Musical raro e autêntico "made in Brazil"

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Como eu presto muito mais atenção pra filmes do que pra discos, bem natural que minhas principais referências musicais venham do cinema. Foi assim com Chico Buarque!

Quando piá, só me caiu a ficha de sua grandeza após ver a adaptação de Ruy Guerra para Ópera do Malandro (1986). Um filme magnificamente... Ruim!

Com tantas subtramas que a gente desencana na metade dos personagens e passa a prestar atenção às canções. E mesmo assim, assisti tantas vezes que sei boa parte dos diálogos de cor e salteado.

Estranho que boa parte das músicas diverge da versão teatral de 1979 que emplacou vários sucessos nas paradas. Inclusive o hit Folhetim (imortalizado na voz de Gal Costa) não faz parte.

As duas histórias também são bem diferentes. No cinema dançou toda a política e metalinguagem do texto do próprio Chico inspirado em Ópera dos Mendigos, de John Gay, e na Ópera dos Três Vinténs, de Bertolt Brecht e Kurt Weill.

Utilizaram o esqueletinho da peça dentro da peça e transformaram numa sátira aos filmes de gangster hollywoodianos 30’s. Aliás, ele tem muito mais do gênero que fez James Cagney lendário do que dos célebres musicais da Metro da década seguinte.

Sendo que a trama se passa na Lapa nos anos 40, com a Segunda Grande Guerra de pano de fundo. Quando o governo getulista botava literalmente pra quebrar.

Do elenco original foram reaproveitadas apenas duas atrizes: Elba Ramalho e Claudia Jimenez. As duas coincidentemente eram estreantes na profissão em 1979.

Jimenez, que havia sido a prostituta Dorinha Tubão, se tornou Fiorella, a dama de companhia de Ludmila (Claudia Ohana). Elba repetiu o personagem Lúcia, prostituta de idade avançada que sustenta o malandro, na montagem paulistana foi substituída por Tânia Alves.

Agora com muito mais relevância à história, trocaram seu nome para Margot. E ela é uma das melhores coisas dali, não só cantando, mas como excelente atriz.

Opostamente, Edson Celulari como o malandro protagonista Max (antes Otávio Augusto) está sofrível tanto cantando quanto interpretando. E não é que ele vingou como ator depois de tantos anos?

Mas palmas mesmo merecem os produtores! Na metade dos anos 80, com as pornochanchadas bumbando nas bilheterias em fase de sexo explícito, investiram num projeto tão custoso de pouco apelo popular.

Décadas depois, merecia um remake com os recursos técnicos atuais e um roteiro mais nos trilhos. Contanto que não mexessem na trilha sonora.

E sabe que pensando agora, Elba Ramalho (conservadona!) poderia muito bem ainda ser a Margot. Memorável o catfight dela com Claudia Ohana.

Ouve da filha do cafetão alemão: “Max, quem é essa senhora? É a sua mãe?”. Ao que responde de prontidão: “Eu sou a gostosa que dorme com ele tooooda noite!”, e partem pra resolver a pendenga cantando “O Meu Amor”.

[Ouvindo: Little Girl Blue – The Fleetwoods]

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11Comentários

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  1. A Claudia Jimenez, não sei, mas Elba Ramalho tinha uns bons 5 anos de carreira como atriz quando fez esse filme.

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  2. Refer, "eram estreantes na profissão em 1979" quando fizeram a peça.

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  3. Eu entendi. E me expressei mal. Quis dizer que, em 1979, Elba Ramalho já tinha uns 5 anos de profissão. Ela começou no teatro por volta de 1974, no Rio. Apareceu em uma peça com Madame Satã (aquele, o original).

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  4. Refer, sim! Acho que mais do que isso. Ela tinha uma banda de rock em sua terra.

    Segundo o que ela contou ao programa Ensaio em 1992, no Rio ela não conseguiu emprego por um bom tempo. Dormia até na praia, ao relento.

    Pegou o pau de arara e voltou pro Nordeste. Daí, num belo dia.... TCHARÃ!

    O Chico ligou pra ela a convidando a participar na nova peça que ele estava montando: Ópera do Malandro!

    A versão para a peça de O Meu Amor, em dueto com a Marieta é sua primeira gravação em disco! Por tanto, uma principiante.

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  5. Isso é tudo folklore.

    Não teve pau-de-arara, vida de retirante, nada disso na vida de Elba. Ela é de classe média alta, jamais viu um carcará, um mandacaru. A sertaneja do agreste paraibano é uma imagem inventada que ela adotou.

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  6. Refer, provavelmente! Comentei o que ouvi ela mesma dizer.

    Enfim, foi esse espetáculo que a fez ser reconhecida do grande público.

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  7. AMO este filme mesmo com todas suas tosquices e problemas. Edson Celulari é uma das piores ecalações de todos os tempos. Geni foi pro escateio. Mas eu babo em Elba.

    Uma refilmagem realmente seria interessante, faz uns dois anos acho assisti uma montagem da peça e achei o tema ainda muito atual. Mas dá um medo de pensar nas mãos de quem pode cair uma nova versão. Tremo ao imaginar a escalação da Daniele Winits pro papel da Ludmila.

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  8. Tenho de esclarecer que eu gosto de ELba Ramalho, tanto que há até uns dez anos eu sabia fazer uma imitação dela muito boa.

    Também, não queria jogar na cara de vcs que eu tenho uma foto grande de Elba 'vestida de índia', isto é, nua, clicada por Linda Conde, que jamais foi publicada.
    :D

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  9. Leo, verdade! Geni vira um personagem mirradinho!

    Estava discutindo isso ontem com uma amiga no Twitter... Qualquer periquita Made in Malhação seria a Ludmila. E se bobear, Wolf Maya na direção! Toc, toc, toc!

    Refer, e você deletou a boa imitação da sua mente? Vou te cobrar isso até a morte! hahahahahahahahahaha

    E ce colocou a Elba de Índia adornando a parede da sala?

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  10. A Ópera do Malandro é uma das minhas peças brasileiras preferidas!

    Musical 100% nacional. E ainda do CHICO! E ainda com Marieta e Elba.

    Junto com "O beijo no Asfalto" do Nelson Rodrigues e "O Corsário do Rei" do Augusto Boal são aquelas peças que eu daria tudo pra ter assistido a montagem original. Comprei o LP (duplo) da peça por 7 reais! Lindo, e a capinha que envolve o disco é uma nota de dinheiro brasileiro antigo! *.*

    Nunca vi o filme e depois do seu post não quero ver não... Geni jogada pra escanteio? Pra mim ela é o centro da narrativa na peça, o personagem que faz tudo acontecer! Linda, ainda tem o solo cantando "Geni e o Zeppelin".

    Uma refilmagem seria uma boa ideia, mas com bons atores-cantores! E que não fosse da Globo Filmes, FGS!

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  11. Pri[s], assista! São duas coisas bem distintas!

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