Kristine Miller responde a esta pergunta

6
Causaram-lhe alguma impressão os seus dois primeiros dias de trabalho como artista de cinema?

Se me causou impressão? Acredito que nenhuma novata no período de sua iniciação em Hollywood tenha ficado tão cheia de complexos como eu durante as minhas primeiras quarenta e oito horas atuando na comédia de Hâl Wallis "I Walk Alone". Percorri toda a escala dos sentimentos desde o amor ao ódio, fisicamente expressados nos mais compridos beijos logo no primeiro dia.

Interpretei a "outra mulher" naquêle filme citado que tem Lizabeth Scott, Burt Lancaster e Kirk Douglas entre os principais personagens. Minha primeira cena foi com Kirk e foi um tal de beijar que nunca mais acabava, foi um verdadeiro teste de beijos. Passei praticamente todo o dia em seus braços tendo sido filmado onze ângulos da citada cena na qual fui beijada 44 vêzes por dever de oficio. Eu estava meio tonta quando tudo acabou e não é para menos. Beijar, naturalmente que é uma coisa boa, mas já tentou isso nas películas? É preciso colocar os lábios de jeito que o nariz não atrapalhe. É preciso fechar os olhos no momento exato e enquanto isso deve-se estar beijando com o pensamento concentrado nas linhas do diálogo que vem a seguir, um pouco complicado, não?

Meu segundo dia foi ainda mais difícil porque em vez de beijar Kirk Douglas, meu trabalho era esbofetear Burt Lancaster e me disseram que devia fazê-Io com bastante fôrça. Parece fácil, mas é preciso estar com a mão aberta bem visível a fim de atingir a face de maneira convincente, sem esquecer de que o som é tudo nos filmes sonoros. Ao fim do dia eu tinha o braço tão dolorido de tanto exercício feito para tornar bem verídica a cena que tive de ir ao hospital do próprio estúdio para os devidos tratamentos.”

***


E assim, a argentina Kristine Miller começou sua carreira em Hollywood. Quer dizer, segundo ela descreveu ao Jornal das Moças em 1948.

Em sua filmografia no IMDB constam 5 filmes antes do que ela descreve como seu primeiro dia de trabalho. Evidente que é bem mais interessante contar que começou beijando 44 vezes Kirk Douglas e esbofeteando Burt Lancaster.

Cria do produtor Hal Wallis (que ela cita na resposta acima), assim como Shirley Maclaine, Lizabeth Scott e Charlton Heston, acabou ficando restrita a papeis de coadjuvante. Só com Scott ela fez quatro filmes em personagens pequenos.

Lembrando que Lizabeth Scott é aquela que as bocas de Matilde de Hollywood apontavam como a verdadeira Eve da vida de Tallulah Bankhead. Boatos davam conta que a história de A Malvada (All Aboutt Eve, 1950 de Joseph L. Mankiewicz) era inspirada nelas, conforme você já leu a respeito aqui.

Aposentada das telas desde 1961, Kristine Miller hoje é quase uma ilustre desconhecida. Na biografia sobre Wallis, conhecido agora como criador de estrelas, disse que ele "não soube o que fazer" com ela.

Teve em Uma Vida Por Um Fio (Sorry, Wrong Number, 1948 de Anatole Litvak) como melhor filme a participar. Não foi creditada, mas esteve num sucesso estrelado por Barbara Stanwyck.

A foto maior é um oferecimento All Star Pics

[Ouvindo: Make It Easy On Yourself - Burt Bacharach]

Postar um comentário

6Comentários

Antes de comentar, por favor, tenha consciência de que este espaço é disponibilizado para a sua livre opinião sobre o post que você deve ter lido antes.

Opiniões de terceiros não representam necessariamente a do proprietário do blog. Reserva-se o direito de excluir comentários ofensivos, preconceituosos, caluniosos ou publicitários.

  1. Beijar 44 vezes Kirk Douglas e ficar de mimimi? Não quer deixa que eu faço!

    ResponderExcluir
  2. Letícia, hehehe, se fazendo de trabalhadora sofriiiida!

    ResponderExcluir
  3. Ah, para...

    Bem, o contrário tb. não pegava bem, né?

    ResponderExcluir
  4. Letícia, ela queria que as moças sonhadoras com o estrelato se mordesse de inveja!

    ResponderExcluir
  5. Sim, se fazendo de blasé.

    ResponderExcluir
  6. Letícia, o mundo dá voltas, e a Lusitana...

    ResponderExcluir
Postar um comentário