Ousadia mesmo foi uma telenovela no Brasil em 1966 abordar a
transformação de uma linda atriz em um rapaz. Isso aconteceu em Almas de Pedra produzida
pela TV Excelsior com roteiro de Ivani Ribeiro e direção de Walter Avancini.
A trama era uma livre adaptação do romance As Mulheres de
Bronze do francês Xavier de Montépin, publicado originalmente em 1880. Glória Menezes é a mocinha Cristina Ramalho com
sede de vingança depois que um ambicioso primo matou seu pai e sua mãe (uma escrava não alforriada) deixando ela e as irmãs na miséria .
Cristiano entre as irmãs Ruth (Íris Bruzzi ) e Naná (Susana Vieira)
Ela resolve se transformar em Cristiano por boa parte da novela para se aproximar do assassino e tomar as rédeas da família. Além do visual precisa tomar aulas de masculinidade com a
ajuda de Danilo (Tarcísio Meira, quem mais?), por quem se apaixona.
A atriz
teve que cortar o cabelo no ar e usar cavanhaque, fato que a fez temer ser
motivo de risos, conforme contou em entrevista à revista Época em 2010.Quando ela entrou no estúdio simplesmente ninguém a reconheceu.
Como era uma história épica, a caracterização facilitava a transformação com costeletas, enchimentos na roupa e botas que a deixavam mais alta.
Segundo a atriz, a novela foi importante por vários fatores.
Foi a primeira vez no Brasil que uma novela tratou o tema da escravidão no
país. Geralmente as tramas eram importadas de lugares como Cuba ou Argentina,
com referências a seus países originais.
Outro ponto importante relembrado por Menezes: Eugênia,
personagem interpretado por Marlene França acaba se apaixonando por Cristiano. “Olha
que audácia para a época!”, exclama com orgulho a estrela.
Mesmo com Eugênia não sabendo que se tratava de um disfarce,
a sugestão de lesbianismo é bem ousada. Levaríamos décadas para as novelas
abordarem homossexualidade e ainda assim, sob aqueles mofados suspiros de que “antigamente
não havia essas coisas”.
Não dá pra saber se foi o fenômeno Star Wars, ou a idade dos diretores e produtores adultos entre as décadas de 70 e 80, mas o período foi rico de releituras pop do que havia sido feito 20 ou 30 anos atrás. De tantos exemplos, Os Aventureiros do Bairro Proibido (Big Trouble in Little China, 1986 de John Carpenters) é um dos que merecem atenção especial por registrar tão bem a época em que foi produzido.
De bilheteria modesta, foi apenas mais um primo pobre do milionário e oscarizado Indiana Jones, o herói mais famoso a beber da literatura pulp 40’s. Ao contrário do senhor Jones, a aventura retrô de Jack Burton se passa no presente, com todo o neon que os anos 80 tinham direito.
Não teve sequência por motivos óbvios, mas se tornou um cult saudosista graças aos VHS e suas incontáveis reprises na TV. Estreou na Globo na Tela Quente em 1989 e seguiu por anos a fio na Sessão da Tarde.
Recebeu uma versão polpuda em DVD duplo em 2005 e em Bluray em 2009. Perceba que em BD voltou a se chamas "Os" Aventureiros do Bairro Proibido, como era na TV.
Ambas as edições digitais tiveram no Brasil uma tiragem bem limitada pela Fox, o que faz ser um filme bem difícil hoje. Ou melhor, custando bem caro em sites de comercio de usados.
O filme começa logo com o onipresente ator Victor Wong. No mesmo ano de 1986 ele esteve em outros ícones 80’s, como O Rapto do Menino Dourado (The Golden Child, de Michael Ritchie) e Surpresa em Shangai (Shanghai Surprise, Jim Goddard) – Madonna como fruto legítimo da época não ficaria de fora de filmes referentes aos anos 30, 40, mas isto será um outro post.
John Carpenter conta na faixa de comentários do DVD que o projeto começou como um western, e que ao invés de um cavalo Jack Burton usa um caminhão. Westerns espaguete já eram coisa do passado ali, mas muito do cinema popular hollywoodiano se aproveitou da estrutura celebrizada pelos longas italianos como Django.
O nome Rambo até soa como o do personagem de Franco Nero. E assim como “Os Aventureiros”, conta a história do herói solitário que resolve uma pendenga numa vila, no caso, um bairro asiático de Los Angeles.
