Lovelace: Faça amor, não faça cinebiografias

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O fato de Linda Lovelace ser lembrada em meio a essa febre de cinebiografias de celebridades é ponto positivo. Extremamente popular em sua época, na posteridade acabou se tornando conhecida apenas por um nicho cult

Lovelace (2013 de Andy Bellin) também possui a qualidade de ser leve, feito para um grande público. Mas tão leve que em nenhum momento emociona, ou tem tempo de desenvolver qualquer empatia com a personagem principal.

Escorrega ainda no maior pecado destes filmes baseados em pessoas famosas: Conta geralmente apenas um lado da história. O maior prejuízo disso é apresentar personagens rasos, que não nos entregam muito mais do que já estamos carecas de conhecer.

Sua existência talvez ainda seja um oportuno eco do estrondoso sucesso que Garganta Profunda (Deep Throat de Gerard Damiano) conquistou no longínquo ano de 1972, muito além de fazer justiça com sua atriz. Perdeu-se a chance de desmistificar não só o lendário filme, mas toda época, assim como o gênero pornô que tinha um significado muito distinto em relação a outras épocas.

O roteiro dá a entender que Garganta Profunda lucrou muito porque Linda Lovelace praticou muito bem a modalidade que dá nome à fita. Aliás, boa parte das reconstituições é justamente da celebre sequencia em que o doutor Young descobre a exótica localização do clitóris da moça.

Sabemos que filmes pornôs sempre existiram e que o estrelado por Lovelace teve a audácia de incluir uma história de humor cínico e socialmente crítico entremeado por cenas de sexo. Transformou sua protagonista em estrela assim como alavancou uma industria ao ponto do X-Rated ultrapassar a fronteira das salas de cinema para adultos e ser encarado como um gênero como qualquer outro.

Mas isso tudo não está em Lovelace, da mesma forma que Hitchcock dirigido por Sacha Gervasi em 2012 minimizou não só o mestre Alfred Hitchcock como a feitura de Psicose (Psycho, 1961). E é por essas e outras que essas cine biografias que estreiam aos borbotões começaram a feder.

E quanto ao elenco, brincou que Amanda Seyfried, toda branquinha, magrelinha e frágil poderia se passar por Linda Lovelace... Adam Brody de Harry Reems, Debi Mazar de Dolly Sharp? Todos com carinha de gente bem criada, muito longe do underground californiano.

Se além de tudo isso ele tivesse uma reconstituição de época espetacular? Não tem! Pelo tema, pensamos no fantástico Boogie Nights: Prazer Sem Limites (Boogie Nights, 1997 de Paul Thomas Anderson) e seu perfeccionismo em reproduzir clássicos pornôs dos anos 70, conforme você confere clicando aqui.

Lovelace contêm-se apenas em reproduzir trechos de Garganta Profunda e mesmo assim erra em quase todas as vezes. Erros como incluir um técnico de áudio durante as filmagens da cena de abertura dentro do carro quando não havia áudio, a detalhes de figurinos, cabelo, maquiagem, cenários, ângulos...
Ainda tem uma trilha sonora não mais do que banal. Nem de longe lembra todo aquele suingue e malícia de “Love Is Strange”

E com todos os poréns, importante dizer que Lovelace é um filme indolor. Pra quem não se importa com cinema (que é diferente de gostar de ver filmes), não leva em conta a existência da figura retratada ou que não tenha curiosidade sobre o período pode achar o filme direitinho.

Veja também:
Nem tudo foi mar de rosas no pornô 70’s
Carbono erótico: Incrível reprodução de Boogie Nights
Inspiração profunda: Garganta Profunda no imaginário pop 70's
Harry Reems, o doutor de Garganta Profunda
Garganta Profunda, sinos e jorrões
A música de garganta Profunda


[Ouvindo: Os Ricos Também Choram (Sombra) – Sara Regina]

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