Sentinela da TV: Amor e Revolução

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E eu não ia falar nada aqui sobre Amor e Revolução, atual novela do SBT. Escrevi um twitte ou dois, sob o impacto do que assisti a primeira vez e achava ser suficiente.

Mas como ficar quietinho diante do texto do autor Tiago Santiago publicado hoje no caderno Ilustrada da Folha de São Paulo? Foi em resposta à crítica publicada pelo mesmo jornal semanas antes.

O cara escreve um campeão de vergonha alheia e fica ofendidinho? Há tempos que a TV aberta brasileira não nos presenteava com tamanho amadorismo e ele ainda fala em “realização magistral”. REALIZAÇÃO MAGISTRAL!!!

Concordaria se fosse um humorístico. Ri magistralmente com aqueles clichés que seus personagens dizem. Minha finada professora Dalete costumava discursar de forma mais empolgante em suas aulas de OSPB.

Pra quem nunca assistiu, nem o cara que aperta o botão pra colocar a trilha sonora acerta! Qualquer música dos anos 60, 70 toca do nada no meio de qualquer sequência .
Diz Santiago que “o próprio crítico equivocado é forçado a reconhecer a aparência de superprodução, resultado do esmero na direção e arte e pesquisa”. Assisti a uma novela diferente então...

Pobreza franciscana de cenografia e figurinos. Nada ali lembra nem de leve a década de 60! Aliás, lembra! As interpretações pomposas nos remetem aos teleteatros da Tupi (com todo respeito aos teleteatros da Tupi!).

Principio básico de uma reconstituição de época: Ser fiel é impossível. Por isso são necessárias pesquisas simples, que busquem elementos que reflitam o período, não que copiem.

Caprichadinha mínima nos penteados, tons de cabelos (amarelo ovo na Sabrit?!?), bigodes e barbas tão comuns entre a revolução cultural do período... Isso não custaria um centavo a mais na produção.

Olha que eu gosto de trash, mas aguentar capítulos mal estruturados é duro! Outro dia tentei assistir de novo, tinha gente aqui comigo, e seria divertido compartilhar essa preciosidade do gosto duvidoso que só poderia existir na emissora do Silvio Santos.

Numa cena a Vendramini apareceu sentada diante do Jayme Periard, próxima cena um grupo de teatro balbuciava meia dúzia de clichés comunistas, volta pra Vendramini sentada diante de Jayme Periard, corta pro Nico Puig colocando ácido (!!!) pro Padre Albano andar, volta pro grupo de teatro balbuciava meia dúzia de clichés comunistas e de novo a Vendramini apareceu sentada diante do Jayme Periard... Só isso! Hahaha!!!

E a filha da Tânia Alves? Esqueceram a guria sendo torturada de calcinha por semanas!!!! Num cenário tão óbvio que chega a ter sombra de ventilador!

Pra se ter noção do texto discursivo, o torturador chega a falar pra moça de calcinha bege no pau de arara: “Você não é atéia, “fulana”? A religião não é o ópio do povo segundo Karl Marx?”.

Ao final do capítulo aparecem pessoas reais que viveram nos chamados anos de chumbo. Recurso manjado das novelas do Manuel Carlos, mas que aqui são longos, muito longos minutos de blábláblá apostando na boa vontade do telespectador em não trocar de canal.

Caro Tiago Santiago, não precisa contar que o senhor além de escritor tem mestrado em sociologia e está há meses pesquisando esse período conturbado de nossa história. Basta demonstrar isso na hora em que senta pra escrever a sua novelinha.

[Ouvindo: You Can't Do That - Harry Nilsson]

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21Comentários

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  1. eu ri muito quando do nada no meio de uma perseguição da policia começou a tocar pode vim quente que eu estou fervendo

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  2. Alessandro, hahaha! No meio do nada, dialogo corriqueiro e toca Roda Viva ou qualquer Nara Leão!

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  3. eu confesso... eu assisto e gosto de assistir, mas vejo milhares de defeitos.. acho que curto o trash, me lembra as primeiras novelas mexicanas e afins..
    Sem contar que é tele teatro demais...
    Silvio Santos deveria me dar um prêmio..

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  4. Li a réplica do cara. Fernando de Barros Silva poderia se poupar em apontar eventuais distorções históricas. Dá ideia que leva aquela pantomima a sério, entende?

    Não dá. Por tudo o que você disse. Não sei qual tópico é mais constrangedor, primário e ridículo. Acho que fico mesmo é com essa coisa de tascar QUALQUER música da década de 60 em QUALQUER MOMENTO momento.

    Só nos resta apostar qual delas ilustrará a morte de Marighella. Vamos dar nossos pitacos?

    a) "E que tudo mais vá pro inferno".
    b) "Se você pensa que meu coração é de papel".
    c) O sonoplasta acordou de mau humor, como todos os dias, e tasca "Cálice".
    d) Acordes iniciais de "Alegria, Alegria".

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  5. Kika, também tentei assistir. A primeira vez me encantei!

    Parecia os bons tempo do TV Pirata. Mas os capítulos são muito mal estruturados, muito repetitivos.