Politicamente falando, mesmo tendo mais de 30 anos, o roteiro se preocupou em não mostrar um caucasiano resolvendo tretas de uma outra cultura. Por isso o personagem de Kurt Russel é atrapalhado e faz muita bobagem, enquanto o de Dennis Dun é bem centrado e competente.
Os incríveis efeitos especiais ópticos ou mecânicos envelheceram bem. Afinal, o filme transpira a anos 80, eles estão de acordo com a alma daquele universo.
A propósito, a última vez que havíamos visto esse capanga aqui no blog foi em 2014, quando sua persona inflável estava sendo leiloada no Ebay.
É, a posteridade às vezes não é fácil para antigos astros de Hollywood...
Também empregaram soluções técnicas que remontam aos primórdios do cinema.
Além de compor a trilha sonora (toda de sintetizadores, tão geração Netflix...), o diretor John Carpenter literalmente assina o filme. Quando o vilão Lightning morre as últimas faíscas que ele solta formam caracteres chineses que significam “carpinteiro”.
Os capangas chamados de As Três Tempestades, lembram, inclusive pelos poderes, o personagem Raiden do jogo de enorme sucesso Mortal Kombat de 1992. O visual das Três Tempestades provavelmente veio da série japonesa Kozure ôkami, adaptação do Lobo Solitário de 1973.
A história retrata o submundo de um bairro chinês, mas tudo bem misturar com japoneses. Bem aventurada nossa senhora da cultura pop, que tudo absorve e reconta como bem entender. Amém?
Ainda sobre referências, o terrível David Lo Pan (James Hong, outro ator que encontramos em tantos outros lugares como nas séries Seinfield e Friends, mas sempre lembrado por Blade Runner) virou quase que sinônimo de vilão em fantasia com citações asiáticas. Um deles tirou o sono de muito gamer como chefão de fase de Comix Zone (1995) do Mega Drive.
Aqui no Brasil vimos algo parecido no gibi da Angélica número 3 de 1989. Raptada no Rio de Janeiro por um dragão vermelho, nossa heroína é levada aos subterrâneos do bairro paulistano da Liberdade, onde um feiticeiro chinês precisa de seus longos cabelos dourados para durar mais mil anos.
Hoje dá pra dizer que há muito mais subproduto de “Os Aventureiros”, do que houve em 1986, quando ele se mostrou ser um flop. Não faz muito tempo que lançaram lá fora um jogo de tabuleiro Big Trouble in Little China.
Se você quiser uma camiseta regata igual à de Jack Burton é fácil. Quem não quer essa linda confusão de símbolos chineses e japoneses?!
É possível encontrar em sites nacionais por cerca de 22 golpes! Basta googlar, minha gente.
E claro que algo que se tornou tão querido com o passar do tempo tenha demorado tanto a ganhar um remake, coisa que recentes noticia já dão como favas contadas. O ideal mesmo seria uma sequência com os mesmos personagens, ou outros, no mesmo universo.
Por mais fabuloso que o novo possa vir a ser, jamais chegará perto do original. Sem purismos, ele não foi feito na década de 80, e isso já o fará ser lançado com grande desvantagem.
O vídeo novo do Dolce canal tá meio Sonia Abrão. Não tem
morto, mas vamos ver uma revista de cinema de fevereiro de 1998, exatamente duas
décadas atrás!
E do nada passou 20 anos? Olha, hoje acho que não foi do
nada, não! Embora seja uma edição e fevereiro (com matéria avulsa enorme pra
liberar a redação nas férias do começo do ano) dá pra ter uma boa noção do quão
distante estamos.
Bem, espero que se divirta assistindo como sempre! Muito bom
quando quando você deixa seu like, comente, segue o canal, etc.
Já é o 17º vídeo. Mesmo postando lá de vez enquanto, é coisa
pra chuchu, né? Assista também aos outros no canal.
Em uma entrevista curta em 1977, enquanto se preparava fisicamente
para interpretar Superman, o ator Christopher Reeve explicou como via o
personagem. Ele tentou encontrar a lógica à contradição: Porque usar toda
aquela força de forma altruísta?!
Para Reeve, o alienígena encara o mundo de forma bem simples,
inocente. O que faz com que sua defesa da verdade, justiça e valores da América
seja real, já que isso não é nada demais pra ele.
O humano atrapalhado e ingênuo Clark Kent, disfarce do
kriptoniano entre nós, nada mais é do que a forma como o herói vê os terráqueos.
