Geniosa, escapou dos desígnios reservados a mocinhas da época para se dedicar à música, cenário então, dominado por artistas do sexo masculino. Ficou muito conhecida nos palcos por se apresentar e interpretar de jeito bem despojado, distante das outras bem comportadas cantoras que se espelhavam nas artistas internacionais.
Participando dos teatros de revista, Aracy Cortes tornou-se a primeira grande cantora da Música Popular Brasileira quando tanto o rádio, indústria fonográfica ou a mídia em geral apenas engatinhava no Brasil. Bem humorada e desbocada, suas brejeiras apresentações eram memoráveis, gerando incontáveis admiradores.
Surpreendeu a todos quando anunciou ao final da década de 20 que se casaria com o bailarino espanhol Pablo Palos, já que demonstrava ser duro na queda no ramo afetivo. A turbulenta união durou até seu único filho morrer, com apenas quatro meses.
Pioneira a atravessar o Atlântico para apresentações, excursionou por pela Europa em 1933 junto ao Oscarito na Companhia de Jardel Jércolis. Sua figura coloquial antecedeu Carmen Miranda, a quem se referia por toda a vida como “A outra”.
Fila na estréia de sua própria Companhia em 1931 |
Era notório que Aracy não tinha temperamento dos mais fáceis. Por causa de um problema contratual, ela, já muito mais popular, teve que dividir o espetáculo “O Bode Está Solto” com Virginia Lane, o que transformava a plateia numa espécie de torcida partidária.
A memória registra que o samba na veia de Aracy, claro, suplantou as belas e maliciosas pernas de fora, ornadas por plumas de Virginia Lane. Só houve uma Rainha do Teatro de Revista.
Junto a seus holofotes surgiram nomes que se tronariam mitos da nossa arte, como Ary Barroso, Assis Valente, Clementina de Jesus e mais tarde, Paulinho da Viola. Dos primeiros sucessos destaca-se Jura, composição de Sinho, gravada por ela em 1928 (Ouça no player abaixo ou clicando aqui).
De origens controversas, “Linda Flor (Iaiá/Ioiô/ Ai, ioiô!)”, sob composição final de Luis Peixoto, ficou imortalizada em sua voz, embora também gravada um pouco antes, com a letra levemente alterada, por Chico Alves e Vicente Celestino. Depois, todas as cantoras respeitáveis do país a regravaram, de Isaura Garcia, Dalva de Oliveira, Elizeth Cardoso a Maria Bethânia, Alcione, Tetê Espíndola e Ná Ozzetti.
Em 1984, no show do projeto Linda Flor |
Só voltaria aos palcos em 1976, aos 72 anos, no show “Uma Rosa na Boca da Noite”, em que cantava, dançava e contava histórias de sua vida num vocabulário que a empresa 70's chamou de “ainda hoje bastante desbocado”. A mesma imprensa que a designava aquela altura como “talvez o mais consumado, temido e respeitado monstro sagrado de sua atividade profissional: o teatro de revista".
Faleceu em 1985, aos 81 anos, em sérias dificuldades financeiras. Mesmo com a gigantesca trajetória registrada nos anais da cultura brasileira, não conseguia provar à Previdência Social seus anos de trabalho...
A primeira imagem é um oferecimento Dr. Zem, a segunda e terceira Teatro e Revista Brasileira
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