    Lembra Os Mutantes, por "coincidência" do mesmo autor. Praquilo ser saborosamente trash tinha muito o que melhorar.

    Letícia, mas entendi a critica. A emissora promoveu aquilo como se fosse um retrato histórico.

    Vai ser "Cálice". APOSTO!

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  6. Sim, Miguel, mas até hoje há correntes controversas sobre tais dados históricos. Até aí, normal.

    Isso se fosse uma produção séria, né?

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  7. Letícia, pois é, "se fosse produção série". O critico visivelmente foi na expectativa disso.

    Tanto que chamou aquilo de "superprodução".

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  8. Bem, você tem sua crítica que respeito porque cada um tem sua opinião, mas não acho correto você falar que já é manjado os depoimentos que aparecem no final da novela.
    NUNCA tivemos na TV aberta brasileira os torturados falando das torturas que passaram. Falta o povo brasileiro saber o porquê te termos uma polícia tão agressiva e autoritária, essa polícia é fruto destes gorilas dos porões do DOPS.
    Eu, em 2001, assisti a uma peça chamada "Lembrar é Resistir" dentro do DOPS-DOICOD, você não tem idéia da angústia que senti por estar dentro daquelas celas e ver a situação daqueles "presos políticos".
    Realmente a novela está longe de ser superprodução, mas o tema discutido vale muito porque sai daquele padrãozinho de novela brasileira: historinha de amor açucarada, famílias ricas de Ipanema x famílias pobres dos morros, alguma doença sobre os moçinhos, etc.
    No primeiro capítulo, teve uma das primeiras falas que já indicou como seria a novela: um Brasil Cubão. Rsrsrsrsss...

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  9. Clebison, qualquer novelica do manoel carlos tem um povo da vida real contando seus dramas. A diferença é que até isso é mal feito.

    A Globo já mostrou tudo isso, também com reconstituição pobre, mas com texto bem mais competente em Anos Rebeldes.

    Entendo o que você quer dizer, mas poderia ser mostrado de uma forma menos amadora.

    Brasil tem mais de 40 anos de novelas. Amor e Revolução é um retrocesso técnico e artístico.

    Em tempo, nossa polícia agressiva e autoritária é também fruto da educação PODRE que esse país tem. Qualquer um com o mínimo de poder nas mãos acha que é um ser humano melhor.

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  10. Miguel, não dá para comparar as novelas da Globo com as das outras emissoras, seria o mesmo que comparar os filmes brasileiros dos anos 1980, 1990 com os de Hollywood. A Globo já tratou do assunto Ditadura na série Anos Rebeldes, mas lembre-se da conjuntura política: Collor roubando como presidente; Globo querendo o impeachment dele, e para isso, mobilizou a população com o seriado que tinha um parzinho romântico e a tortura passou bem longe... numa cena final aparece a Claudia Abreu dizendo que teve os seios queimados com cigarro, e ponto.
    Acho exagero querer que o SBT faça novelas com a qualidade da Globo que já as produz há 46 anos. Não podemos comparar as duas emissoras porque seria covardia, a Globo tem fábrica de cenário, tem atores maravilhosos, etc. E acho digno de respeito a iniciativa e coragem do SBT de tratar do tema Ditadura em uma NOVELA, não em SERIADO.
    E também é bom lembrar que nas décadas de 1960 e 1970 a escola pública era de grande qualidade, diferente das décadas posteriores. Será mesmo que a polícia agressiva e autoritária de hoje tem mais a ver com educação do que com o nosso histórico de tortura? Por que muitos defendem pena de morte e que bandido tem que apanhar e morrer? Estes muitos têm pouca escolaridade?

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  11. Clebison, não! Não!

    Texto com qualidade, interpretações maduras e profissionais podem existir em qualquer emissora. O que o SBT está exibindo é um tropeço só.

    Difícil encontrar ali algo que preste, além do argumento. Fazer sensacionalismo com tortura, aproveitar cena forte pra mostrar a mocinha lambadeira de outrora de calcinha e sutiã, não sei que serviço cívico pode valer.

    Brasil está num emaranhado de bandalho em todas as áreas. Falta de respeito absurdo com o próximo.

    Basta dar uma voltinha no fim de semana que temos noção concreta disto. Cada um por si, cada um tentando se dar bem nas mais ridículas e mínimas coisas.

    Polícia, políticos, jornalistas, povão em geral, todos fazem parte do mesmo caldinho. Todos querem seu lugar ao sol a todo custo.

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  12. "Texto com qualidade, interpretações maduras e profissionais podem existir em qualquer emissora." Poder, pode, só que está na Globo por sua experiência na teledramaturgia. E olha que ela vira e mexe faz "Cubanacam" e "Morde & Assopra", grandes interpretações... rsrsrsss..

    Quanto ao "sensacionalismo com tortura", não é sensacionalismo, é o que de fato aconteceu, com a diferença que não ficava-se de calcinha e soutien, todos ficavam pelados, molhados e tomando choque.