Tantos anos depois, Quentin Tarantino perpetuou quase o mesmo em um dos últimos
e célebres diálogos de Kill Bill Vol. 2 (2004):
"(...) Superman não se transforma em Superman… Superman
nasceu Superman. Quando o Superman acorda de manhã, ele é o Superman. Seu alterego
é Clark Kent. Seu uniforme, com aquele grande S vermelho, sua manta que o
cobria quando foi encontrado pelos Kent… estas são as suas roupas. O que o
Clark veste, seus óculos, suas roupas… este é o seu disfarce.Este é o disfarce
que o Superman usa para se misturar conosco. Clark Kent é como o Superman nos
enxerga. E quais são as características de Clark Kent? Ele é fraco. É inseguro.
É um covarde. Clark Kent é a crítica do Superman a toda raça humana. ".
O que é sábio, mas também não deixa de ser paradoxo um
estrangeiro que não se tornou ou se permitiu se tornar culturalmente um dos
nativos, mesmo tendo crescido entre eles. Tem que ser bem super para cuidar de
algo que não gostamos, ou não nos sentimos fazendo parte.
Tenho cá pra mim que o conceito de “raridade” depois da
internet ficou bem mais elástico. Porém, às vezes ainda surge algo muito pouco
visto, como por exemplo, a cópia em 8mm de A Maldição de Frankenstein (The
Curse of Frankenstein, 1957 de Terence Fisher) que você assiste abaixo.
Sei bem que o player de vídeo do Facebook é bem ruim para
ser assistido fora da rede social, mas não há outro jeito! E sim, os 8’20’’ é
ele na integra, reeditado para a bitola de 8mm, projetores caseiros, o bisavô
dos atuais blu-rays.
E preto e branco, mudo e resolução ruim, é inegável que o filme parece muito mais antigo e ficou bem mais sombrio. O que é bem irônico já que as produções da Hammer Films ficaram
muito conhecidas exatamente por apresentar os velhos clássicos góticos em
cores.
O áudio que escutamos aí vem de um disco que acompanhava o
filme. Era preciso sincronizar o projetor e o disco para assistir com som.
Mais tarde, projetores 8mm e Super 8 sonoros e coloridos começaram
a ficar populares, mas até 1965, data desta edição, os modelos mais simples
estavam a todo vapor nos lares de cinéfilos que queriam (e podiam) rever a
emoção dos cinemas em casa. Mesmo em versões tão resumidas do filme.
Esta montagem do primeiro longa de Frankenstein da Hammer supre quase todos os diálogos (exceto duas
linhas do velhinho cego), podia ser assistida até sem o acompanhamento do
disco. Ele ainda se concentra apenas no grande flashback, suprindo o começo,
com o Frankenstein (Peter Cushing) na cadeia relembrando como chegou ali e o
final do mesmo, rumo à guilhotina.
Em 1965 a Maldição de Frankenstein já tinha 8 anos e a saga
já contava com três filmes, sendo O Monstro de Frankenstein (The Evil of
Frankenstein, 1964 de Freddie Francis) o mais recente. Até 1974 haveriam outros
quatro títulos, isso se incluirmos na
conta O Horror de Frankenstein (The Horror of Frankenstein, 1970 de Jimmy
Sangster), espécie de remake ou reboot, onde Peter Cushing foi substituído pelo
ator Ralph Bates, bem mais jovem.
Essa é pra quem acredita que o mundo está terrível, “onde
vamos parar?!!”. O mundo todo ficou abismado com o nascimento de quíntuplas em1934 em Ontário no Canadá, que ficariam conhecidas como As Quíntuplas de Dionne.
Em 2012, certa grávida no Brasil, em Taubaté, causou rebuliço
na imprensa (que nem checou antes a veracidade) ao anunciar estar esperando quádruplos.
Agora, imagina o nascimento de quíntuplos idênticos em 1934!
Numa pobre vila rural sem luz elétrica, água encanada ou
sistema de esgoto, a história de luta pela sobrevivência das meninas era tudo o
que o mundo precisava ouvir naqueles tempos ainda de Grande Depressão. Até
aquela data não havia nenhum outro registro de quíntuplos que sobreviveram à
infância.
Assim que a notícia começou a estampar capas de jornais, os
pais, que já criavam outros cinco filhos, sendo o mais novo havia nascido
apenas onze meses antes das gêmeas, recebeu a oferta de uma feira de
curiosidades para expor suas filhas. Com o contrato elas seriam atrações como a
Mulher Gorila, boi de duas cabeças, etc.
Sabendo disso, o governo do Canadá resolveu intervir.
