Beijos na tela, desprezo fora dela

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Bette Davis tinha a teoria de que quando mais afável o clima nos bastidores, menos chances o filme tinha de ser sucesso de bilheteria. Teve a chance de provar isso em Meu Reino por um Amor (1939) de Michael Curtiz.

A confusão começou pelo título, que deveria ser o mesmo da peça em que foi inspirado, Elizabeth, The Queen. Mas com a entrada do super astro Erroll Flynn no projeto, a Warner decidiu que seria The Knight and the Lady.

Davis ficou furiosa, afinal, a história era sobre a rainha. Assim, acabou chegando ao consenso com o gigantesco The Private Lives of Elizabeth and Essex.

Pra piorar, ela já havia trabalhado com Flynn em As Irmãs (The Sisters, 1938 de Anatole Litvak) e detestado seus modos profissionais. Na época, o galã estava no auge do estrelismo pós As Aventuras de Robin Hood (The Adventures of Robin Hood, 1938 de Michael Curtiz e William Keighley).

Seu sonho era contar com Laurence Olivier de par romântico, evidente recusa da Warner que não arriscaria um projeto caro, fotografado em Technicolor, com outro que não o ator do momento. Por acaso, seu contratado.

O elenco ainda conta com Olivia de Havilland e o então iniciante Vincent Price. Causa estranhamento vê-la, famosa na época, em papel secundário.

Simples! Foi uma espécie de castigo imposto pelo estúdio após ela ter batido o pé para participar de certo filme da concorrência, rodado pouco antes: ...E O Vento Levou (Gone with the Wind de Victor Fleming)!

Olivia de Havilland e Bette Davis foram amigas por toda vida. Dá pra imaginar o quanto devem ter malhado Erroll Flynn pelas costas, se lembráramos que Havilland também foi par dele em algumas produções antes e os desentendimentos ficaram conhecidos.

Conforme recorda o roteirista Bob Thomas no documentário Elizabeth & Essex: Batalha real, Bette Davis não tinha papas na língua. Diariamente, ou várias vezes ao dia, corria ao escritório de Jack Warner para fazer queixas do colega.

Fez isso com tanta frequência que o chefão do estúdio ao ouvir seus passos no corredor corria se esconder no banheiro. Saía apenas com a certeza de que não cruzaria com ela.

A falta de sincronia entre o casal central de Meu Reino por Um Amor é evidente para quem assiste. Davis toda concentrada, honrando o rótulo (que amava) de operária da arte, e Flynn com aquele jeito de gaiato, bon vivant, que está ali só por diversão.

Tantos anos depois, olhando friamente as interpretações,s em levar em conta o status estrelar, é claro que ela estava certa. Não contracenou com um ator à sua altura.

Longe de ser um grande exito, ficou ainda mais distante de ter sido fracasso. Bateu de frente com o fenômeno ...E O Vento Levou, o que explica tudo.

As cinco indicações ao Oscar de 1940 foram quase todas em categorias técnicas. Nenhum dos dois atores consegui ser indicado, embora Davis estava entre as melhores do ano por Vitória Amarga (Dark Victory de Edmund Goulding).

Veja também:
Bette Davis e Olivia de Olivia de Havilland: Amigas para sempre



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11Comentários

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  1. Inclusive a Olivia está em As Aventuras de Robin Hood, um dos muitos que deixava gravando nas madrugadas da Globo.

    Não vi esse Meu Reino por um Amor, até quero, mas Davis e Flynn me parecem um casal muito estranho, sem química mesmo.

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  2. Glauco, e há historiadores que falam da química. MENTIRA!

    O filme é chato, envelhecido. Não virou clássico, mas pelo elenco, todo sacrifício é válido.

    Dona Warner ainda o lançou em DVD numa restauração podre! Olha que borrão é o frame maior do post.

    Cada camada de cor desfocada.

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  3. Miguel, o que mais tem é filme que só vale pelo elenco. Tente colecionar DVDs de Brigitte Bardot e você saberá, rsrsrs.

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  4. Glauco, imagino! :-/

    Da Bette Davis até que a gente tem sorte. Ou ela nem nos deixa notar o filme fraco.

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  5. Sim, uma grande atriz!!!

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  6. Glauco, dos VHS que ainda não consegui em DVD, muito lamento de A Grande Mentira.

    BD e Mary Astor só no catfight! LINDO!

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  7. Miguel,
    "A grande mentira" vc encontra no blog desvendandoestrelas para download. Só não sei a qualidade. Vou baixar pra ver. Bjss

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  8. Opss, esqueci de marcar pra acompanhar...

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  9. Tata, valeu! Vou lá procurar.

    A única vez que encontrei não tinha legendas.

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  10. Quem em sã consciência teria coragem de desprezar Errol Flynn???? rsrsr Eu certamente jamais. Gato, como não se fazem mais .

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  11. Siby, bonitão ele era mesmo, mas canastríssimo!

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