Do quê Lucy tinha medo?

13
Comemorando 60 anos de que estreou na TV norte-americana, o seriado I Love Lucy preserva seu humor de fazer se contorcer de rir. Ok! Humor é algo muito pessoal, a mim pelo menos me faz cair na gargalhada como um tonto.

Visto agora, ele tem alguns anacronismos culturais. Por exemplo, sempre que a protagonista fazia alguma burrada ela demonstrava muito medo do marido.

O marido, com sangue quente latino, chega a ameaça-la com a mão aberta em alguns episódios. Tanto faz o motivo, mas no caso é por motivos tolos, como torrar o dinheiro em bobagens.

Li algumas pessoas debatendo isso nos fóruns do IMDB, o que é um alívio que exista tal debate em 2011. Que violência doméstica não passe despercebida, mesmo numa obra de ficção antiga.

No festejado programa isso é natural. O show foi gravado há 60 anos, representando os costumes (então atuais) de uma típica família da classe média dos EUA.

O programa vingou pela exatidão (ou idealização?) de comportamento. Não que agressão contra a mulher tenha sido algum dia engraçado, mas os hábitos daquelas pessoas de seis décadas atrás encaram isso com naturalidade.

Patrulha do politicamente correto com coisas do passado é tão burra quanto assistir a qualquer coisa que não tenha sido lançado agora com olhar atual. A arte é um exercício de imaginação, incluindo aí nos transportar para uma época distante.

Na história do casal Lucille Ball e Desi Arnaz, tem o desconforto dos personagens se misturarem aos atores, prática copiada até hoje nas sitcoms. Quando Lucy abriu os olhos, o maridão tinha-lhe passado a perna nos negócios.

Arnaz era presidente da Desilu, produtora que evidentemente foi criada com o suor cômico dela. Tanto que após a separação, Ball continuou trabalhando em outros seriados bem sucedidos.

Tem um especial para a marca Westinghouse onde mostram os bastidores da empresa. Dos estúdios recém-comprados da RKO à sala da administração, onde a ruiva invade acrescentando um “vice” à palavra “presidente” da mesa com intenção de se esbaldar nos eletrodomésticos.

O marido só pensa em negócios e a esposa tresloucada só pensando em compras. Termina com o camarim dela lotado de objetos (Lucy escondida dentro de uma lavadora de roupa) e ele querendo partir pra ignorância.


[Ouvindo: Lost Love - Ann Margret]

Postar um comentário

13Comentários

Antes de comentar, por favor, tenha consciência de que este espaço é disponibilizado para a sua livre opinião sobre o post que você deve ter lido antes.

Opiniões de terceiros não representam necessariamente a do proprietário do blog. Reserva-se o direito de excluir comentários ofensivos, preconceituosos, caluniosos ou publicitários.

  1. Ainda bem que hoje esse tipo de ato (bater em mulher) causa indignação.


    ps: blog porreta esse seu ^^

    ResponderExcluir
  2. Uma lembrança: mulher também bate, e uma correção: o certo é Desi Arnaz. (Arns, é Dom Paulo Evaristo)

    Aqui, a banda de Desi Arnaz, Jr., Dino, Desi & Billy

    http://www.youtube.com/watch?v=AeHjZxaKO5I&NR=1

    ResponderExcluir
  3. Diogo, ainda bem. Embora o ato em si ainda seja tristemente comum.

    Refer, sim, violência doméstica é doméstica. Mas vamos concordar que um homem geralmente tem o porte maior que uma mulher.

    ResponderExcluir
  4. Não dá para concordar MUITO, sorry.

    Conheci uma cineasta (ela é famosa) que enchia o marido de porrada, ela é bem menor do que ele. A especialidade dela (não sei se mudou...) era bater com uma panela.

    Isso (a mulher bater) é mais comum do que se pensa, apenas não comove ninguém.

    ResponderExcluir
  5. Refer, é comum, mas não tanto quanto o contrario. Não se esqueça que mulheres ainda são tratadas como ser humano de 2ª por muita gente.

    Muito tontas as que não se valorizam ou deixam de se indignar com coisa do tipo.

    No caso de I Love Lucy, é ele o casca grossa, só porque é o provedor de dinheiro da casa. Em 50 e pouquinho.

    Imagina que absurdo ainda acontecer isso em 2011...

    Refer, vc já tomou uns cascudos de uma "dama"?

    ResponderExcluir
  6. Anteontem vi uma VACA lascando uma tapona na orelha de uma menina de uns 4 anos.

    Não sei dizer se é igual pelas classes sociais. Pode ser que não. Talvez questão de estatística.

    A violência (que começa com os tão generalizados gritos) é a coisa mais antiga e inexplicável do mundo.

    Por isso que quando vejo coisas como "neto matou a avó", "filho enforcou os pais", cuido muito em não tirar conclusões simples.

    Quanto a relacionamento entre homem e mulher, é o único em que a ofendida (ainda) acha isso digno.

    Sobre a violência feminina contra maridos, é simples o cara largar a vaca. Muitasdasvêis é aí que começa o clássico mimimi de ex-mulher.

    ResponderExcluir
  7. Letícia, isso aí! O que ferra na educação é o empurra empurra.

    A escola fala que tem que ser em casa. Em casa tem que ser a escola.

    E assim temos uma nação brutal e burra.

    Gritar, bater, não educa porra nenhuma. Educação é 24 horas por dia, todos os dias do ano.

    Não sabe? Dá trabalho? Não ponha filho no mundo!

    Entre casais, você lembrou bem também. Geralmente a mulher é dependente emocionalmente e financeiramente do agressor.

    Isso tem outro peso.

    ResponderExcluir
  8. E dá um trabalho fenomenal, mesmo entre as mais "esclarecidas".

    Mas é isso: tem de acabar com esse mito de que emprenhar é coidideus.

    É, sim, se você cuidar, e cuidar muito bem. Do contrário...

    ResponderExcluir
  9. Letícia, emprenhar tinha que ser encarado como uma super coisa. Uma benção de verdade!

    Não uma banalidade obrigatória.

    ResponderExcluir
  10. Letícia, pior que todo mundo se acha merecedor. Hahahah Danou-se!

    ResponderExcluir
  11. É. Tudo muito lindo e abençoado. Depois vai fazer arrastão em Vila Mariana.

    ResponderExcluir
  12. letícia, sim, e papai e mamãe se isentam de tudo que o monstrinho faz. Injusto isso.

    ResponderExcluir
Postar um comentário