Retirou dos pais a guarda das crianças (não dos outros cinco irmão, apenas das
quíntuplas), alegando falta de condições para criá-las. Seria uma ótima notícia
para o bem estar dos bebês para o resto da vida.
Bem, “seria”. Vislumbrando o potencial financeiro, o governo
resolveu faturar em cima das cinco crianças. Construiu uma espécie de parque,
logo apelidado de Dionneland onde comprasse ingressos tinha o direito de assistir
ao show.
O show nada mais era do que assistir às irmãs brincando num
cercado de arame de tempos em tempos. Como se fosse um show de focas
amestradas, baleias, golfinhos ou qualquer outro animal, coisa que o bom senso
não nos permite mais.
Absurdo, quem pagaria pra ver isso? Em pouco tempo tiveram
que aumentar o tamanho do estacionamento! As “Quíntuplas de Dionne” se tornaram
a maior atração turística do Canadá, atraindo mais gente do que as Cataratas do
Niágara.
Boa parte do lucro vinha não apenas dos ingressos, mas de
duas lojinhas temáticas que comercializavam de bonecas a chaveirinhos com os
rostos das crianças. Uma das lojas era administrada pela mãe das meninas (a
Dionne) e a outra por freirinhas que ajudavam a administrar o local.
Paralelamente a marca “Quíntuplas de Dionne” foi explorada
internacionalmente em publicidade. Produtos de higiene, alimentos, doces, qualquer coisa poderia estampar seu rosto num tempo onde o merchandising e licenciamento era bem menos desenvolvido.
Ela também estrelariam três filmes onde interpretavam algo parecido ao que era a vida delas. Claro que mostrado seu cotidiano de forma
suave, quase como um conto de fadas.
E foi assim, vivendo sob os olhos dos
turistas que as gêmeas viveram até os oito anos de idade, quando voltaram a morar
com os pais na zona rural, o que não lhes tirou da mídia e dos contratos milionários.
Elas, além de terem enorme dificuldade em se adaptar à nova
vida ainda relatariam mais tarde abuso sexual por parte do pai. Apenas ao
completaram 18 anos romperam com a família, evitando a mesma exposição com que
cresceram. Mais tarde, em 1965, ajudariam em uma biografia, depois que uma já
havia falecido aos 20 anos de idade.
Tentaram ter a mais prosaica das vidas, sendo que apenas uma
delas não casou, tendo estudado para ser
freira, mas acabou se tornando bibliotecária. Em 1970 uma segunda veio falecer
por problemas de saúde aos 36 anos de idade.
Em 1986 a publicação do livro The Dionne Tragedy acendeu o
diálogo sobre o abuso e a exploração infantil que as meninas sofreram. O livro
seria base para a minissérie “Million Dollar Babies”, produzido pela CBC Television e CBS Television em 1994.
Apenas dois anos depois disso o governo canadense finalmente
indenizou as três irmãs sobreviventes, quando estavam com 63 anos. Dos US $ 2,8
milhões elas tiveram que pagar advogados e historiadores, ou seja, ficaram com
muito menos do que isso.
Atualmente (2018) apenas duas estão vivas. Uma delas voltou a aparecer na mídia em 2017 quando a imprensa descobriu que vivia numa casa de caridade por não ter condições
financeiras para se sustentar.
Cada país tem as Spice Girls que merece, né? A partir de
Taiwan, a China e depois em muitos países asiáticos entraram no ritmo de Mimi
Cai & The Five Petals (蔡咪咪與五花瓣合唱團).
Essa girl band de sucesso chegou às paradas no finalzinho dos
anos 60 e permaneceu em atividade até 1972. Lançou cerca de cinco LPs e um compacto
até que Mimi Cai resolveu seguir carreira solo.
O cantonês, mesmo em música pop, soa realmente estranho aos
nossos ouvidos. Por exemplo, escute o cover no player abaixo.
Se você não identificou o que é, trata-se de uma versão de Be-Bop-A-Lula,
música de Gene Vincent de 1956, essencial a todo movimento rockabilly.
Refresque sua memória ouvindo a original aqui.
Bem, impossível não ficar com o seguinte comentário
publicado na música das Mimi Cai & The Five Petals.
“Gene Vincent sabia sobre isso? Ou foi isso que o matou?”
Mimi Cai saiu do show business em 1980 quando se casou. Com o passar dos anos o marido se envolveu com política e se tornou um poderoso empresário de mídia, o que ajuda a manter a antiga
estrelinha como uma celebridade taiwanesa.