E há quem ache uma grande novidade...

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Muito lembrado o lance entre os dois homens mostrado por Billy Wilder em Quanto mais Quente Melhor (Some Like it Hot, 1959). Milionário se envolve com gaiato vestido de mulher sem saber da real natureza do ser amado.

Embora um dos spoilers (“ninguém é perfeito!”) mais difundidos da história, melhor parar a descrição por aqui. Vai que alguém ainda não assistiu a uma obra-prima como esta?

Mestre em tocar em assuntos delicados, Wilder já havia explorado o tema. Em Inferno 17 (Stalag 17) de 1953 (53!), é bem engraçado (!!!) para um filme que se passa dentro de um campo de concentração.

Os prisioneiros masculinos resolvem fazer um bailinho. Homem com homem, porque era o que tinham á mão!

Como ninguém tira o baixinho Harry pra dançar, ele improvisa uma peruca loira com a palha do colchão e sai se oferecendo como “A rainha do baile”. O único que cai é o Animal, bêbado como um gambá visualiza sua musa Betty Grable no corpo do amigo.

E eles saem dançando de rostinho colado, com Animal fazendo juras de amor à loira providencial. Só não vai adiante porque o travestido belisca o outro quando este lhe pergunta se não estaria sonhando.

Se hoje o assunto ainda gera tanto espanto até em meio a telenovelas medíocres, o diretor foi um às em conseguir passar pelos sensores e depois pelo crivo da plateia caretinha de quase 59 anos atrás. Inferno 17 foi um enorme sucesso!

Billy Wilder era avesso a musicais porque o absurdo dos personagens saírem cantando do nada quebrava a concentração do público. Mas nunca dispensou cenas de dança entre casais.

Talvez lembranças de sua juventude na Áustria, quando fazia bico nos salões de baile. Cobrava módica quantia de desacompanhadas senhoras de certa idade.

[Ouvindo: Fever – Peggy Lee]

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6Comentários

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  1. Acho que hoje em dia tem muito mais do preconceito generalizado e velado (o simples dançar com alguém já faria com que outros olhassem com dúvidas sobre a sexualidade de ambos) do que antes Miguel. Coisas de internet em meios sociais. Antes de você pensar e ponderar sobre, já lhe ofereceram a informação rotulada e julgada.

    Vejo alguns antigos também com esta postura. Mas acho que ali vem pelo respeito que a figura masculina tinha há algumas décadas. Algo tipo "Filho, dance com seu cachorro, mas chamar seu pai para lhe fazer companhia, JAMAIS! Ele é de respeito e fica nervoso fácil!"

    E hoje dá-lhe fofocas, rabos-de-olho, comentários.... Geralmente, não se pode nem expressar opinião. se você não abre a web para olhar 154124 mulheres ou os 1451 gols de ontem (pela vigésima vez), você é estranho.... Lógico, se você for homem, rs.

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  2. Daniel, verdade! Entre num desses blogs de fofoquinha tão comuns hoje e sempre estão tirando sarro de alguma moça mais saliente, de um suposto caso homossexual de algum famoso e coisas do gênero.

    Como se isso fosse algo extraordinário. Quanto a mudar a vida de alguém, então...

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  3. Meninos, tudo hoje se deve à falta de horizontes. A fofoca é inerente ao ser humano, mas poderia se aplicar a milhares de assuntos.

    Hoje, porém, se resume a sexo, sexualidade, sexo, sexualidade, sexo, sexualidade. Os jornalistas são apenas reflexo de uma mentalidade que emergiu das trevas.

    Não sei se um dia faremos comentários, sei lá, sobre a qualidade duvidosa do trabalho acadêmico de alguém, ou sobre a posição de fulano de tal sobre a energia eólica como panaceia para o mundo.

    Viramos uma imensa vilinha de subúrbio. Só.

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  4. Letícia, bem por aí! Fiscais do bumbum alheio.

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  5. Na falta de um aspecto mais básico da vida humana...

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