    A novela não fala do Brasil de agora com todos os descalabros, ilustra um passado muito triste nossa história.

    Por mais amador que seja o conjunto, ainda acho muito válido tocar nessa ferida que ainda dói em muita gente.

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  13. Clebison, o autor da novelinha do SBT veio de lá. Quer dizer...

    Aham que as mocinhas torturadas eram todas gente sensual...

    O Brasil de agora falei me referindo aos policiais. Não disse que não é válida essa novela, disse que é um retrocesso.

    Um texto atual cheio de pitadas históricas. Pena que o autor nunca deve ter assistido Mad Men, onde usam os anos 60 como forma de criticar os costumes (políticos/sociais) gerais.

    Assistimos com a real sensação de que aquelas pessoas estão naquele período, só poderiam existir naquele momento. Não um blablablá acadêmico 60's transcorrido em 2011 como o SBT vem mostrando.

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  14. Primeiro você disse "que o SBT está exibindo é um tropeço só", "difícil encontrar ali algo que preste", e agora diz "não disse que não é válida essa novela".?
    Muitas mocinhas torturadas eram sensuais, sim, e por isso foram estupradas também. Todas as novelas só tem gente sensual, por que seria diferente no SBT?
    Talvez você devesse assistir alguns depoimentos do final da novela para repensar as críticas. Abraços.

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  15. Clebison, ué, dá emprego a um punhado de gente. Isso não pode ser algo ruim. Mas que é um produto bem mal acabado lá isso é.

    Se há algo que brasileiro sabe fazer é samba, carnaval e novela. Vergonha que algo assim esteja sendo exibido.

    Fiquei indignado na verdade com o autor ainda se sentindo no direito de rebater críticas. O tempo que ele gastou nisso poderia ter gasto pensando numa forma de melhorar o que faz.

    Toda a produção ruim poderia ser amenizada se o texto fosse pelo melhorzinho. Nunca recebi tuitadas de gente querendo que eu comentasse algum assunto como essa novela.

    Recusei achando desnecessária. Mas todo mundo gargalha assistindo. Será que aquele período negro merece ser mostrado como comédia involuntária?

    Pffff, e justo a da novela teria um corpo lindo pra ficar capítulos e mais capítulos pelada?

    E assisti sim aos depoimentos, quase dormi! Nítida sensação que uma bela edição ali deixaria os importantes depoimentos muito mais interessantes ao telespectador comum.

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  16. Uma coisa é um assunto recontado.

    Outra é a maneira como é contado. Parece que, com o passar do tempo, mais e mais uma só versão se impõe nos bancos escolares. Pasteurizamos bem o período pra ficar bonitinho. Tiradentes que o diga.

    Outra bem diferente é fazê-lo (com que versão for) dentro de uma concepção completamente amadora.

    Tenho peninha do SBT, não. Todo o lucro que angaria vai Deus sabe pra onde. Pra investimento em teledramaturgia é que não é.

    Ponto pra Globo. Pode ser o que for, mas alcançou um nível entre os melhores do mundo.

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  17. Letícia, suuuuuper concordo com tudo!

    Não estou discutindo o tema, o assunto, mas a forma canhestra como está sendo contada.

    SBT pensa que ainda está fazendo TV em 1980 e alguma coisinha. Com um povo tolinho tolerando qualquer abacaxi.

    Aliás, muito me irrita esta aposta na burrice do público. Falamos sobre isso aqui ainda outro dia.

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  18. Cara, mas o problema do SBT é mesmo a filosofia da coisa toda. O SS é famoso por pensar e agir como se ainda fosse camelô, inclusive no que se refere à programação dele. Sem contar as bizarrices - lembra da época em que ele soltava umas chamadas do tipo "Assista Cinema em Casa, logo depois do Globo Repórter"??? Ou o slogan (isso lá no comecinho dos 80) que dizia "Liderança cada vez mais absoluta do SEGUNDO lugar"???

    O problema é que a emissora sempre foi pensada para as classes C, D e E - só que o patrão esqueceu que hoje as classes C, D e E tem computador, acessam o youtube e compram DVD no camelô por déi reáu. O nível do povão, ainda que não seja o ideal, mudou de alguma forma. E a emissora não.

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  19. Ricardo, exatamente isso. Acho ótimo que exista uma emissora voltada ao popularesco.

    Morro de rir, curto! Mas não me venham falar que o que eles fazem é excelente.

    Injusto com quem realmente faz algo que presta.

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  20. Ontem vi um pedaço. Uma cena de tortura, com o Claudio Cavalcante.

    Nem falo dos clichês de esquerda nos diálogos, algo era alvo de riso mas que recrudesceu (como sério) no nosso Brasil xuvenil.

    O problema é a cena malfeita. Ou melhor, a cena. Foi tão confiada, tão explícita, tão sei lá, que achei um desrespeito com quem realmente foi torturado nos anos de chumbo. Uma avacalhação.

    Tipo a indústria do holocausto, sabe?

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  21. Letícia, bem por aí mesmo. A coisa mal feita cheira a sensacionalismo barato com a dor alheia.

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