Sem computação gráfica, Marte Ataca teria até Norma Desmond marciana

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Durante meses de pré-produção, Marte Ataca! (Mars Attack!, 1996 de Tim Burton)  seria um filme bem diferente. Seriam mais de 60 personagens e os marcianos participariam em animação quadro a quadro (stop motion), não computação gráfica.

O super elenco, referência aos filmes catástrofe 70’s, foi logo descartado pela Warner, que não queria gastar mais do 60 milhões. E foi esse também um dos motivos que fizeram desistir do stop motion, que Burton havia resgato alguns anos antes em O Estranho Mundo de Jack (The Nightmare Before Christmas, 1993 de Harry Selick).
A técnica clássica de animar bonequinhos quadro a quadro seria o ideal levando em conta que uma das principais e óbvias citações é Invasão de Discos Voadores (Earth vs. the Flying Saucers, 1956 de Fred F. Sears). A ficção científica, que na época completava exatos 40 anos, contava com os efeitos do mestre Ray Harryhausen, gênio da animação quadro a quadro.
Mas com marcianos animados manualmente o orçamento iria a estratosféricos 100 milhões de dólares da época! Antes dessa conclusão, o trabalho prosseguiu por cerca de seis meses num estúdio de animação em Burbank.
Foi nessa época que surgiram muitos conceitos que posteriormente veríamos no filme de Tim Burton. Além do visual completo tridimensional dos marcianos (inspirados nos cards 60’s da Topps), ainda sobrou um pouco da soberba no imperador inspirado em Norma Desmond, papel de Gloria Swanson em Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard, 1950 de Billy Wilder).
Existe no YouTube (assista abaixo ou aqui) as gravações em VHS do cotidiano dos animadores de Marte Ataca!. Os bonequinhos mesmo, modelados por Rob Ronning, Barry Purves entre outros (equipe de O Estranho Mundo de Jack), aparecem pouco na gravação amadora, mas é uma oportunidade rara de imaginar como teria sido.
Fotografados diante uma parede azul que posteriormente seria substituída pelas filmagens com os atores, o projeto apresentou claros problemas de execução. Os personagens usam capacetes de vidro, o que obrigava os animadores a removê-los e recoloca-los para conseguir os movimentos faciais.

Isso triplicaria o tempo de trabalho, que geralmente em stop motion já é hercúleo, encarecendo a produção. E mais, além de dificultar encaixar as imagens, ainda corria o risco de apresentar digitais dos animadores nos capacetes, efeito similar ao que acontece no King Kong dos anos 30, quando vemos os pelos da criatura se movimentando sem lógica.

Foi aí que se pensou no recurso digital que à época ainda engatinhava, mas já era exibido em grandes sucessos de bilheteria com relativo realismo. A princípio foi pedido apenas ajuda a Industrial, Light & Magic(ILM) para resolver o problema de mesclar o azul que se via atrás do capacete de vidro com o filmado com pessoas.

Artistas da ILM se empolgaram com o projeto de Tim Burton. Estavam envolvidos na produção de Jumanji (1995 de  Joe Johnston) e ficaram pensando como seria aplicar todos aqueles avanços de computação gráfica em personagens humanoides, até então, pouquíssimo tentado.

O problema do capacete de vidro? É muito fácil simular vidro em computação gráfica! Próximo passo foi convencer Tim Burton que já era possível criar seus marcianos como se fosse stop motion utilizando CG, isso a um custo bem mais baixo.

O principal teste para convencer o diretor foi este que você assiste abaixo. Marcianos roubam o para-choque de um carro.
Esse cenário parece ser bem conhecido e realmente é! Foi reaproveitado da grande sequência de Jumanji, quando o elefante esmaga o carro.

Com se sabe, Tim Burton foi convencido, mas recusou que tentassem imitar os movimentos do Stop Motion.  E assim, o trabalho de meses foi jogado fora, mas não totalmente, afinal reaproveitaram os bonequinhos como modelos a serem escaneados digitalmente, além do cenário do interior da nave mãe que foi mesclado à computação gráfica.
Todo o orçamento do filme ficou em 80 milhões de dólares, sendo gastos mais 20 em publicidade. Ficou bem longe do sucesso esperado, mas conquistou aura cult com o passar do tempo.
A velhinha dos filmes do Tim Burton

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