou o corpo da menina Tânia de apenas quatro anos de idade.
Como o escritor Ruy Castro disse no especial Linha Direta de 2003, um crime que hoje ficaria na mídia por uns três dias, na época, pelo ineditismo cruel, alimentou jornais e revistas por três anos. Neyde ficou conhecida como A Fera da Penha, referência ao bairro carioca onde assassinou a menina num matadouro.
Solitária e filha única, pegava o trem todos os dias para ir trabalhar no centro da cidade. Havida leitora de revistas de mistério, no caminho se entretinha lendo no jornal as crônica A Vida Como Ela É de Nelson Rodrigues.
Num dia conheceu na Central do Brasil o jovem Antônio Couto Araújo. Teria recusado as investidas do rapaz, mesmo desconhecendo que era casado e pai de família, até que cedeu e mantiveram um affair em sigilo.
Por meses ele a pegava no trabalho com o carro da firma, embora falasse a Neyde que era dele. Nos encontros em motéis a moça reprimida se soltava, falando constantemente em assuntos mórbidos, como perguntando se o amante a beijaria mesmo estando morta.
Apaixonada, num dia, por coincidência, conversa com o pai de uma amiga, que também conhecia Antônio. Este lhe revela preocupação já que está sendo enganada por um homem comprometido e pai de dois filhos, o que lhe deixa furiosa!
Aí a história ganha contornos de ficção, com toques de uma armadilha que apenas uma mente prodigiosa e fria criaria. Neyde continua se encontrando com o amante sem revelar que sabe a verdade sobre seu estado civil.
Através do pai da amiga consegue o endereço de Antônio. Sem que ele saiba, vai até lá e se apresenta a esposa Nilza Coelho Araújo dizendo ser sua antiga colega de escola, inclusive sua xará.
Fazendo jogos de palavras, consegue descobrir até o nome do colégio em que teriam estudado. Dá a entender que tinha interesse pelo irmão de Nilza e assim, conquista a confiança para frequentar a casa.
Frequentou por meses, indo embora nos horários em que Antônio estaria para chegar do trabalho. Quando lhe revela que sabe de tudo e que tem frequentado sua casa ele fica estarrecido!
Neyde lhe dá um ultimato para abandonar Nilza e as meninas, mas Antônio não leva a sério. Apenas se afasta dela, arrumando novas amásias, o que a teria enfurecido ainda mais, fazendo surgir as primeiras ameaças.
Obsessiva, não conformada em ser a amante numa sociedade preconceituosa, chega a comprar uma arma calibre 22, mas os colegas do trabalho explicam que não é um bom revólver, então voltou à loja e troca por um 32, mais letal. Passada uma semana, resolve agir indo até Nilza e perguntando o que mais faz Antônio feliz, e ouve que é quando ele chega do trabalho e ganha beijinhos da filha mais velha, Taninha, de quatro anos.
Assim, passou a forçar um laço com a menina, lhe enchendo de presentes. Em junho de 1960 ligou para a escola de Tânia se dizendo ser a mãe da garota, que impossibilitada de ir buscá-la mais cedo, enviaria uma vizinha.
Quando Nilza vai levar um lanche na escola toma conhecimento da ligação e da “amiga” que esteve lá e entra em pânico. Sem desconfiar de Neyde, ela avisa a polícia e o marido do sumiço, este confessa a um amigo que suspeita da amante, mas nada diz a esposa, que lhe julga fiel.
Neyde ficou dando voltas com a menina por horas, pensando no que fazer até que pegou um ônibus até a Penha para visitar uma amiga. Lá disse que Tânia era filha de uma conhecida que lhe pediu para passear com ela.
Caindo a noite, pediu uma tesoura para cortar uma mecha do cabelo da criança, coisa de assustou a amiga. Saiu de lá e dirigiu-se até uma farmácia onde comprou um litro de álcool, indagada por Taninha, disse que ela ficaria doente e que precisaria ser tratada.
Arrasta a pequena até um matadouro, saca o revolver da bolsa e a executa com um tiro na nuca. Ateia fogo ao corpo junto à mecha de cabelo, desistindo de fazer chantagem com o mesmo para desesperar Antônio.
Sai imediatamente do local, sem saber que haviam dois vigiais que ouviram os tiros e foram até lá. Um deles liga pra polícia e o outro consegue avistar Neyde entrando num táxi.
Reconheceu que ela havia estado lá, dois dias antes, perguntando quanto tempo os urubus demoravam para acabar com um corpo. Não foi difícil ligar uma coisa a outra, pela estranheza da pergunta.
Descendo do táxi recebe voz de prisão, momento em que os policiais também encontram em sua bolsa a arma calibre 32 e uma caixa de fósforos. Presa, se recusou a olhar o local do crime, demonstrando estar também chocada disse que na delegacia contaria tudo.
