Interpretando (mal) os filmes

2
Sabe quando a gente lê uma análise mais profunda sobre um filme, ou até mesmo nós fazemos isso? O renomado crítico francês André Bazin contou a forma mais engraçada em que caiu do cavalo.

Precisamente a sequencia de Pérfida (Little Foxes, 1941 de William Wyler) em que Bette Davis deixa o pobre marido Herbert Marshall estrebuchando escada acima sem que a objetiva o acompanhe. O corte da câmera para o rosto de Davis com ele em segundo plano como uma sombra, conforme você vê na imagem maior deste post, seria uma analogia à postura fria da esposa.

Ao conhecer o diretor William Wyler contou-lhe sua interpretação da cena. Este “parece que ficou um pouco admirado, como alguém que tinha feito as coisas com toda a simplicidade, sem colocar nelas quaisquer intenções.”

E explicou que tudo foi simplesmente necessário. “Marshall tem uma perna de pau, sobe as escadas com dificuldade, e seu eclipse permitia que ele fosse substituído por um dublê para os poucos segundos do final.”.

Já vi Alfred Hitchcock falando em alguma entrevista que odeia que analisem seus filmes, porque geralmente se atêm a bobagem e deixam escapar o essencial. E ainda de que pouco se importava sobre o quê seus filmes tratavam, mas sim, a melhor forma de executá-los.

Difícil de acreditar nisso. Diante da riqueza de seus trabalhos , pode ser uma daquelas coisas que Hitchcock dizia pra ajudar na autopromoção, dando-lhe uma áurea mitológica.

Lembro também, falando em gênios, de que Nelson Rodrigues nunca foi de expor eruditismo. Declarava até que o único livro que leu na vida foi Maria Cachucha.

[Ouvindo: I Used to Think My Right Hand Was Uglier Than My Left – Ken Nordine]

Postar um comentário

2Comentários

Antes de comentar, por favor, tenha consciência de que este espaço é disponibilizado para a sua livre opinião sobre o post que você deve ter lido antes.

Opiniões de terceiros não representam necessariamente a do proprietário do blog. Reserva-se o direito de excluir comentários ofensivos, preconceituosos, caluniosos ou publicitários.

  1. Essa história eu vi o Marcos Santuário, crítico de cinema aqui no RS contar pelo menos umas 2 vezes. Mas na versão dele, Davis tinha machucado o tornozelo naquele mesmo dia, por isso gravou a cena sentada. Dizem as más línguas que no final da explicação do Wyler, Bazin simplesmente soltou a máxima: "então o MEU filme é melhor que o SEU!". Muito espirituoso esse Bazin...

    ResponderExcluir
  2. Penny, bastante espirituoso. Ele contou isso num livro dele conforme postei para falar sobre Hitchcock, como forma de introdução a que tudo poderia estar errado. rs

    ResponderExcluir
Postar um comentário