Foi interrogada por mais de 12 horas sem poder beber água ou fumar e continuou negando tudo friamente. Manteve-se tranquilo inclusive na hora de confrontar Antônio, Nilza e outras testemunhas.
Semanas se passaram e ela presa até que aceitou dar uma entrevista ao radialista Saulo Gomes. A princípio negou, mas insistentemente indagada por Gomes sobre a autoria do crime, ficou irritada, declarando que só não matou a todos da família porque não teve tempo.
Acabou por relatar na rádio passo a passo todo o crime com uma frieza que revoltou a todos. Ré confessa, foi julgada a 33 anos de prisão, cumprindo apenas 15 por bom comportamento, sendo solta em 1975.
Voltou a morar com os pais, com quem viveu até falecerem. Hoje estaria morando em Cascadura, subúrbio do Rio de Janeiro, onde, segundo vizinhos, nunca conversa com ninguém, nem abre as janelas.
Os pais da menina continuaram juntos, depois que Nilza perdoou o marido tiveram mais dois filhos e dois netos. Taninha foi enterrada no cemitério de Inhaúma e seu túmulo é constantemente visitado por pessoas que buscam um milagre.
A primeira imagem é um oferecimento Brazil News, a segunda e última, O Globo.
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Também tenho um blog, mas devido ao pouco tempo de folga no serviço ou no "bico" não consigo atualizar com manchetes ou comentários úteis.Teu blog é muito bom, eu te admiro pela persistência em algo que, a princípio, ajuda outras pessoas!
ResponderExcluirEdson, valeu! Obrigado por entender como útil. Abração!
ResponderExcluirFez o que achou certo.
ResponderExcluirSò queri a fizessem uma correção, no texto diz q ela comprou uma arma calibre 22 e logo abaixo a policia encontrou na bolsa a arma calibre 32
ResponderExcluirqual o calibre correto!!
Post interessante não era do meu conhecimento esta historia!!!
Anônimo "22, mas os colegas do trabalho explicam que não é um bom revólver." Ela trocou por um 32 por isso, pq a 32 era mais letal. Pensei que tivesse claro. Vou mudar no texto. Abração!
ResponderExcluirMiguel... não nem precisa ficou bem claro, foi falha minha vc está correto!!
ResponderExcluirDesculpe-me
Nilson, já "nhera"!! kkk
ResponderExcluirSerá que alguém já perguntou a essa mulher sua versão da historia?
ResponderExcluirDany, a versão dela é a que está nos autos... Só acho estranho que tudo continuou bem entre o casal...
ResponderExcluirNo seu texto não contem a parte da historia que Antônio dopa e faz um aborto,sem permissão, em Neyde! Como todas as historias, existe mais de um lado a ser contado.
ResponderExcluirDany, você está certa, mas não havia isso nas fontes consultadas, que aliás, as principais estão linkadas no texto. Como todo caso de grande repercussão popular, há muitas informações distintas sempre.
ResponderExcluirO texto, que não tem intenções enciclopédicas, se fundamenta em pesquisa no que foi registrado à época.
Quanto a qualquer outra informação, o programa Linha Direta da TV Globo, que você também pode acessar no link existente no texto (http://www.youtube.com/watch?v=T3vl_hv9-xs), diz que ela foi procurada mas não quis receber a reportagem. Portanto, não existem registros confiáveis de outras informações.
Dany, você teria um contato? Qualquer coisa escreva para o meu e-mail: miguelandrade100@gmail.com
ResponderExcluirAbraço!
e a capa dessa revista? ela sorrindo como uma cantora/atriz? não dá pra entender. é macabra a história, muito interessante.
ResponderExcluirAlexandre, foi isso que me motivou a escrever o post. Quando encontrei essa capa, totalmente dissonante com a história. rs
ResponderExcluirNa web afora, tem até imagem da menininha queimada. Me assusta saber que essa necessidade "jovem" de ver corpos depois de acidentes e/ou crimes é bem mais antigo e burlesco....
ResponderExcluirDaniel, também vi, infelizmente, e óbvio que não publicaria.
ResponderExcluir(Uma luta antiga: Ralhar com quem teima em publicar fotos da Marilyn morta. Coisa de canalha. Fã que é fã quer ver seus astros bem.)
Eu já procurei algumas vezes, mas mais pela curiosidade ou da vontade de "participar" desse mundo mórbido, que é tratado com ares blasé hoje em dia. Mas sei lá, ainda me assustam, me dão medo, rsrs.
ResponderExcluirPs.: não parei de ler aqui, só estou entrando na crise dos "quase-trinta" e ficando mais calado, rsrs
Daniel, acho desrespeitoso com o morto. :(
ResponderExcluirAssistam o filme , " O lobo atrás da porta " .
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